Pesquisa mostra que alunos valorizam docente que saiba estabelecer diálogo, além de dominar a disciplina
Por Vinícius de Oliveira – Porvir
Ter um professor que saiba criar uma relação pessoal e de respeito, além de demonstrar domínio do conteúdo é uma das razões importantes para reter os alunos no espaço escolar. Esse é um dos destaques da pesquisa “Juventudes na escola sentidos e buscas: Por que frequentam?” (clique para baixar), feita pelo MEC (Ministério da Educação), OEI (Organização dos Estados Interamericanos) e Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais). No trabalho, a análise da escola foi feita por meio dos jovens, que avaliaram se suas expectativas de vida podem ser atendidas dentro do ambiente escolar.
O levantamento envolveu entrevistas com 8.283 alunos, com idade entre 15 e 29 anos, de ensino médio, EJA (Educação de Jovens e Adultos) e Projovem Urbano do Pará (Belém e Ananindeua), Bahia (Salvador e Feira de Santana), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro e Volta Redonda), Paraná (Curitiba e Ponta Grossa) e Mato Grosso (Cuiabá e Rondonópolis). Para dar conta do processo, ainda foram criados grupos focais para aprofundar alguns temas como a importância das relações interpessoais na escola, racismo e a conjuntura do país.
“Os estudantes dizem que ficam na escola quando têm um bom professor. E um bom professor para eles é aquele que sabe a matéria e sabe conviver, respeitar o aluno e cuidar a individualidade”, diz a socióloga Miriam Abramovay, coordenadora da pesquisa. De acordo com ela, é o professor que faz com que o aluno goste de uma determinada matéria e esse argumento pode ser justificado pela grande variação entre as disciplinas que os alunos demonstravam maior interesse.
Esse destaque saído das entrevistas, segundo Abramovay, pode ajudar a explicar os motivos que levam um aluno a deixar os estudos de lado. “Eles abandonam a escola quando não têm nenhum professor que possa escutá-los ou confiar”, diz.
Por isso, ter altas expectativas sobre o futuro também é um desafio para esses alunos. Entre aqueles entrevistados, 46% afirmam que os professores dizem que eles serão bons profissionais. No entanto, 10% dos jovens consideram que seus professores pensam que eles não têm futuro. O mesmo percentual afirma que os professores não se interessam por seu futuro. Segundo Abramovay, adultos carregam uma visão muito negativa sobre esses jovens e “a escola reproduz isso também”.
Dentre os estudante do sexo masculino da EJA, por exemplo, 74% já abandonaram a escola pelo menos uma vez, sendo que, desses, 49% saíram e voltaram a estudar mais de uma vez. O abandono acontece principalmente pela necessidade de se sustentar, mas até no ensino médio regular, quase 30% dos alunos já pararam de estudar pelo mesmo motivo.
Entre estudantes do sexo feminino, os números são mais baixos: uma em cada quatro alunas dentro das categorias de ensino da pesquisa já deixaram de estudar para trabalhar. No caso delas, gravidez e ter que trabalhar são mais mencionados como motivos para terem alguma vez deixado a escola. “A maior parte diz que vai continuar estudando. Eles querem ser alguém na vida, conciliar trabalho e estudo”, afirma Abramovay. Para os que estão no programa Projovem Urbano, a situação é vista como a última oportunidade para estudar.
Visão da sociedade
Para os alunos entrevistados, o principal problema do país é a violência (20%). A pobreza aparece em segundo lugar (16%), seguida pela corrupção (15,7%). A qualidade da saúde é a quarta maior preocupação (12,3%). A qualidade educação aparece em quinto lugar, sendo mencionada 5,6% dos estudantes.
Outros números:
– 85% dos entrevistados são contra o aborto;
– 85,3% são contra a legalização das drogas;
– 52,5% são contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo;
– 71,6% são favoráveis às cotas para negros e índios indígenas nas universidades públicas;
– 88,3% são favoráveis às cotas para egressos das escolas públicas nas universidades públicas;
– 70,6% são favoráveis à redução da maioridade penal para 16 anos;
– 67,6% são favoráveis à pena de morte em caso de crimes graves;
– 18,1% das alunas dos ensino médio, do EJA ou do Projovem Urbano já pararam de estudar por motivo de gravidez.
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