Por Marina Baldoni Amaral
Movimentos sociais das mais diversas matrizes se reuniram na manhã de sábado (23) no auditório Araújo Viana, em Porto Alegre, para aprovar a Carta do Fórum Social Temático 2016, que aconteceu durante toda a semana. Os movimentos destacaram a importância da articulação entre as diversas pautas como principal estratégia de resistência e transformação social.
Na assembleia foram pontuados temas abordados ao longo do fórum, como economia solidária, educação popular, luta anti-manicomial, direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, das mulheres, dos negros e negras, da população LGBT, indígenas, quilombolas, luta do povo palestino, luta pela democratização da comunicação, mobilidade urbana, direito à moradia, entre outros. Foi lembrada também a tragédia ocorrida em Marina (MG) com o rompimento da barragem da mineradora Samarco (Vale e BHP).
Outro ponto reforçado nas falas foi e necessidade de defesa da manutenção dos mantatos de governantes eleitos democraticamente no Brasil e na América Latina. “Não vai ter golpe, vai ter luta”, disseram muitos dos presentes que usaram o microfone para fazer contribuições à carta do fórum. O documento é construído de forma coletiva e todas as propostas e moções foram encaminhadas para a equipe de sistematização, que irá incluí-los na versão final. A Carta do Fórum Social Temático 2016 estará disponível a partir de terça-feira (26) no site do evento.
O sociólogo e professor Boaventura de Sousa Santos, da Universidade de Coimbra e da Universidade Popular dos Movimentos Sociais (Upms), avalia que foi importante a realização deste fórum diante da atual conjuntura global: “saímos daqui com muito mais força, mais seguros dessa força e mais conscientes dos perigos e das dificuldades, dos obstáculos e dos inimigos contra quem temos que lutar”.
Boaventura, que participa ativamente do fórum desde sua primeira edição, em 2001, fez um balanço desses 15 anos. Para ele, o FSM surgiu em um tempo de esperança. “Estávamos no único continente onde era possível se falar em socialismo do século 21”, disse, se referindo a onda de eleições de governos progressistas que ocorreu na América Latina no início do século. E destacou que uma das vitórias do FSM foi sustentar e articular os movimentos sociais que foram a base das políticas sociais desses países.
Ele avalia também que em 2001 “fazíamos lutas ofensivas”, um contraponto ao Fórum de Davos, buscando construir uma simetria de forças entre o mundo real, neoliberal, o “outro mundo possível”. Essa simetria não se sustentou: “Em 2016 fazemos lutas defensivas”, disse. Ele avalia que, depois que os movimentos populares chegaram ao poder, “concluíram que tinham um amigo no governo e descansaram”. “É preciso defender, mas a melhor maneira de defender é atacar”, disse. E concluiu: “Não podemos deixar que nos esqueçam. Nós não podemos esquecer de nos próprios”.
O próximo Fórum Social Mundial vai ser no Canadá, em agosto de 2016. É a primeira edição que ocorre em um país do norte global.
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