Por Marina Baldoni Amaral
Mesa de convergência sobre Democracia Econômica, no Fórum Social Mundial Temático, que acontece em Porto Alegre desde o dia 19, reuniu intelectuais, ativistas e políticos para discutir econômica solidária e a ordem econômica atual. Os participantes destacaram a importância da convergência entre lutas e movimentos sociais para construção de uma alternativa econômica e social.
O economista e professor Paul Singer, secretário nacional de Economia Solidária (Senaes), era aguardado pelo público presente, que encheu o auditório Araújo Viana, e pelos companheiros de mesa, que em suas falas defenderam a permanência da Senaes, ameaçada por cortes de pastas no governo federal.
Singer falou que, para defender a Economia Solidária, é preciso questionar a origem histórica do capitalismo. “Ele caiu do céu?”, perguntou, e seguiu em uma breve aula de história econômica. Singer falou do surgimento do capitalismo com a revolução industrial e a privatização dos meios de produção. Ele defendeu um modelo de sociedade em que os meios de produção sejam socializados: “a terra, os recursos naturais e minerais e seu sistema de administração têm que ser coletivos, porque não são de ninguém”, afirmou. “Temos que mudar para que o clima não nos assassine”, defendeu, lembrando do impacto climático do capitalismo.
Elena Corumbá, da Rede Feminista de Economia Solidária, destacou o lugar das mulheres na Economia Solidária e a necessidade de aliar a causa à movimentos sociais de todo o mundo, como a luta feminina: “a economia feminina qualifica a ideia da economia solidária”, disse.
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos abriu sua fala trazendo ao palco Paulo Barbosa, da Rede Mocambos, participante do FSM que, pouco antes da facilitar uma das mesas do dia, foi abordado por policias no Parque da Redenção por “atitude suspeita”. Barbosa é negro. “Tenho atitude suspeita desde que nasci, tenho atitude suspeita todos os dias”, disse ele, que seguiu para uma delegacia com para registrar boletim de ocorrência por racismo institucional.
Dezenas de pessoas que estavam no fórum cercaram os policiais e pressionaram até que Barbosa fosse liberado. “Se todos reagissem assim em situações como essa, o mundo seria diferente”. Boaventura lembrou que outros jovens negros e indígenas não têm quem os defenda quando são vítimas de brutalidades.
“Democracia e capital são incompatíveis”, afirmou o sociólogo. Ele avalia que atravessamos um momento difícil que obriga uma articulação entre os movimentos sociais. “É preciso ampliar nossas alianças em uma luta que não seja apenas dos ativistas da Economia Solidária”, e citou a necessidade de dialogar com movimentos de indígenas, negros, mulheres, camponeses e a luta anti-manicomial.
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