Por Marina Baldoni Amaral
Na mesa de convergência Globalização, desigualdade e crise civilizatória, intelectuais e representantes de movimentos sociais fizeram um balanço dos 15 anos de Fórum Social Mundial (FSM) e do cenário internacional nos dias de hoje.
Boaventura de Sousa Santos, sociólogo português da Universidade de Coimbra e da Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS) colocou em pauta a decisão tomada pelo FSM, desde sua primeira edição em 2001, de não firmar posicionamento político. “Qual é a tragédia dessa decisão?”, questionou. “Quem vai participar se aqui nada se decide, não se toma decisão?”, afirmando que isto esvazia o Fórum. Ele propõe que se crie uma estrutura paralela para tomada de posicionamentos que possuam um mínimo de consenso, citando a defesa da homologação de terras indígenas no Brasil como exemplo de pauta que poderia ser defendida pelo FSM.
Ele lembrou que no início do FSM, havia uma divisão entre os que lutavam contra o neoliberalismo e os que lutavam contra o capitalismo. Os que lutavam contra o sexismo e aqueles que eram contra o colonialismo, reforçando que “capitalismo, sexismo, colonialismo e racismo atuam em conjunto”, e destacou a necessidade de articular essas lutas.
O sociólogo avalia que, até 2011 “a rua era o único espaço público não ocupado pelo interesse financeiro”, mas hoje, a esquerda não tem mais o monopólio da rua, se referindo ao esvaziamento de movimentos sociais após a eleição de governos progressistas no continente. “A gente se distraiu, e a direita aprendeu melhor com nossos erros do que nós próprios”, disse.
A diretora da Flacso Brasil, Salete Valesan Camba, que facilitou a mesa, avalia que o FSMT de 2016 é um novo momento para “entender essa realidade e criar estratégias de luta”. Ela afirmou, citando Paulo Freire, que “o oprimido se liberta do opressor quando utiliza as mesma armas: o conhecimento, o debate o diálogo e o fortalecimento das lutas”. Camba avalia que é a força dos movimentos que “garante e permite um Estado democrático de verdade”, e pediu integração entre os povos da América Latina.
O jornalista austríaco Leo Gabriel avalia que 15 anos depois do primeiro Fórum, a Europa vive uma “convulsão social, política e ideológica”. “Hoje venho aqui falar de um continente divido: por um lado os que não querem os estrangeiros, sobretudo os que vem do sul, e do outro, os que apoiamos os milhares de refugiados”. Ele destacou os aprendizados das lutas de povos originários por autonomia, autogestão e identidade e disse que é preciso quebrar a estrutura vertical, “que sempre foi a aposta dos imperialismos, para construir um Estado multiétnico, multicultural e construído de baixo”.
A argentina Cristina Reynold, da Aliança Internacional de Habitantes (AIH), afirmou que a globalização já não gera desalojamentos, gera despejos: “Estamos sendo despejados pela guerra, pela xenofobia e pela ganancia. Despejados não só de casa, mas da vida”. Socorro Gomes, do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) avalia que passamos por uma “crise civilizatória” e reforçou a necessidade de se lutar pelo direito de defesa dos povos, fazendo um contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos.
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