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Trabalho, gravidez e ensino desinteressante empurram jovens para fora da escola, mas bons professores podem fazer a diferença

Por Antônio Gois, do Globo

Desinteresse pela escola, necessidade de trabalhar e gravidez/filhos. São esses os três fatores que mais aparecem em pesquisas que investigam por que os jovens abandonam os estudos. A mais recente delas foi publicada no livro “Juventudes na Escola, Sentidos e Buscas: Por que Frequentam?”, organizado pelo MEC, Organização dos Estados Ibero-Americanos e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.

A pesquisa entrevistou 8.283 jovens, em cinco capitais e em outras cinco cidades com mais de 100 mil habitantes, que estudam no ensino médio regular, na educação de jovens e adultos (antigo supletivo) ou no programa Projovem Urbano. Em geral, a necessidade de trabalhar (28% das respostas) foi a razão mais citada, seguida de questões de família (21%) e gravidez (11%). Se somadas as respostas que apontavam para o ambiente escolar (não gostar de estudar, problemas na escola, ensino desinteressante ou colégio violento), o percentual foi de 19%.

Como era de se esperar, esses indicadores variam de acordo com sexo e modalidade estudada. Para homens, a necessidade de trabalhar foi sempre a razão mais citada. Para mulheres, as causas mais apontadas foram sempre a gravidez e questões de família, resposta que está diretamente ligada à maternidade ou necessidade de trabalhar para sustentar a família. Esta relação, explica Miriam Abramovay, uma das coordenadoras da pesquisa junto com Julio Waiselfisz e Mary Garcia Castro, apareceu com frequência nas entrevistas qualitativas feitas com grupos de jovens.

Os dados da pesquisa sinalizam mais uma vez que há questões externas à escola, que escapam ao controle de professores e diretores, e que acabam por influenciar no fracasso do aluno. Ao mesmo tempo, há também problemas que precisam ser corrigidos dentro do ambiente escolar e que empurram uma parcela dos jovens para fora da sala de aula. É claro que esses fatores externos e internos estão muitas vezes correlacionados, pela junção do desinteresse pelo estudo com a necessidade de trabalhar e cuidar dos filhos.

Outros estudos que traçaram um perfil do jovem que abandona a escola detectaram que o atraso escolar e a repetência são dois fortes fatores a prenunciar a evasão. No caso da repetência, um dado surpreendeu os pesquisadores: a maior parte dos jovens (40%) diz que a repetência é motivada principalmente pela falta de esforço dos próprios estudantes.

Para Miriam Abramovay, o dado reflete uma visão “adultocêntrica” e negativa que os jovens têm de si próprios: “Muitos desses jovens não veem a escola de qualidade como um direito. É como se fosse um favor. E, quando o aluno repete, a culpa é dele mesmo, que não se comportou bem. Falta uma visão crítica de exigir que a escola seja boa”.

Para a pesquisadora, porém, a principal constatação da pesquisa apareceu nas entrevistas qualitativas. Os jovens relataram com frequência que gostavam ou não de estudar uma determinada disciplina não por causa do tema ensinado, mas, principalmente, pela qualidade do professor. “Gostar ou não de uma disciplina não tem relação só com essa disciplina. Tem relação principalmente com a atitude do professor. Ele é reconhecido pelos jovens como um agente fundamental para reter o aluno na escola”, resume Miriam Abramovay.