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Por Marina Baldoni Amaral

Conversamos com as autoras do livro Juventudes na escola, sentidos e buscas: Por que frequentam?, as pesquisadoras da Flacso Brasil Miriam Abramovay e Mary Garcia Castro, que publicaram a obra em coautoria com o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, também da instituição.  A obra, lançada em novembro em parceria com a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) e o Ministério da Educação (MEC), aponta que uma boa relação com professores contribui para que os estudantes permaneçam na escola e pode influenciar suas escolhas profissionais. O estudo completo está disponível na biblioteca virtual da Flacso.

A pesquisa apresenta motivos que levam alguns estudantes a permanecerem na escola e outros, a abandonarem. A metodologia utilizada buscou escutar essas narrativas e olhares sobre o contexto escolar e o que os jovens pensam em relação às políticas públicas relacionadas à educação. O objetivo é conhecer quem são as pessoas que frequentam a escola e assim identificar o lugar da escola na produção do conhecimento, o clima escolar, as relações com os professores e entre os alunos.

As entrevistas foram realizadas com estudantes do Ensino Médio, do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem Urbano) e do projeto de Educação de Jovens e Adultos (EJA), em escolas públicas. A maioria dos entrevistados vem de famílias com rendimento médio mensal de até três salários mínimos.

A partir do conceito de juventudes, no plural mesmo, Miriam Abramovay explica que “‘juventude” é “um conjunto muito diferente de pessoas, com dificuldades, facilidades e nível de estudo variados”. Segundo ela, é preciso considerar questões como classe social, gênero, raça-cor e contexto histórico. “As juventudes são um conjunto social muito diverso”, diz.

Para Mary Garcia Casto, a escola “é ou deveria ser um dos principais lugares de socialização para a vida em sociedade, para cultivo da solidariedade, para o saber viver de forma gregária e com respeito ao outro e a outra”, estimulando o pensamento crítico e o gosto por conhecimento “além da comum busca por formação, informação e um diploma”, uma exigência do mercado de trabalho. Mas para ela, a escola pode também “colaborar para um bem viver consigo e identificar como o conhecimento pode significar prazer”.

O estudo buscou explicar, justamente, o que leva alunos e alunas a continuarem frequentando as salas de aula. Os três autores têm um histórico de produções críticas à escola, como explica Garcia Castro, “mas acreditamos que outra escola é possível”. Defendem que o ambiente escolar e os estudos são importantes para o combate às violências destes tempos e também para uma boa convivência pessoal e com outras pessoas, além da importância de se descobrir “as potencialidades do saber” como uma motivação para estudar: “os jovens que permanecem na escola o fazem por obrigação, por imposição e muitos outros deixam a escola”, comenta Garcia Castro.

Para Abramovay, diversas causas estão relacionadas ao abandono da escola, como a necessidade de ingressar no mercado de trabalho, alunas que vivenciam uma gravidez e questões de violência, principalmente entre homens. “Os jovens que continuam frequentando as aulas “têm consciência que permanecer na escola é fundamental para seu futuro”, explica. São estudantes que “querem alguma estabilidade e têm muita consciência que isso se dá através do estudo. Muitos querem fazer universidade, e estudantes mais pobres e com menor escolaridade sabem do esforço que fazem para isso. Isso é muito importante na relação juventude-escola, porque por muitos anos se acreditava que os jovens não davam importância para a escolaridade”, avalia.

As entrevistas mostram que jovens que abandonaram a escola, quando voltam, são alguns dos que mais se referem a ela de forma positiva, indicando que perceberam que ela é necessária “quer para fins pragmáticos, instrumentais – como ter um emprego – quer pelo clima de sociabilidade e de socialização que ela pode possibilitar” diz Garcia Castro.

Preconceitos e Senso-Comum

Uma das perguntas elaboradas foi: “Quem você não gostaria de ter como colega de classe?”. No topo dos grupos de identidade apontados como preteridos estão travestis (7,1%), e homossexuais (5,3%). “Temos que pensar o que as escolas estão fazendo e porque elas não dão conta da questão da homofobia, que é tão forte na nossa sociedade e que a escola não consegue trabalhar”, avalia Abramovay. Ela conta que a tendência é de que não se fale de temas considerados “tabus” na nossa sociedade como questões relacionadas a gênero e sexualidade.

Garcia Castro aponta que não faz parte do projeto da escola a construção de um conhecimento para pensar por si e questionar o conteúdo disseminado pela mídia, redes sociais e outros meios de comunicação. Embora na pesquisa a maioria dos jovens indique que a escola deveria discutir sobre preconceitos, “nos debates sobre temas polêmicos relacionados às identidades e reconhecimentos de direitos – como cotas, racismo, homofobia, aborto, maioridade penal e outros – predomina a reprodução de valores de senso comum, por achismos e preconceitos”.

Relação com Professores

As autoras apontam a importância da relação dos estudantes com os professores como uma das principais descobertas.  “Se eles têm um professor de alguma matéria que ensina bem e que, além disso, escuta e tem uma boa relação com os alunos, eles permanecem na escola”, diz Abramovay. A descoberta demonstra que os alunos “querem aprender e precisam de uma boa relação com os adultos nas escolas para isso”.

E para Garcia Castro, os professores “não se dão conta do seu poder na história de vida de jovens”. Outra questão importante levantada é que muitos alunos e alunas escolhem uma carreira porque o professor daquela disciplina “é ‘maneiro’, ou ‘me despertou para a sociologia, mas mudaram o professor e não quero mais saber de ser professor disso não, é muito chato’”, relembra a pesquisadora sobre os discursos coletados durante o estudo.

Gênero

Gravidez, responsabilidade de cuidar da família, orientação sexual, sexismo e sensação de insegurança no trajeto até a escola são dimensões presentes em testemunhos de jovens mulheres, em especial do ProJovem Urbano, para um dia ou várias vezes terem que ter deixado a escola.

A divisão sexual do trabalho que leva muitos homens a serem considerados como provedores e as mulheres as cuidadoras no doméstico está presente também nos discursos de jovens homens, que deixaram de estudar para “sustentar” a família. Garcia Castro afirma que, apesar disso, a questão de gênero vem deixando “uma outra sutil marca”: “a determinação de muitas jovens mulheres em enfrentar aquelas barreiras e voltar a estudar”.

Ela destaca também que convivências hostis que têm como base preconceitos gênero, como a discriminação a estudantes LGBT, são um dos fatores que “podem levar o/a jovem a abandonar a escola”.

Trabalho

A pesquisa mostra que o trabalho é um impulsor básico nas trajetórias escolares, tanto para continuar ou voltar a estudar, como para abandonar a escola. Garcia Castro ressalta que, em muitas sociedades, exercer uma atividade profissional não compete com a continuidade da educação formal. O trabalho “se equaciona com os estudos, por meio de estágios e atividades de meio tempo não muito cansativas, possibilitando uma integração entre aprender na escola e aprender com o trabalho”, diz. No Brasil, especialmente em camadas pobres da população, ele se torna “um empecilho ao bem estudar”. “Jovens que estudam e trabalham chegam à escola, em especial se estudam à noite, cansados. Não podem continuar os estudos e fazer tarefas depois do turno escolar”, explica.

Hoje, uma outra incompatibilidade na combinação bem estudar e trabalhar é o tempo gasto em deslocamentos casa – trabalho – escola, destaca a autora. O aluno chega na escola cansado e “faz de conta que se estuda”, diz. “Os professores, até por sensibilidade com as dificuldades de vida dos alunos que trabalham, fazem de conta que ensinam, limitando-se a transmitir um conhecimento que não exija pesquisas e atividades além das classes”, conclui.