Sete das 10 primeiras universidades da lista de consultoria britânica, inclusive a primeira, são chinesas; USP e Unicamp perderam posições.
Thiago Guimarães
Da BBC Brasil em São Paulo
Em meio a um dos momentos de maior fragilidade da economia brasileira em relação ao bloco dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o país caiu no ranking das principais universidades do clube dos grandes países emergentes, divulgado nesta quarta-feira (8) pela consultoria britânica QS.
Das 40 instituições públicas e privadas brasileiras classificadas entre as 200 melhores dos Brics, 27 perderam posições no ranking, 12 avançaram e uma foi listada pela primeira vez, na comparação com a edição de 2014 do estudo. Ao todo, 404 instituições foram ranqueadas.
Líder entre as brasileiras, a USP caiu da sétima para a nona colocação. A Unicamp deixou o top 10 – foi da nona para a 12ª posição.
O domínio é das universidades chinesas: mais de um quarto das instituições na nova edição do ranking – e 39 entre as cem primeiras – são do país asiático. A China conta ainda com sete das universidades no top 10, entre elas a Universidade Tsinghua, a primeira da lista.
O Brasil tem 18 instituições no top 100, ante 20 da Rússia, 15 da Índia e oito da África do Sul.
“A concorrência está ficando mais acirrada. As nações dos Brics e, em particular, a China, estão acelerando investimentos e melhorias no ensino superior. Universidades chinesas estão produzindo mais pesquisa e isso está começando a ter um impacto, apesar de ainda ficarem atrás das potências de pesquisa do Ocidente”, afirmou à BBC, por e-mail, o chefe de pesquisa da WS, Ben Sowter.
Peso dos indicadores
O ranking dos Brics avalia oito indicadores. Os de maior peso são a reputação acadêmica, baseada em pesquisa global com especialistas da área (30% da nota), reputação entre empregadores (20%) e proporção professores/estudantes (20%).
Os demais quesitos são número de professores com doutorado (10% da nota), publicações por professor (10%), citações a publicações (5%), professores internacionais (2,5%) e estudantes internacionais (2,5%).
No cômputo geral, as universidades brasileiras só melhoraram em reputação acadêmica e reputação entre empregadores (19 instituições subiram nos dois quesitos). Nos demais indicadores, o número de instituições que pioraram a performance superou a soma daquelas que melhoraram.
Em professores com doutorado, por exemplo, 26 universidades brasileiras recuaram no ranking. Em publicações por professor, 35 das 40 instituições brasileiras do top 200 perderam posições.
USP e Unicamp
Para o reitor da USP, Marco Antônio Zago, os resultados do ranking da WS mostram, ao lado de outros estudos, que a universidade “ocupa lugar de destaque entre mais de 16 mil universidades no mundo”.
Zago também citou, em contato por e-mail com a BBC Brasil, o “excelente desempenho” da USP em áreas específicas, como medicina, ciências sociais e administração, artes e humanidades.
Coordenador-geral e vice-reitor da Unicamp, Álvaro Crósta disse avaliar a flutuação da universidade no ranking como “natural”, algo que “expõe o ambiente competitivo que se instalou nesses rankings”.
Crósta, contudo, reconheceu que o predomínio de instituições chinesas é consequência direta de altos investimentos feitos pelo governo chinês em certas instituições, quadro que contrasta com as restrições orçamentárias vivenciadas por instituições públicas de ensino superior no Brasil.
A pesquisa também confirmou o baixo nível de internacionalização das universidades brasileiras. A PUC-Rio, por exemplo, melhor colocada nacional para estudantes internacionais, ficou em 96º lugar nesse critério.
“Para competir nesse quesito [internacionalização], temos que oferecer cursos em outras línguas, o que demanda investimentos em treinamento docente e de pessoal e discussões sobre normas internas”, disse Crósta, da Unicamp.
Para Sowter, da consultoria responsável pela pesquisa, o cenário de cortes na educação verificado em 2015 no Brasil ainda não se manifesta plenamente no ranking – o que pode significar novos recuos na próxima edição do estudo.
As demais universidades brasileiras no top 50 do ranking dos Brics são UFRJ (25º lugar), Unesp (27º), Unifesp (37º), UFMG (41º),UFRGS (42º), PUC-SP e PUC-Rio (ambas no 47º lugar).
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