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Entre principais quesitos de ranking – que neste ano teve USP e Unicamp nos primeiros lugares – está avaliação com base em consulta a acadêmicos e empresas.

USP ficou em 1º lugar no ranking das melhores universidades da América Latina (Foto: Wikimedia Commons)

USP ficou em 1º lugar no ranking das melhores universidades da América Latina (Foto: Wikimedia Commons)

Novamente número 1. A Universidade de São Paulo (USP) voltou a ser escolhida como a melhor da América Latina.

É a quinta vez que a maior universidade pública do Brasil recebe a láurea desde que a consultoria de educação superior Quacquarelli Symonds (QS) começou a publicar o ranking em 2011.

Em apenas um ano – 2014 – a USP foi superada por outra instituição: Pontifícia Universidade Católica do Chile  (UC), que desta vez ficou em terceiro lugar.

Três universidades brasileiras (USP, Unicamp e UFRJ) e duas chilenas (UC e Universidade do Chile) ocupam o “top 5”.

Completam a lista das dez melhores universidades mais duas brasileiras (Unesp e UnB), duas mexicanas e uma colombiana.

Enquanto isso, na compilação das 100 melhores instituições de educação superior da região, o Brasil lidera com 18, seguido pela Argentina, com 15 e o Chile, com 14.

Mas em que se baseia este ranking?

Para obter a resposta, a BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, consultou a responsável pela lista, a QS, sediada em Londres, no Reino Unido.

A empresa se dedica a promover universidades e em 2004 criou um ranking das melhores instituições de ensino em todo o mundo.

O enorme interesse gerado pela lista levou a consultoria a criar compilações regionais, como é o caso do levantamento latino-americano, cuja publicação teve início em 2011.

Critérios

UC do Chile caiu duas posições por menor taxa de proporção entre professores e alunos (Foto: Wikimedia Commons)

UC do Chile caiu duas posições por menor taxa de proporção entre professores e alunos (Foto: Wikimedia Commons)

Martin Juno é o analista responsável pelo ranking latino-americano.

Juno explica à BBC Mundo que sete “indicadores” são usados para montar a lista.

Os dois primeiros são os mais importantes, respondendo por 50% da pontuação recebida por cada universidade.

Eles refletem a reputação da instituição de ensino, tanto entre outras universidades internacionais quanto entre empresas que empregam os recém-graduados.

Para medir tais parâmetros, o QS diz entrevistar mais de 50 mil acadêmicos e 13 mil empregadores em todo o mundo.

Os outros cinco indicadores têm menor peso (10% cada).

Um deles é a proporção entre alunos e professores.

Segundo QS, sete critérios são usados para montar compilação

Outro envolve a quantidade de professores que possuem doutorado.

A consultoria também dá especial valor ao tema da pesquisa científica e à publicação em revistas especializadas.

Tal indicador é medido avaliando o número de estudos nos quais cada universidade foi citada e quantas pesquisas foram realizadas por cada professor.

Finalmente, a QS avalia a página da universidade na internet, para saber se os estudos acadêmicos estão disponíveis online.

Parâmetros
Juno disse que a posição de uma universidade no ranking é diretamente relacionada com sua “internacionalização”, ou seja, como está conectada com o resto do mundo.

“Quanto mais parcerias internacionais uma universidade tem, melhor ela é”, diz ele.

Mas nem todos concordam com tais parâmetros de qualidade.

Especialista em educação, o chileno Mario Garcés Durán, diretor da consultoria ECO Educación y Comunicación, diz à BBC Mundo que há critérios mais importantes que não são levados em conta na avaliação da QS.

“Essa classificação aplica-se a uma lógica de mercado e não mede o impacto da universidade para a sociedade, que é seu principal valor”, argumenta ele.

Nesse sentido, explica Durán, o ranking não avalia, por exemplo, os projetos desenvolvidos pela universidade para melhorar diretamente a vida dos cidadãos.

“O número de publicações é medido em sites especializados, a que só especialistas têm acesso, e não o número de livros publicados – que são uma contribuição para toda a sociedade”, frisa.

Precarização
UC do Chile caiu duas posições por menor taxa de proporção entre professores e alunos

Outros fatores ignorados pelo ranking são os problemas financeiros enfrentados pelas universidades e a crescente precarização de trabalho dos professores.

Nesse sentido, a situação da Universidade de São Paulo (USP), escolhida mais uma vez a melhor da região, é paradoxal.

Embora seja a maior universidade pública do Brasil, com cerca de 90 mil alunos, a USP passa por uma crise financeira sem precedentes.

Em entrevista ao jornal O Globo, um estudante do terceiro ano de Engenharia Ambiental lamentou a falta de professores.

“Pensei que a universidade teria uma estrutura melhor”, confessou.

Os problemas para pagar os salários dos professores e servidores vêm provocando uma série de greves, que também afetam os alunos.

De acordo com Garcés Durán, esse é um problema comum na América Latina, onde os professores muitas vezes não são contratados de forma permanente.

Importância
Diante de tantas objeções, qual é o peso real dos rankings internacionais de universidades?

Para Jorge Saez, estudante do quinto ano de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Chile (UC), trata-se principalmente de prestígio.

“É claro que é motivo de orgulho ver sua universidade escolhida como a melhor do país e uma das melhores da América Latina”, afirma.

“Mas não é tão relevante internamente, porque todos no Chile sabem qual é a melhor. Ou seja, o ranking em si só revalida a superioridade conhecida por todo mundo”, acrescenta.

Saez brinca que a principal utilidade da compilação foi alimentar a longa rivalidade com a Universidade de Chile (UCH), que no ranking deste ano ficou uma posição abaixo da UC.