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Maria Luisa de Melo
Do UOL, no Rio de Janeiro

Com lixo espalhado pelos corredores, salas de aula e banheiros da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) devido à greve de funcionários, vários alunos e até uma professora decidiram arregaçar as mangas. Munidos de vassoura e pá, eles estão fazendo a limpeza nas salas antes das aulas começarem. São cerca de 10 minutos dedicados à faxina antes da aula.

“Na semana passada, ao entrar na sala, vimos que o chão estava uma nojeira. Eu e uma colega pegamos vassoura e pá no Centro Acadêmico. Tinham muitas garrafas d’água, pacotes vazios de biscoito. Conseguimos limpar em dez minutos. Mas o pior de tudo são os nossos banheiros”, conta a estudante de psicologia Djovana Cruz. “A Uerj tem, no 10º andar, uma universidade para idosos (a Universidade Aberta à Terceira Idade). E os idosos estão impossibilitados até de usarem o banheiro”.

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Banheiro tem lixo acumulado na Uerj (Foto: UOL)

Na Faculdade de Educação, que fica no 12º andar da Uerj, não tem sido diferente. A estudante de pedagogia Jenifer Castro conta que na semana passada uma professora e uma aluna também faxinaram a sala antes da aula começar.

“Não vejo a hora de me formar para acabar com isso tudo. No Brasil é fácil roubar, matar, mas é muito difícil estudar”, reclama Jenifer, sobre as condições precárias da universidade. Além da sujeira, ela cita a paralisação dos elevadores como um dos principais problemas da instituição hoje. Sem salário, alguns ascensoristas também cruzaram os braços.

“No caso dos elevadores, é horrível também. Existem meninas grávidas que não podem subir 24 rampas para chegar ao 12º andar. Uma colega foi assaltada em frente à Uerj e machucou o pé. Ela também não podia subir as escadas. Os professores entendem, mas está cada vez mais difícil estudar”, aponta.

Salas sujas
Responsável pela limpeza da sala na quinta-feira passada, a professora Eneida Simões da Fonseca, 56, conta que sempre teve o hábito de organizar a sala antes da aula. Mas, pela primeira vez, teve que pegar na vassoura.

“Já tenho uma cultura de organizar a sala, porque eu acho que os alunos deveriam ser originariamente educados, ainda mais que a gente está na Faculdade de Educação. Eu costumo tentar dar o exemplo”, conta. “Nesse dia cheguei na sala antes do horário, vi que a sala estava suja e desorganizada. Não é só por causa (da greve) dos terceirizados. As pessoas têm uma cultura de ir largando tudo pelo chão.”

A professora conta ainda que, diante da greve dos funcionários, há uma tentativa do departamento de pagar com seus próprios recursos por um serviço de limpeza eficiente.

“Estamos tentando ver se os próprios recursos da unidade podem cobrir minimamente a limpeza dos corredores e banheiro. Na Faculdade de Educação temos muitas mulheres. Os banheiros femininos já não funcionam muito bem, e, com o não recolhimento do lixo, fica impraticável. Não é porque eu tenho doutorado e pós-doutorado que eu vou ficar olhando de cima as situações. O trabalho do profissional da limpeza é tão importante na universidade quanto o meu”.

Sem prazo para o pagamento
Procurada, a Secretaria de Fazenda informou, por meio de sua assessoria, que “os pagamentos vão começar a ser regularizados em breve”. Mas não informou uma data ou prazo para isso.

Em nota enviada ao UOL, a secretaria citou a crise econômica do Rio, do país, da Petrobras – que teria “80% de suas atividades no Rio de Janeiro” – como os principais motivos para o atraso nos pagamentos.