José Carlos de Santana Junior diz que não tem medo de preconceito.
Condenado a 34 anos de prisão, ele está em presídio de regime fechado.
O tempo que era para ser perdido atrás das grades se transformou em certificado de conclusão do ensino médio e diploma de faculdade. O foco da vez é o curso de pós-graduação. A continuidade dos estudos seria comum se o aluno José Carlos de Santana Junior, 28 anos, não estivesse preso no Instituto Penal de Campo Grande desde 2007.
As adversidades e a privação de liberdade não foram barreiras na busca pelo conhecimento. Ele diz que o objetivo com a pós-graduação é ser coach, profissional que faz trabalho de orientação e traça estratégias para ajudar a desenvolver habilidades e alcançar objetivos.
Condenado a 34 anos de prisão, Santana Junior afirmou ao G1 que não tem medo do preconceito que pode sofrer no mercado de trabalho quando sair da cadeia. Enquanto a liberdade não chega, ele usa o tempo ocioso na cadeia para ler livros e assistir às aulas por videoconferência.
“Entrei aqui com ensino médio incompleto e terminei. Quando surgiu a oportunidade, comecei a faculdade e me formei. Agora estou na pós. Acredito que ainda vai haver muito preconceito quando eu sair daqui, estou ciente disso. Mas é uma coisa que venho trabalhando há muito tempo, como meus valores, princípios. Acho que falta um pouco de amor ao próximo, as pessoas são muito egoístas, pensam só nelas e não olham o outro, mas não me preocupo com o que essas pessoas vão pensar de mim”, refletiu.
Em dezembro de 2014, depois de dois anos de estudo, o jovem se tornou bacharel em processos gerenciais por uma universidade particular de Campo Grande. Há dois meses, é aluno do curso de pós-graduação em coaching e liderança.
Ele foi o primeiro preso de Campo Grande a se formar em curso superior a distância durante o regime fechado e o segundo de Mato Grosso do Sul, de acordo com a Divisão de Assistência Educacional da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen).
Com a pós-graduação, ele se torna o primeiro de Mato Grosso do Sul a cursar essa modalidade de ensino em cadeia de regime fechado, de acordo com a Agepen.
“Acho que quando a gente se baseia no trabalho, na honestidade, na humildade, todas as decisões são mais sólidas. Estou plantando para colher. Acredito que estou fazendo por onde e que minha colheita vai ser muito boa. É a lei da vida, não tem jeito de dar errado se você fizer coisas boas e certas”, ressaltou.
Empolgado com o novo desafio de estudo, Santana Junior faz planos para um futuro próximo. “Estou apaixonado pelo curso. Coaching é o que eu gosto de fazer, porque é o profissional que lida com as pessoas, desenvolve as habilidades de cada um. Pretendo ser um coach num futuro próximo, quem sabe, por que não? E depois ainda penso em fazer uma especialização em psicologia organizacional”, ressaltou.
Preconceito e motivação
Pensando no currículo que construiu dentro do presídio, José Carlos acredita que terá mais chances de inserção no mercado de trabalho quando for para o regime semiaberto. Dentro da cadeia, ele diz que a força de vontade e o interesse nos estudos também motivam outros detentos.
“Vi que a minha formação no curso superior teve repercussão e impacto grande aqui dentro, para os alunos se motivaram mais para seguir nos estudos. Não vi nenhuma repercussão negativa, não escondo meu nome, meu rosto. As críticas sempre vêm, até quando não tem motivo”, refletiu.
As aulas da pós-graduação são todos os dias, durante uma hora. A previsão é acabar o curso em maio de 2016, segundo José Carlos, e a saída do regime fechado deve ser três ou quatro meses depois do fim do curso.
As quatro horas diárias de estudo aliadas a outras seis horas de trabalho ocupam quase metade do dia de José Carlos. Das 6h30 às 16h30 ele administra o tempo entre as aulas de videoconferência, visitas à biblioteca e atividades no setor de educação e parte administrativa da unidade prisional, que desempenha com a supervisão de funcionários da instituição.
A remuneração que recebe ajuda a pagar as mensalidades do curso, como foi durante a faculdade. Além do benefício de ocupar a mente e o tempo, José Carlos também tem a vantagem de diminuir a pena estipulada inicialmente. Estudar e trabalhar renderam a ele remissão de quase 2 anos e 6 meses da condenação inicial.
Colação de grau
No dia 16 de dezembro de 2014, o interno José Carlos de Santana Junior vestiu beca e capelo para receber o diploma de bacharel em processos gerais. O ensino a distância no regime fechado começou há três anos em Mato Grosso do Sul.
A cerimônia de colação de grau foi realizada no pátio do presídio onde ele cumpre pena há sete anos. A mãe e a irmã de José Carlos estiveram presentes no evento, que seguiu o protocolo oficial, com a presença também de representantes da universidade. Diante dos colegas de presídio, que se formavam no ensino fundamental e médio, ele fez o juramento tradicional e assinou o documento de colação de grau.
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