fbpx

Alunos ficaram com 30,2% das vagas no vestibular 2015, diz universidade.
Comissão defende mudanças em programa de bônus para alcançar meta.

Fernando Pacífico
Do G1 Campinas e Região

Estudantes realizam prova de redação na 2ª fase da Unicamp, em Campinas (Foto: Antoninho Perri/Unicamp)

Estudantes realizam prova de redação na 2ª fase da Unicamp, em Campinas (Foto: Antoninho Perri/Unicamp)

As matrículas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizadas por alunos que estudaram integralmente em rede pública no ensino médio caíram 21,4% neste ano, em relação ao vestibular 2014. Este foi o menor número absoluto em sete anos. Segundo a comissão responsável pela organização do exame (Comvest), 997 egressos da rede foram matriculados em 2015 na instituição, contra 1.269 no ano passado.
Neste ano, o percentual de matriculados oriundos da rede pública ficou em 30,2%, índice inferior aos 36,9% registrado em 2014. A Unicamp, contudo, precisa atingir¨a meta de 50% até 2017, conforme determinação do conselho universitário (Consu) e exigência do estado.

Em números absolutos, a menor quantidade de aprovados da rede pública no vestibular da universidade até então havia ocorrido em 2008, com 971. Já no comparativo de percentuais, considerando-se o total de vagas, o menor índice registrado anteriormente foi em 2010, de 29,4%. À época, a Unicamp recebeu 1.003 egressos da rede estadual.

Novo modelo x oscilação
A instituição aplicou pela primeira vez, durante esta seleção, um novo modelo de prova com 90 questões de múltipla escolha durante a primeira fase, incluindo testes interdisciplinares, e também transferiu a redação e as questões de inglês para a segunda etapa. O coordenador da Comvest, Edmundo Capelas de Oliveira, não associou a mudança aos resultados.

“Se a diminuição verificada neste ano é apenas mais uma oscilação ou se representa alguma modificação na tendência de aumento ainda é muito cedo para podermos dizer”, avaliou o coordenador. Ele defendeu, contudo, que houve diminuição percentual de candidatos das escolas públicas que se candidataram à prova – passou de 27,7% para 26,6%. Nesta edição, o vestibular da Unicamp recebeu número recorde de inscrições para o processo, 77.146.
Oliveira considerou ainda que a série histórica mostra diminuições notáveis em alguns anos, sobretudo quando se compara a porcentagem de matriculados com relação ao percentual de candidatos inscritos no vestibular. “Isso ocorreu , por exemplo, em 2012 e 2013. Apesar dessas oscilações, a série histórica apresenta um perfil de aumento da porcentagem de alunos matriculados com relação aos inscritos”, alegou o coordenador.

Meta distante?
Após orientação do governo estadual, o Conselho Universitário (Consu), órgão máximo de deliberação da universidade, determinou que até 2017 a Unicamp atinja índice de 50% de matriculados oriundos da rede pública e 35% de estudantes autodeclarados pretos, pardos e indígenas. Capelas amenizou o resultado deste ano, mas resumiu que estudos da Comvest apontam para a necessidade de alterações no sistema de bonificação da Unicamp, o PAAIS.

Caloura de medicina é recebida com brincadeiras na Unicamp (Foto: Fernando Pacífico / G1)

Caloura de medicina é recebida com brincadeiras
na Unicamp (Foto: Fernando Pacífico / G1)

Na edição 2015, candidatos que se autodeclararam como negros, indígenas ou pardos conquistaram 15,7% das vagas disponíveis na Unicamp, índice inferior aos 18% do ano passado. O percentual de matriculados, em relação ao total de candidatos também diminuiu, de acordo com a comissão responsável pelo vestibular – foi de 17,7% para 12,3%.
“Acreditamos que são necessárias alterações no formato para atingir a meta”, resumiu ao mencionar que as mudanças são estudadas pela comissão, mas devem ser deliberadas pelo Consu antes de aplicadas. O PAAIS bonifica os estudantes que tenham cursado o ensino médio integralmente em escolas públicas brasileiras com 60 pontos (antes eram 30) a mais na nota final do vestibular. Já os candidatos que fizeram a autodeclaração étnico racial como negro, indígena ou pardo ganham, além dos 60 pontos, uma bonificação de 20 pontos.

Mudanças no vestibular e cotas
O G1 questionou a reitoria da universidade, por email, sobre a possibilidade de alterações no programa de bonificação. Contudo, não houve retorno até a publicação desta reportagem.

Para o doutorando em filosofia Teófilo Reis, o sistema de bonificação criado em 2004 é insuficiente para o cumprimento da meta prevista até 2017. Ele defendeu ampliação do debate sobre emprego de cotas raciais para elevar a inclusão social de estudantes.

“A minha percepção é de que não será suficiente. A universidade precisa reconhecer isso e ter uma política radical para cobrir esse atraso na inclusão, ter reserva de vagas nos cursos”, avaliou o estudante que também integra o Núcleo de Consciência Negra da Unicamp.

A assessoria da Unicamp também não comentou sobre o sistema de cotas. Em abril, o reitor da universidade, José Tadeu Jorge, falou ao G1 que cada instituto tem independência para formatar o regimento da pós-graduação, entretanto, sobre a graduação, ele frisou que o PAAIS e o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS) são usados para promover a inclusão social de estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

“Os critérios de seleção da pós-graduação são estabelecidos com base no que cada programa entende mais adequado para selecionar os alunos que gostaria de ter”, afirmou.