Com salário atrasado há 14 dias e sem previsão de receber o pagamento, a auxiliar de serviços gerais do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Kelli Cristina, 36, conta que não tem dinheiro para comprar comida para ela e para duas filhas menores de idade. Além de funcionários terceirizados, professores também relatam atrasos no pagamento.
Ela trabalha há seis anos no hospital e foi uma das funcionárias da empresa terceirizada de limpeza que fizeram greve no ano passado. Na ocasião, o atraso salarial chegou a dois meses.
“Eu trabalhei o mês de dezembro todo e não recebi nada até agora. O pior é que, quando eu questiono minha supervisora, ouço que não tem nenhuma previsão de pagamento”, reclama ela, que esperava ter recebido salário no quinto dia útil deste mês.
“O meu salário de R$ 900 reais é suado. Como moro em Caxias, acordo de manhã bem cedo, pego um ônibus e depois um trem para chegar no trabalho, no Maracanã. E trabalho muito para limpar o setor de ortopedia do hospital. Por isso, é muito injusto chegar a data do pagamento e não receber. É um absurdo passar necessidade estando empregada.”
Depois dos atrasos no pagamento nos últimos meses, Kelli conta que está procurando emprego em outra empresa.
“Minha intenção é sair da empresa que presta serviços para a Uerj o quanto antes, mas ainda não arranjei vaga. O que me deixa mais indignada é que, além dos salários atrasados, ainda ouvimos da supervisora que se fizermos greve ou faltarmos vamos ser demitidos. Eu prefiro ser demitida, porque não estou recebendo mesmo”, denuncia.
Junto com um grupo de funcionários de empresas terceirizadas que atuam na Uerj, Kelli tentou contato com o reitor da instituição, Ricardo Vieiralves, na última quinta-feira (22), mas de nada adiantou.
“Batemos na porta do reitor e ele disse que fez um cheque, mas tem que esperar a Secretaria de Fazenda liberar o dinheiro. Ele ainda disse que fica sentido, mas não pode fazer nada. Ele fica sentido? Só pode ser uma brincadeira. Quem fica sentida sou eu. É na minha casa que está faltando comida. Na casa de pobre pode faltar muita coisa, mas não pode faltar comida. A barriga da gente não espera”.
Pagamento prometido para hoje
Desde o dia 17 de dezembro do ano passado, veio a público uma crise a Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Na ocasião, funcionários da empresa terceirizada de limpeza espalharam lixo pelos corredores do campus Maracanã. Eles estavam com salários atrasados há dois meses. No dia seguinte, o reitor Ricardo Vieiralves informou, em nota, que as dívidas da instituição chegam a R$ 23 milhões. Na mesma época, o Hospital Universitário Pedro Ernesto perdeu cerca de 400 funcionários temporários, segundo estimativa de sindicato que atua na universidade.
Em nota, a assessoria de imprensa da Uerj admitiu que os salários estão em atraso e informou que “emitiu todas as ordens de pagamento (PDs) à Secretaria de Estado de Fazenda para as providências financeiras cabíveis. A promessa, segundo o documento, é que os pagamentos fossem feitos nesta sexta-feira (23). No entanto, apenas os alunos bolsistas contam ter recebido o dinheiro.
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