O MEC divulgou o resultado das notas de redação do Enem de 2014: mais de meio milhão de candidatos zeraram a prova; apenas 250 obtiveram nota máxima em um universo superior a seis milhões de alunos (de 25 mil textos, apenas um recebeu nota mil). O fato é preocupante e merece reflexão, pois a diferença é significativa, se compararmos com os resultados do Enem nos dois últimos anos .
Em 2012, em 4.113.558 textos, tiraram nota zero um pouco mais de 72 mil candidatos; enquanto mais de dois mil obtiveram a nota máxima. Em 2013, em 5.049.249 textos, houve 106.742 redações anuladas e 481 atingiram os mil pontos. Constata-se, portanto, que em 2014, o número de redações zeradas foi quase cinco vezes maior do que em 2013, em que já vigoravam os atuais critérios de correção.
Alguns questionamentos se impõem. Será que piorou assim tão significativamente o ensino da redação no ensino médio e fundamental nos dois últimos anos? Será que o MEC, na tentativa de corrigir os desgastes dos anos anteriores em que foi frouxa a correção, exagerou na dosagem visando moralizar o processo? Será que se pode atribuir os resultados somente à crônica carência de leitura e à falta de exercícios de produção textual dos alunos? Será que não há em nossas instituições deficiências graves no ensino da redação e na formação de quadro de corretores?
O ministro da Educação, Cid Gomes, foi feliz, ao afirmar, mesmo polidamente, que o tema da redação (Publicidade infantil em questão no Brasil) não foi tão debatido pela mídia e pela sociedade brasileira quanto o de 2013 (Lei seca).
Deveria acrescentar que também foi mal formulado com a ambígua expressão “em questão”. Apesar disso, a proposta foi mais pertinente do que o de 2012 em que se criou um factoide ao impor ao candidato a defesa de uma tese sobre um fato irreal, não observado no país “Movimentos imigratórios para o Brasil no século XXI”.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) está a merecer um “puxão de orelhas” do novo ministro. É preciso que haja critérios mais objetivos e mensuráveis na correção, escolha de temas pertinentes à realidade, diálogo permanente entre o instituto responsável pelo Enem e as escolas, os especialistas e os agentes envolvidos com o ensino da redação. Tais iniciativas contribuiriam para se evitarem flagrantes injustiças e disparates na atribuição das notas e para se atingirem, no final, resultados mais fiéis e confiáveis da atual realidade educacional brasileira.
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