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1O último Mapa da Violência de caráter nacional foi divulgado em 2012, mas de lá para cá algumas outras parciais se tornaram públicas. Graças a estes estudos o brasileiro sabe que, atualmente, uma média de 56,5 mil pessoas são vítimas de homicídios todos os anos, o que quer dizer que, a cada grupo de 100 mil pessoas, 29 serão assassinadas nos próximos 365 dias. Os dados são divulgados pelo Ministério da Saúde com o apoio do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Assassinos no interior – Analisando os dados do Mapa da Violência, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), destaca que há um movimento de migração da violência para o interior do Brasil. Isso pode ser confirmado, segundo o estudioso, graças à observação do número de homicídios gerais em cada estado: eles permaneceram praticamente os mesmos nos últimos anos, mas recuou nas principais capitais do País como Rio de Janeiro, São Paulo e Recife.

Explicando o fenômeno, Waiselfisz afirma que, “por um lado, pode-se dizer, sim, que o crime migrou porque foi mais bem combatido nas cidades grandes, mas também foram as relações sociais que se deterioraram. Um grande número de mortes ocorre por desavenças que acabam em brigas e até mesmo em mortes”.

A fuga da criminalidade para o interior, avalia também o sociólogo, está diretamente ligada aos investimentos em profissionalização e aumento na eficiência no combate ao crime que foram implementados nos últimos anos pelos governos dos estados em suas principais cidades. No interior, afirma ele, há lugares onde a polícia ainda age da mesma maneira que há duas décadas. “O que você tem nas pequenas cidades é um contingente policial mínimo, despreparado para lidar com desavenças e que não tem condições de combater qualquer tipo de crime”, afirma.

O governo federal, na tentativa de contribuir para reverter este quadro, lançou o programa Brasil Mais Seguro. O programa tem como principal meta o auxílio aos estados para a qualificação e reciclagem dos profissionais de segurança pública, além da aquisição de novos e melhore equipamentos.

“Para se ter uma ideia, não tínhamos peritos treinados nos equipamentos mais modernos, e graças ao programa montamos laboratórios e a Polícia Federal treinou nossos investigadores”. As palavras são de Diógenes Tenório, secretário de Defesa Social de Alagoas, um dos estados mais perigosos do Brasil e o primeiro a receber recursos e apoio do novo programa.

Para Ruth Vasconcelos, socióloga da Universidade Federal de Alagoas, o problema é racial. Em sua opinião, “o problema é que a política de segurança pública escolheu um inimigo, e claramente ele é o jovem negro, que já é vítima dos lugares mais pobres e violentos, e eles não têm a mesma proteção dos jovens brancos de classe média”.

Segue próximo à tese de Ruth Vasconcelos o deputado federal Edson Santos (PT-RJ), ex-ministro da Igualdade Racial e atual membro da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados. Em seu entender, “claramente, o que precisamos é de uma política de segurança cidadã, e nossos policiais estão sendo treinados cada vez mais nessa perspectiva, para proteger o cidadão e não para matar os bandidos”.

Policiais assassinados – Os especialistas em segurança pública também enfatizam que deve haver, com a máxima urgência, um amplo debate sobre o papel e as ações da polícia no combate à violência.

Dados atualizados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelam que, somente em 2013, quase 500 policiais foram vítimas de mortes violentas em todo o Brasil. Este número chama ainda mais a atenção dos analistas porque em 75,3% dos casos ocorreram quando os profissionais desempenhavam suas funções.

Do outro lado das estatísticas há também a comprovação de que os corpos policiais atuam de forma bastante violenta para responder à violência das ruas. Neste mesmo ano, policiais causaram a morte de 11.197 pessoas. “Em comparação com outros países, os dois dados são alarmantes”, diz Julio Jacobo Waiselfisz .

O deputado federal João Campos (PSDB-GO), membro da Comissão de Segurança Pública da Câmara, esta situação “é muito grave, porque representa quase uma guerra. Até por isso os policiais precisam ser bem treinados e remunerados, para se protegerem e às suas famílias”.