Destes, 13 são integrantes da quadrilha e 15, candidatos.
Bando é suspeito, ainda, de fraudar o Enem deste ano.
A Polícia Civil de Minas Gerais indiciou, no fim da tarde desta terça-feira (2), 28 pessoas por suspeita de fraude em vestibulares, dentre eles o da Faculdade de Ciências Médicas, em Belo Horizonte, e alguns de São Paulo. Entre os indiciados estão Áureo Moura Ferreira e Carlos Roberto Lobo Leite, apontados como chefes da quadrilha, que é investigada ainda de fraudar o Enem deste ano. O inquérito foi enviado para a Justiça.
Onze pessoas da quadrilha foram presas no dia 23 de novembro, durante provas na capital mineira. Um 12º suspeito foi preso no dia 25 de novembro, em Montes Claros, no Norte de Minas. Eles vendiam gabaritos a candidatos ao curso de medicina, e passavam as respostas por micropontos eletrônicos e transmissores de alta tecnologia, comprados na China. Estudantes de medicina, chamados de “pilotos” no esquema resolviam rapidamente as questões e transmitiam o gabarito. Segundo a polícia e o Ministério Público Estadual, a organização criminosa fraudou também o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e os levantamentos referentes ao processo seletivo nacional serão repassados ao Ministério Público Federal.
De acordo com o delegado Antônio Júnio Dutra Prado, do Grupo de Combate a Organizações Criminosas da Polícia Civil, dos 28 indiciados, 15 são candidatos que compraram o gabarito. Eles devem responder por fraude em certame [concurso] de interesse público referente ao vestibular de medicina da Faculdade de Ciências Médicas.
Os outros 13 são suspeitos de integrar o núcleo criminoso, entre eles os dois apontados como chefes, além dos pilotos e de outros colaboradores. Destes, 11 estão presos. O suspeito detido em Montes Claros cumpriu prisão temporária, de cinco dias, e foi liberado. O 13º é um suspeito que, segundo o delegado, ainda não foi preso. A Polícia Civil enviou à Justiça, junto com o inquérito finalizado, o pedido de mandado de prisão desta pessoa.
Os dois suspeitos de chefiar o esquema vão responder por formação de quadrilha, falsidade ideológica, falsificação de documento público e fraude em certame de interesse público. O indiciamento do restante da quadrilha depende da participação de cada um no esquema.
O G1 procurou o advogado Délio Gandra, que defende Áureo e Carlos Leite, mas ele não foi encontrado.
MP deve oferecer denúncia
De acordo com o promotor André Luis Garcia de Pinho, de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de Minas Gerais, após o recebimento dos autos pela Justiça, a intenção dele é oferecer denúncia contra, ao menos, 10 pessoas, incluindo os suspeitos de chefiar a quadrilha. Neste número também estariam incluídos os “pilotos”. “Seria entre 10 e 13 pessoas”, afirma. A identificação dos pais de estudantes que participaram da fraude está em andamento e pode resultar em novos processos criminais.
“Neste primeiro momento, nós vamos cuidar da fraude nas Ciências Médicas. Todas as demais vão ser investigadas em outros procedimentos, nas comarcas onde ocorreram. Sobre a fraude com relação ao Enem, tudo que foi produzido de provas vai ser remetido para o Ministério Público Federal”, afirma o promotor.
O vice-diretor da Faculdade de Ciências Médicas, Marcelo Miranda e Silva, disse que a investigação sobre essa possível fraude não afetou o bom andamento do processo seletivo deste ano, já que os candidatos envolvidos foram todos detidos no dia 23 de novembro, logo após terminarem as provas.
Segundo Miranda e Silva, a investigação e o resultado [indiciamento] é o “maior atestado da segurança do processo”. O vice-diretor informou ainda que a faculdade continua colaborando com a polícia quando necessário.
receber o gabarito durante as provas
(Foto: Reprodução/ InterTV dos Vales)
Como funcionava o esquema
Pelo esquema da quadrilha, os candidatos usavam um microponto eletrônico tão pequeno que era preciso colocá-lo e tirá-lo com um instrumento médico. Estudantes de medicina integrantes da quadrilha eram os chamados de “pilotos”. Eles resolviam as provas no tempo mínimo e depois, transmitiam os dados para os candidatos. De acordo com as investigações, Áureo e Carlos Roberto cobravam até R$ 100 mil por candidato para passar o gabarito.
No caso do Enem, como os candidatos estavam separados, foi usado um dispositivo de telefonia GSM parecido com um cartão de crédito. O gabarito era transferido por celular para todos os candidatos, através do microponto eletrônico, como se fosse uma ligação em conferência. Esta transmissão foi registrada pela polícia. Os equipamentos foram comprados na China, de acordo com a Polícia Civil.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Enem, disse por nota que “solicitou à Polícia Federal informações sobre o caso. O Inep reafirma que qualquer pessoa que tenha utilizado métodos ilícitos para obter vantagens no Enem será sumariamente eliminado do exame, sem prejuízo a outras sanções legais”.
(Foto: Reprodução/TV Globo)
Arrecadação milionária no país
O promotor André Luis Garcia de Pinho, de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de Minas Gerais, afirma que os dois supostos chefes da quadrilha investigada por fraudar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares de faculdades privadas de medicina no país arrecadariam R$ 6 milhões nesta temporada de provas.
“O grupo pretendia arrecadar R$ 6 milhões até o final de janeiro, fraudando vários vestibulares do Brasil, em torno de dois por semana. Este valor é desde outubro e sempre vestibulares de medicina”, afirma o promotor. Segundo ele, o valor seria divido entre Áureo Moura Ferreira e Carlos Roberto Leite Lobo.
A vida de luxo que um dos líderes ostentava foi mostrada pelo Fantástico, em reportagem exibida neste domingo (23). Em imagens gravadas durante a investigação, Áureo Moura aparece em uma Limousine, um Chrysler e fumando charuto. À reportagem do programa, o advogado Délio Gandra, que representa Áureo Ferreira e Carlos Lobo, disse que seus clientes confessaram a fraude, mas não na dimensão dada pela polícia. Eles também assumem chefiar o esquema.
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