Entre as 100 melhores universidades do mundo, de acordo com o ranking Times Higher Education, divulgado no início de Outubro, há 5.425 estudantes brasileiros que obtiveram bolsa pelo programa Ciência sem Fronteiras. O número representa 13,8% dos 39.091 brasileiros, de graduandos a pesquisadores realizando pós-doutorado, que estão atualmente em universidades do exterior por meio do programa do governo.
O resultado vem de um levantamento realizado pelo G1, com as bolsas vigentes e aprovadas até o dia 20 de outubro, a partir de dados disponibilizados pelo próprio programa.
São 3.953 alunos de graduação-sanduíche (ou seja, realizada parte no exterior e parte no Brasil), o que representa 72% dos brasileiros nas instituições “top 100”, mais 854 inscritos em doutorado e 401 bolsistas de pós-doutorado.
No total, são 2.733 universidades no exterior que recebem bolsistas do Ciência sem Fronteiras, oriundos de 850 instituições brasileiras, conforme dados informados pelo Ministério da Educação (MEC).
Para o secretário executivo do MEC, Luiz Claudio Costa, a presença de mais de 5 mil alunos do Programa entre as 100 melhores instituições de ensino superior do planeta é bastante significativa. “Desde o início do programa, foi uma determinação que nós trabalhássemos alocando os estudantes nas melhores universidades do mundo, então esse número que nós temos de 13,8% dos alunos entre as 100 melhores é extremamente importante”, avaliou.
No Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), dos Estados Unidos, eleito pela quarta vez a melhor universidade do mundo, há apenas um brasileiro estudando por meio do Ciência sem Fronteiras, ao realizar uma pesquisa de doutorado. De acordo com a instituição, há um total de cinco estudantes do Brasil atualmente matriculados.
Já na Universidade Harvard, segunda do ranking, estão 87 brasileiros do programa atualmente, sendo 19 de graduação, 25 de doutorado e 37 de pós-doutorado. Em Oxford, na Inglaterra, terceira do ranking, são 37 brasileiros. Stanford, a quarta colocada, tem 17. E Cambridge, quinta do ranking, conta atualmente com 47 bolsistas do Ciências sem Fronteiras.
Ausência de brasileiros
Ao todo, das 100 universidades mais bem colocadas do ranking, 92 têm ao menos um brasileiro bolsista do programa. As oito universidades que não têm brasileiros do Ciências sem Fronteiras no momento são: três no Reino Unido (University College London, London School of Economics and Political Science e King’s College London), quatro na China (University of Hong Kong, Peking University, Tsinghua University e Hong Kong University of Science and Technology) e uma na Turquia, a Middle East Technical University.
Para o secretário-executivo do MEC, a maioria dessas ausências ocorre porque as instituições não se enquadram nas áreas contempladas pelo CsF, e que algumas instituições, mesmo não listadas no ranking, são as melhores em determinados campos do conhecimento. “[O ranking] pega a universidade como um todo, não em áreas específicas. É preciso estar entre as melhores do mundo, e em áreas específicas também”, agumentou.
Partilhando da mesma opinião, o fato de só 13% das bolsas estarem nas 100 melhores universidades, de acordo com o ranking, não quer dizer que a maioria dos estudantes estão em universidades de baixa qualidade, segundo Jefferson Brown, secretário-assistente de diplomacia pública do Escritório de Negócios Ocidentais do governo americano.
Em visita recente ao Brasil, o diplomata contou ao G1 que os bolsistas brasileiros do CSF são alocados em universidades americanas de acordo com o currículo de seus cursos, que podem ser mais ou menos compatível com as instituições dos Estados Unidos.
“Sobre os rankings, precisamos olhar mais de perto. Se você quer estudar agricultura, você não vai para [a Universidade] Yale, você talvez vá para a [Universidade] Purdue [que fica no estado de Indiana]. Você precisa olhar as áreas de estudo. Em nível internacional, algumas universidades podem não ter a mesma fama de Harvard”, explicou ele.
“Nós vemos que as pessoas conhecem um número de universidades famosas, mas pode ser que haja uma da qual eles nunca ouviram falar, mas que é perfeita para eles.” Segundo Brown, dentro dos Estados Unidos há institutos que produzem rankings das universidades do país de acordo com as diferentes áreas de estudo.
O coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília (UnB), o professor Isaac Roitman, também avalia o posicionamento dos estudantes brasileiros entre as melhores universidades do mundo como positivo, mesmo que, para ela, sejam necessárias mudanças no programa. “O índice é bom, considerando que nenhuma universidade brasileira foi ranqueada como a melhores do planeta”, frisou Roitman.
Contudo, Isaac destacou medidas que considera importantes para o “aperfeiçoamento do Programa”, com destaque para definição de tutores no Brasil que façam acompahamento do andamento dos estudos do bolsista, além de apoio emocional dos alunos.
“[É necessária a] adequação das metas nas próximas edições de forma que possamos mandar para o exterior estudantes que apresentem potencial cognitivo e maturidade, iImplantação de um sistema de avaliação continuo nos egressos do programa após o retorno ao país e introduzir monitoramento do aprendizado acadêmico e de distúrbios emocionais”, enumerou o professor.
Graduandos, mestres e doutores
Apenas em instituições dos EUA, qualificadas no Top 100, existem alunos realizando dissertações de mestrado: 203 brasileiros entre bolsistas vigentes fazem a pesquisa em 26 universidades norte-americanas. A melhor colocada entre elas, a Universidade da Califórnia em Berkeley, que ocupa a 8ª posição no ranking, possui apenas um estudante dessa modalidade.
Já as universidades que mais recebem brasileiros inscritos no programa do governo, a Universidade de Toronto (21ª colocada do ranking) lidera com 648 estudantes, 95,2% desse total fazendo graduação. A escola canadense é seguida por duas universidades australianas: Universidade Monash (443 alunos) e a Universidade de Queensland, contando com 439 bolsistas brasileiros. Em ambos esses casos, a maioria é majoritariamente formada por alunos de graduação: 98,1% e 94,7%, respectivamente.
Por outro lado, há cinco entre as 100 melhores universidades que possuem apenas um bolsista brasileiro do programa no quadro de alunos. Além do Caltech, nos EUA, as universidades de Kyoto, no Japão, Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, a Scuola Normale Superiore di Pisa, na Itália e a Universidade Vanderbilt, nos EUA, possuem um único brasileiro pesquisador.
Internacionalização
Para Luiz Claudio Costa, os resultados parciais do programa mostram que o país caminha para uma troca mais produtiva no ponto de vista acadêmico, a partir do contato que os estudantes têm com o aprendizado no exterior. “O Brasil deu um passo estratégico no sentido da internacionalização”, avaliou Costa, frisando que o CSF atraiu a atenção de universidades estrangeiras.
“O programa hoje tem um reconhecimento mundial, vários países têm procurado o brasil para fazer conosco parcerias”, destacou o secretário-executivo, apontando que o projeto conseguiu aliar a qualidade das insituições de ensino em outras nações com os padrões de exigência da CAPES e CNPq, para que essas universidades figurem entre as instituições que podem oferecer bolsas a brasileiros.
“Isso vai trazer para as instituições brasileiras um avanço muito grande, e em pouco tempo. E mais: temos vários estudantes que já estão fazendo intercâmbio, e isso já está gerando intercâmbio de pesquisas”, concluiu.
Falta de proficiência
Desde julho de 2011, quando foi criado, o Programa Ciência sem Fronteiras já implementou 71.478 bolsas, conforme dados do Painel de Controle do programa. A meta, de acordo com o governo, é implementar 101 mil bolsas em até 2015. Depois de aprovado, o aluno tem direito a uma série de benefícios enquanto estiver realizando a pesquisa ou a graduação no país escolhido. Ao total, são 18 áreas de conhecimento contempladas pelo programa e que permitem a inscrição para bolsas de estudo, incluindo engenharia, nanotecnologia, biologia, ciências exatas, entre outras.
Os auxílios incluem mensalidade, adicional de localidade, acréscimo por dependentes, seguro saúde, auxílio instalação, ajuda para aquisição de material didático e auxílio de deslocamento. Todos os valores dependem da modalidade de bolsa (de graduação a pós-doutorado) e o país escolhido para a pesquisa.
Um dos principais problemas encontrados no Ciência sem Fronteiras foi a falta de proficiência em inglês de muitos estudantes. Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (12) aponta que o Brasil ocupa a 38ª posição no ranking mundial de proficiência em inglês.
No início, muitos optaram por estudar em universidades de Portugal, por causa da facilidade com o idioma. No ano passado, o governo decidiu excluir Portugal do programa para estimular a aprendizagem de outras línguas pelos estudantes. E ainda promoveu um programa de aprendizado em inglês de seis meses. Em abril deste ano, mais de 9 mil alunos que estavam em Portugal foram transferidos para outros países. Destes, 110 estudantes foram excluídos porque não obtiveram a proficiência em inglês.
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