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Audiência pública foi realizada na Assembleia Legislativa de SP.
Jovens disseram que ficaram ‘estigmatizadas na faculdade’.

Três vítimas de violência sexual sofridas em festas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) foram ouvidas pela Comissão Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais (CDH). Uma audiência pública sobre as denúncias de violações de direitos humanos foi realizada na terça-feira (11), na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Segundo nota publicada no site da Alesp, as vítimas “narraram as agressões sofridas em festas promovidas pela Atlética da FMUSP, e a pressão para que não denunciassem a fim de não “manchar a imagem da instituição”. Contaram que ficaram estigmatizadas na faculdade, e que os agressores estão impunes.”

Em entrevista ao G1, a promotora de Justiça de Direitos Humanos e Inclusão Social do Ministério Público do Estado de São Paulo, Paula de Figueiredo Silva, disse que os relatos de alunas vítimas de violência sexual em festas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) mostram que “há naquele ambiente universitário uma cultura violenta e opressiva“. Ela instaurou um inquérito civil para apurar as denúncias de abusos de estudantes contra alunas mulheres, negros e homossexuais dentro da faculdade. A promotora apura também quais ações a direção da faculdade está tomando para evitar esta prática.

G1 ouviu uma das vítimas em reportagem publicada no dia 22 de agosto deste ano. A estudante disse que não ela é só mais um dos casos. “Tenho colegas aqui dentro da faculdade que foram estupradas e nunca chegaram a denunciar. A gente não tem vias para denunciar, não existe apoio, não existe acolhimento. Aqui na Faculdade de Medicina acontece, acontece em outras partes do campus, com certeza não sou um caso isolado”, disse ao G1 a estudante, hoje com 23 anos.

Apesar de o inquérito ainda não ter sido concluído mais de três anos após o crime, a delegada que cuida do caso, Celi Carlota, da 1ª Delegacia de Defesa da Mulher de São Paulo, afirmou já ter elementos suficientes para indiciar o suspeito pelo crime de estupro. O caso aconteceu em uma festa chamada “Carecas do Bosque” na noite do dia 2 de abril de 2011. De acordo com a delegada, o suspeito é um homem que trabalhava com manutenção de ar condicionado no prédio da faculdade. Ele foi ouvido durante o inquérito e negou o crime.

A vítima era caloura na época. Ela explicou que, depois de beber demais, foi deixada por um amigo dormindo em um recinto privado no espaço da festa chamado “cafofo”, para onde organizadores das festas levavam mulheres. Quando o amigo retornou, um homem foi flagrado de calças abaixadas mantendo relações com ela. O suspeito chegou a apanhar de um estudante de medicina e foi agarrado por um segurança da festa, mas acabou sendo liberado e nunca foi preso.

Em nota, a Faculdade de Medicina da USP disse que “nenhuma comunicação foi feita pela vítima à Diretoria ou à Comissão de Graduação da Faculdade na época. A referida aluna procurou o Grapal (centro que fornece atendimento psicológico e psiquiátrico aos estudantes sempre que eles necessitam) que, por questões éticas, não pode relatar os casos tratados às instâncias superiores da Instituição.” A faculdade afirmou que vai dar apoio jurídico e psicossocial à estudante. Também está em implantação um Centro de Acolhimento, onde os alunos poderão registrar suas denúncias e receber o apoio da Instituição.

Racismo
A reunião na Alesp também tratou de denúncias de racismo e machismo em um hino da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP). O caso veio à tona no sábado (8) durante uma palestra sobre violência contra a mulher, realizada pelo curso de enfermagem da USP. A letra, que traz expressões como “morena gostosa”, “loirinha bunduda” e “preta imunda”, é de autoria da bateria do curso de medicina, conhecida como Batesão.

Segundo postagens de alunos, o hino foi divulgado este ano em um manual para calouros da medicina, juntamente com camisetas da atlética do curso. Procuradas pelo G1, a Atlética Acadêmica Rocha Lima e a Batesão não comentaram o caso. Em nota divulgada no Facebook, no entanto, a bateria pede desculpas e diz ser contra “qualquer forma de discriminação e preconceito.”