A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) discute na tarde desta terça-feira (11) a realização de uma audiência pública para tratar de denúncias de racismo e machismo em um hino da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP). O caso veio à tona no sábado (8) durante uma palestra sobre violência contra a mulher, realizada pelo curso de enfermagem da USP. A letra, que traz expressões como “morena gostosa”, “loirinha bunduda” e “preta imunda”, é de autoria da bateria do curso de medicina, conhecida como Batesão.
Segundo postagens de alunos, o hino foi divulgado este ano em um manual para calouros da medicina, juntamente com camisetas da atlética do curso. Procuradas pelo G1, a Atlética Acadêmica Rocha Lima e a Batesão não comentaram o caso. Em nota divulgada no Facebook, no entanto, a bateria pede desculpas e diz ser contra “qualquer forma de discriminação e preconceito.”
Também em nota publicada no Facebook, o Coletivo Negro da USP se manifestou contra o hino, classificando o texto como misógino e racista. A nota de repúdio afirma que os versos colocados no hino, além de faltar com respeito às mulheres negras, têm conotação sexual agressiva e chega a incitar a violência sexual. “A Batesão assume seu lugar de senhor de escravos, pega o chicote e violenta mais uma vez as mulheres negras, se não pelo estupro que nossas avós, bisavós sofreram por parte dos senhores e seus filhos, pela subjugação do nosso corpo negro.”
Ainda pela rede social, alunos da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) também se posicionaram contra o hino, informando que encaminharão um documento pedindo providências à diretoria da instituição.
Contra o preconceito
A bateria do curso de medicina se posicionou diante das denúncias e publicou uma carta de retratação em sua página oficial no Facebook, onde diz ser contrária “a qualquer forma de discriminação e preconceito.” O grupo justificou que os hinos divulgados no kit dos calouros de medicina contém canções antigas criadas por ex-alunos da universidade, e disse que por “descuido” não observou todas as letras.
“[As letras] foram criadas por antigos membros de décadas atrás, quando racismo e preconceitos eram comportamentos corriqueiros, embora sempre inaceitáveis (…) Afirmamos que nenhuma dessas letras foi escrita por nós, nem sequer são lembradas ou cantadas pela nossa Faculdade. Reiteramos ainda que em nosso cotidiano lutamos afirmativamente contra o racismo e o machismo.”
Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da USP informou que a diretoria da faculdade de medicina só se manifestará sobre o caso na tarde desta terça-feira. Também procuradas pela reportagem, a Atlética do curso e a Batesão não comentaram o ocorrido.
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