Dos mais de 8,7 milhões de candidatos, cerca de 110 mil são deficientes, sabatistas e transsexuais
RIO — Mais de 8,72 milhões de pessoas devem participar da edição 2014 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), um recorde absoluto que faz a principal porta de acesso à universidade pública no país se equiparar ao chinês gao kao como a maior prova de seleção do planeta. Avanço inegável na direção da igualdade de oportunidades numa nação ainda marcada por profundas brechas sociais, sem dúvida, mas também um número vistoso que esconde os obstáculos bem particulares enfrentados por um percentual considerável e invisível de candidatos.
Somente entre três das minorias cujas histórias e dificuldades O GLOBO apresenta hoje há mais de 110 mil inscritos habilitados a participar. Mas nem sempre são atendidas as soluções requeridas por candidatos com deficiência, transexuais e sabatistas (aqueles que, por motivos religiosos, têm de respeitar o descanso no sábado, o que lhes impõe sérias restrições no primeiro dia de provas).
Os percalços que se lhes apresentam — locais de prova com pouca acessibilidade para deficientes; a anterior ausência de normas para o uso de nomes sociais pelos transexuais; e a complexa logística envolvida na aplicação do teste em horários alternativos para os religiosos — acabam por demovê-los. Em outras palavras: adeus à universidade pública.
— Os ledores (pessoas que leem a prova para deficientes visuais) não são preparados como deveriam. E fazer a prova em braile (mal elaborada) seria suicídio — enumera apenas algumas dificuldades Eduarda Emerick Lima, de 18 anos, estudante cega que, nos próximos sábado e domingo, tenta uma vaga em Biologia e, de quebra, uma oportunidade de dar sua contribuição para encurtar a grande distância que separa pessoas sem e com deficiência na corrida do mercado.
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