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Fontainebleau – A sede da escola de negócios Insead fica em Fontainebleau, cidade francesa a 75 quilômetros de Paris, que vive principalmente de turismo. Mas não é apenas a agradável floresta que a cerca que atrai alunos dispostos a pagar 86 000 dólares por ano por um MBA.

Afinal, quase metade dos alunos da Insead se matricula no segundo campus da escola, em Singapura. Entre as melhores escolas de negócios do mundo, a Insead foi a única que obteve sucesso ao construir um campus do outro lado do mundo e, assim, se tornou a que mais forma MBAs no planeta — a escola de negócios é a sexta melhor, de acordo com o ranking do jornal Financial Times.

O reitor Ilian Mihov, macroeconomista búlgaro que já foi convidado para ser ministro da Fazenda de seu país, concedeu esta entrevista no campus principal da Insead, embora more em Singapura. Ele discutiu o futuro dos MBAs no mundo e como a internacionalização oferece vantagens.

EXAME – Por que a base do reitor da Insead fica no campus de Singapura, e não na sede, em Fontainebleau? 

Ilian Mihov – Essa é uma demonstração de como a Insead é uma escola de negócios verdadeiramente internacional, em que o reitor pode ficar tanto aqui na França como em Singapura. Eu moro em Singapura há 12 anos e quando me tornei reitor, um ano atrás, continuei por lá.

Estar na Ásia ou aqui na França não faz diferença, porque nosso objetivo é integrar os campi. Cerca de 80% de nossos alunos passam pelos dois campi durante seu curso. E essa abordagem é completamente diferente da encontrada em outras escolas pelo mundo.

EXAME – Mas escolas de negócios como IMD, Harvard e Wharton também são muito internacionais. Qual é a diferença?

Ilian Mihov – A ordem de magnitude da internacionalização é diferente. Na Harvard Business School, embora existam mais de 50 nacionalidades entre os alunos, cerca de 60% deles são americanos.

Na Insead, há uma regra que as turmas não podem ter mais do que 10% dos alunos de uma única nacionalidade. Assim, os alunos não ficam intimidados a participar das discussões, já que não existe um grupo dominante. É isso que nos torna uma escola de negócios muito diferente das outras.

Se a Harvard Business School abrir um campus em outro lugar que não seja Cambridge ou Massachusetts, esse campus será sempre uma subsidiária, pois a associação dela com sua origem é enorme — até porque ela é parte de uma grande universidade, e nós não somos.

EXAME – E como foi o desenvolvimento do campus de Singapura?

Ilian Mihov – Quando eu cheguei a Singapura, em 2002, havia apenas seis professores — hoje são 54. No começo, não parecia que teríamos sucesso. Nós queríamos garantir que os professores escolhidos para Singapura passariam por um processo tão rigoroso quanto os de Fontainebleau, mas era difícil atraí-los para lá.

 

Há várias universidades que abrem um entreposto de ensino e contratam professores locais só para preencher as vagas. Nós não fizemos isso. Mas aos poucos o corpo docente foi aumentando. Em 2006, quando tínhamos mais de 25 professores e uma reputação de formar tão bem quanto na França, muitos começaram a se interessar por mudar para Singapura. Hoje, não temos mais dificuldade para contratar e expandir.

EXAME- Alguns especialistas em gestão argumentam que os MBAs estão ficando menos relevantes. O que o senhor pensa sobre isso?

Ilian Mihov – A demanda por MBAs continuará a existir em escolas de ponta. O motor de crescimento econômico é a criação de negócios. E foi com crescimento econômico que a China tirou 700 milhões de pessoas debaixo da linha da pobreza desde 1980. Nossa missão é treinar pessoas para que elas consigam acelerar o processo de criação de novos negócios.

Mais do que dar aos alunos conhecimentos de marketing ou administração, nós os ensinamos a resolver problemas. Ninguém sabe quais serão as habilidades necessárias para o mundo dos negócios em 20 anos. Mas sabemos que, se ensinarmos nossos alunos a pensar da maneira correta, não ficaremos obsoletos.

EXAME – Mas o número de pessoas que fazem a prova do GMAT, que dá acesso aos melhores MBAs, está caindo…

Ilian Mihov – Muitos falam que a causa disso são os cursos online, mas o objetivo de quem faz um MBA numa escola como a ­Insead é aprender a resolver problemas reais. E isso só acontece por meio da interação com o professor e com os outros alunos, ainda mais em uma turma diversa como a nossa.

Não vejo grande diferença entre cursos online e a leitura de livros. Em ambos os casos a transmissão de conhecimento é passiva. Se você olhar nosso curso de liderança, verá gente que administra empresas com faturamento de bilhões de dólares. O que eu posso ensinar a esse sujeito? Ele diz que a coisa mais importante foi o tempo que teve para refletir sobre o próprio negócio.

Durante a aula, enquanto ouve as experiências dos outros alunos e debate com eles, o executivo se pergunta: o que devo levar em conta quando tomar uma decisão? Como vou comunicá-la? As escolas de negócios capazes de gerar turmas com esse nível de interatividade continua­rão a gerar interesse dos alunos. 

EXAME – E as que não conseguirem?

Ilian Mihov – Escolas que dependem apenas do conhecimento do professor que senta na frente da turma e fala por 90 minutos serão substituídas pelos cursos online. A redução no número de pessoas que fazem a prova do GMAT está afetando principalmente cursos com essa característica.

EXAME – Mas como adaptar os currículos dos MBAs à realidade atual?

Ilian Mihov – Temos uma revisão obrigatória do currículo a cada dez anos. Este é justamente o ano em que estamos fazendo a atualização da grade. Cursos relacionados a redes sociais e big data serão incorporados. Já nossas disciplinas eletivas mudam conforme a demanda. As disciplinas de empreendedorismo mostram isso. Elas não existiam dez anos atrás.

Hoje, 25% das eletivas são relacionadas ao empreendedorismo. O objetivo é acompanhar mudanças nas características dos líderes. Cada vez mais executivos querem começar a própria empresa, e temos de nos adaptar a essa tendência.

EXAME – No Brasil, muitos MBAs investem pouco em pesquisa e focam majoritariamente o ensino. Como o senhor vê essa dicotomia?

Ilian Mihov – Aqui, nós precisamos atrair os melhores professores do mundo. E a maioria daqueles que contratamos procura um lugar com um ambiente propício para produzir artigos científicos de impacto. Eles sabem que isso é o que valoriza o passe na academia.

Os melhores profissionais nunca iriam para uma instituição apenas para dar aulas. E as universidades mais conceituadas do mundo não contratam um professor só porque ele ensina bem. Alguns, inclusive, são contratados apesar de não ser bons professores. 

EXAME – Mas ensinar bem também não é importante? 

Ilian Mihov – Sim, mas 99% dessas pessoas, que são Ph.Ds. pelas principais universidades do mundo, conseguem aprender técnicas para ensinar melhor. Por isso criamos um programa para aprimorar a didática. Se eu ensiná-los a ensinar bem e garantir que eles possam desenvolver pesquisas de ponta, terei salas de aula em que os estudantes discutem as fronteiras do pensamento no mundo dos negócios.

Assim, entregaremos um conteúdo que não está no livro didático. Afinal, se você tem um professor que não é capaz de ir além dos livros didáticos, por que não trocá-lo por um curso online?