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Iniciada em fevereiro de 2012, construção de quatro edifícios ao lado da Faculdade de Letras tinha prazo de execução de 420 dias

RIO — Os planos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para levar três cursos da Praia Vermelha para o campus do Fundão estão emperrados com a paralisação de uma obra que deveria ter terminado há mais de um ano. Iniciada em 29 de fevereiro de 2012, com prazo de execução de 420 dias, a construção de quatro edifícios ao lado do prédio da Faculdade de Letras, no Fundão, está completamente parada desde agosto. A obra, que está ainda em sua primeira fase, já dura mais de 960 dias. As etapas seguintes sequer foram licitadas.

Conhecido como Centro de Convergência, o complexo, que por enquanto se resume a três esqueletos (o quarto prédio sequer começou a ser feito), abrigará a Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, a Faculdade de Educação e a Decania do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, que hoje funcionam no campus da Praia Vermelha, na Urca.

O estudante de pós-graduação Ludwig Araújo, que faz curso no Fundão, ironiza a existência dos esqueletos:

— Isso aí é obra? Achei que fosse instalação artística. Já está parada há pelo menos um ano.

José Marcos Graça, gerente da Espectro Engenharia, empresa responsável pela obra, explica que o estudo de solo encaminhado à construtora pela UFRJ continha falhas, o que teria provocado atrasos no projeto.

— Encontramos divergências entre o tipo de terreno que constava no relatório e o que constatamos quando iniciamos as fundações. Eles tiveram que fazer um aditivo, rever o projeto todo. Estamos dependendo da UFRJ agora.

Por causa dessas divergências, a UFRJ assinou, em 6 de agosto deste ano, um termo de paralisação, que interrompe as obras de forma imediata e por tempo indeterminado. Mesmo antes, porém, os serviços já estavam atrasados.

ADITIVOS DE PRAZO E VALOR

O contrato recebeu dois aditivos que prorrogaram o prazo de execução da obra, inicialmente prevista para ser concluída em 22 de fevereiro de 2013. Somados, eles dão mais 540 dias para a entrega das obras. O gerente da Espectro ressalta que os atrasos custam dinheiro.

— Compramos quase todo o material para erguer as estruturas. Está tudo em São Paulo, parado.

Um outro aditivo, de cerca de R$ 7 milhões, deverá ser acrescido ao contrato, mas ele precisa passar ainda pela aprovação da Procuradoria Federal. Este não será o primeiro aumento de custo. O valor da obra, bancada pela UFRJ, passou de R$ 38,1 milhões para R$ 44,3 milhões (acréscimo de 14%).

De acordo com a UFRJ, as obras devem ser retomadas no mês que vem. Se isso ocorrer, esta etapa estará terminada em maio de 2015. Mas, para concluir o conjunto de prédios, será necessário fazer nova licitação, já que o atual contrato não contempla todas as etapas.

— Estimamos que, para completar todas as fases, vamos precisar de cerca de R$ 100 milhões, mas não fechamos as contas — afirma o diretor do Escritório Técnico da Universidade (ETU), Márcio Escobar Conforte.

De acordo com Conforte, se houver dinheiro disponível para tocar a obra sem novas interrupções, ela poderia estar terminada no segundo semestre de 2016. A probabilidade de isso acontecer, porém, é pequena.

— Se tivermos todos os recursos em maio do ano que vem, dá para terminar até 2016. Mas, em geral, vamos tocando aos poucos, conforme a verba é disponibilizada.

O diretor explica ainda que faltaram técnicos para rever os custos depois de constatado o problema no solo.

— Para se ter uma ideia, meu setor de orçamento tem uma equipe de quatro pessoas para lidar com todos os projetos da UFRJ. Já foi o dobro.

O complexo terá 43 mil metros quadrados de área construída, divididos em quatro prédios de quatro a oito andares cada. Serão 57 salas de aula, dez salas multiuso e 62 laboratórios com espaço total para 277 professores. Além disso, haverá seis laboratórios de informática, cinco centros acadêmicos, 19 áreas administrativas, 54 áreas técnicas e oito refeitórios.

ALUNOS RESISTEM À MUDANÇA

Os atrasos nas obras do Fundão, porém, não desagradam a todos. No campus da UFRJ na Praia Vermelha, alunos do curso de administração comemoram a paralisação como se fosse uma vitória. Há anos os estudantes vivem na expectativa de sair do campus da Zona Sul. Na porta de seu centro acadêmico, pintaram a frase “Não vamos sair da PV (Praia Vermelha)”. O estudante Alexander Moreira afirma que a mudança é quase uma lenda.

— Isso é velho, quando cheguei aqui, em 2011, já tinha essa história. A mudança é uma desculpa para eles não fazerem reformas na sede atual.

Outros alunos reclamam da falta de infraestrutura no Fundão.

— Precisamos de garantias de que o transporte e a segurança vão existir na nova sede — conta o estudante José Augusto Mansur.