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Uma pesquisa lançada ontem pela Fundação Telefônica mostrou que os jovens latino-americanos estão insatisfeitos com o sistema de ensino de seus países. O levantamento, nomeado de Global Millennial, foi realizado com jovens de 18 a 30 anos, os chamados de millennials, de 18 países em três regiões, incluindo América Latina, Europa Ocidental e os Estados Unidos.

Com o objetivo de ajudar a compreensão sobre quais são as aspirações e características desses jovens, a pesquisa mostra que a maior preocupação deles, em relação ao que deve ser melhorado em seus países em termos de infraestrutura, está relacionado a educação. Essa foi a opinião de 52% dos jovens entrevistados na Europa, 57% dos norte-americanos e 67% dos latino-americanos. Fazendo o recorte brasileiro, esse número chega a 70% dos entrevistados.

Na América Latina, 69% dos millennials acreditam que a qualidade dos professores é o maior entrave na área, seguida da qualidade dos cursos (64%) e o acesso à tecnologia (61%). Segundo Gabriela Biguetti, presidente da Fundação Telefônica, essa perspectiva dos jovens sobre os principais problemas educacionais é de grande relevância. “Isso era um discurso de adultos e especialistas. Mas agora, os jovens estão entendendo a importância de melhorar a educação e que precisamos melhorar a formação dos professores”, disse ontem durante o evento de apresentação da pesquisa, realizado em São Paulo.

Outro aspecto que Biguetti ressaltou foi em relação ao acesso à tecnologia. “Os jovens são conectados. Medidas que proíbem o uso de celulares nas salas de aula, por exemplo, vão na contramão”. A presidente mencionou ainda dados de uma pesquisa anterior da fundação, chamada Juventude Conectada, que mostrou que para 47% dos jovens brasileiros, um bom professor é aquele que sabe utilizar a internet e os recursos tecnológicos para ajudar no aprendizado dos alunos.

“Quando os alunos entram na escola, a tecnologia é cortada, deixada de lado. O acesso que eles têm dentro do bolso não reflete ao que eles têm na escola”

Carla Mayumi, diretora de inovação da Box1824, que lançou recentemente a pesquisa Sonho Brasileiro da Política, para entender o pensamento dos jovens sobre o tema, também participou do evento e enfatizou a necessidade que os jovens têm de ter um melhor acesso à tecnologia. “Quando os alunos entram na escola, a tecnologia é cortada, deixada de lado. O acesso que eles têm dentro do bolso não reflete ao que eles têm na escola”.

Ainda segundo ela, os jovens estão fazendo um uso cada vez maior das tecnologias, principalmente as móveis, e as instituições de ensino precisam entender e incorporar isso em suas práticas pedagógicas. Essa realidade aparece na pesquisa, quando os entrevistados foram perguntados sobre quais áreas de suas vidas foram mais afetadas pelo uso de tecnologias móveis. Entre os latino-americanos, 62% responderam que foi em relação a educação e pesquisa – entre os norte-americanos essa opção foi escolhida por 46% dos jovens e entre os europeus, 31%.

O otimismo dos jovens latino-americanos

A pesquisa também revelou que 72% dos millennials da América Latina acreditam que os melhores dias de seus países ainda estão por vir. O que mostra que eles estão satisfeitos com suas vidas e otimistas sobre suas perspectivas para o futuro. Somente 51% dos os norte-americanos e 50% dos europeus compartilham dessa opinião.

Para Alec J. Ross, ex-conselheiro de inovação da ex-secretária de estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, essa é a geração mais mal compreendida da história. Segundo ele, 72% é um número significativo que mostra que esse otimismo é a base para algo real acontecer no futuro.

“Eu cresci em uma área pobre dos Estados Unidos, mas nós temos uma coisa chamada ‘american dream’ [sonho americano, em livre tradução], que nos faz acreditar que com trabalho duro todos podemos ser bem sucedidos. O que essa pesquisa me mostra é que o american dream é uma mentira no contexto da América Latina”, afirmou durante o evento de apresentação.

Na América Latina, apenas o trabalho não contenta os jovens, que também buscam boas oportunidades para se desenvolver profissionalmente. Isso fica elucidado na pesquisa, quando 49% dos jovens dos Estados Unidos e 47% da Europa dizem priorizar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, enquanto na América Latina, a prioridade de 39% deles é encontrar boas oportunidades de treinamento e desenvolvimento em suas carreiras.

“Os jovens não estão apenas pedindo mudanças, eles estão nos indicando os caminhos pelos quais elas vão acontecer. E nós temos que prestar atenção nisso”, completou Gabriela Biguetti.

A pesquisa foi realizada em parceria com a Penn Schoen Berland e ouviu 6.702 jovens, que responderam a um questionário on-line, entre junho e agosto deste ano. Além dos Estados Unidos, na América Latina, foram entrevistados millennials da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, México, Nicarágua, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela. Na Europa Ocidental, foram contemplados jovens da Alemanha, Espanha e Reino Unido. A amostra selecionada de cada país foi proporcional ao número de jovens com acesso à internet.