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Para cerca de mil calouros do campus Leste da USP (Universidade de São Paulo), interditado pela Justiça por problemas ambientais, a euforia da aprovação no último vestibular passou depressa. Com aulas em prédios improvisados, parte dos alunos já desistiu do curso ou se frustrou com o sonhado ingresso no ensino superior.

Entre os aprovados em primeira chamada no vestibular, a desistência cresceu. Neste ano, 35,1% deixaram de se matricular em cursos da USP Leste, ante 26,7% no ano passado. Após a matrícula, a taxa de evasão, entre calouros e veteranos, também é alta. Até o final de abril deste ano, o número de trancamento de disciplinas foi de 717, o que equivale a 86,7% do total de todo o primeiro semestre de 2013. Já o de trancamentos totais foi de 135 – 69,2% do registrado no primeiro semestre de 2013.

Luiz Eduardo Kano, de 17 anos, foi o primeiro da família a entrar na universidade, mas logo saiu. Aprovado no curso de Gestão de Políticas Públicas no início de 2014, ele desistiu meses depois por causa dos problemas ambientais do campus. “Achei que se resolveriam rápido, mas houve descaso da reitoria”, critica. “Nem sabemos para onde vão as aulas no segundo semestre.”

O campus da USP Leste foi interditado há seis meses pela Justiça, a pedido do MPE (Ministério Público Estadual). O terreno está contaminado por metano e outros materiais nocivos à saúde. O primeiro semestre começou com atraso de seis semanas e as aulas foram espalhadas entre prédios da USP, uma instituição particular e uma Fatec (Faculdade de Tecnologia).

“Encontrei bons professores, mas esse transtorno prejudica as atividades e nossa formação”, diz Kano. “Foi uma surpresa negativa. Víamos a USP como um polo de excelência.”

Para ele, diminui também a sensação de pertencimento. “Até hoje não pisei no meu campus. Nunca me senti de fato aluno da USP.” Na próxima edição da Fuvest, ele tentará história.

Persistência

Já Ana Clara Cerqueira, de 19 anos, caloura de obstetrícia, decidiu permanecer no curso apesar das complicações. Como a estudante está no início da graduação, ainda não há demanda por laboratórios. “Mas estamos muito desanimados”, confessa. “Os veteranos têm práticas em lugares improvisados. Também comparo com amigos da letras e da química, na própria USP, e vejo que não consigo aproveitar a vida universitária.”

Mesmo sem empolgação, Ana Clara afirma que não sairá do curso. “Fiz essa graduação porque me interessei muito pela proposta”, reforça. Para ela, a adversidade também pode ter resultados positivos. “A comunidade da USP Leste – professores, alunos e funcionários – pode sair mais fortalecida depois dessa luta”, avalia.

Segundo o vice-presidente da Comissão de Graduação da USP Leste, Thomás Haddad, os relatos dos professores são de que a frequência dos alunos caiu, embora não haja registros precisos. “Muitos comparecem somente em dias de prova ou para entregar trabalhos.” Apesar das desistências nas primeiras chamadas do vestibular, de acordo com ele, o preenchimento de vagas na unidade foi quase completo.

A diretoria da unidade disse que se esforça para contornar os problemas estruturais. Os contratos com a instituição privada e a Fatec terminam no dia 31, mas a reitoria ainda não informou os locais de aula no próximo semestre. Segundo a assessoria de imprensa, a USP toma as medidas cabíveis e tenta a liberação do campus na Justiça. Também é discutido acordo com o MPE.