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Conheça os dois estados brasileiros mais perigosos para jovens no país. “É uma situação epidêmica”, alerta coordenador da pesquisa.

O Fantástico apresenta, em detalhes, o mapa da violência contra os jovens no Brasil. As duas principais causas de morte de brasileiros de 15 a 29 anos são acidentes de trânsito e assassinatos.

O Estado onde mais se morre no trânsito, proporcionalmente à população, fica longe dos grandes centros: Rondônia. E a maior taxa de homicídios ocorre em Alagoas. Normalmente, por motivos banais.

Acidentes de trânsito! Essa é a principal causa da morte de jovens em Rondônia.

“Quando eu cheguei perto do acidente, aí meu menino já estava caído no chão. Eu não desejo para pai nenhum passar uma coisa dessa”, conta o pai de uma vítima de acidente de trânsito.

“É uma dor que não sai, penso nele 24 horas”, diz o pai de uma outra vítima.

Em Alagoas, os pais estão perdendo os filhos, vítimas de assassinatos.

“A gente se vê enxugando gelo, por quê? Porque é uma situação que não está diminuindo, só crescendo a cada dia”, conta o delegado Ronilson Medeiros, delegado de Polícia Civil – Alagoas.

Alagoas e Rondônia são os dois estados brasileiros mais perigosos para quem tem entre 15 e 29 anos. O dado é do mapa da violência 2014, elaborado pela faculdade Latino Americana de Ciências Sociais.

Em 2012, ano-base do levantamento, os jovens dessa faixa etária representavam 27% da população, segundo o estudo. Nesse mesmo ano, cerca de 55 mil jovens morreram e as duas causas principais são acidentes de trânsito e assassinatos.

As três taxas de homicídios mais altas foram encontradas em Alagoas, Espírito Santo e Ceará, segundo a pesquisa.

“A taxa é de 138 homicídios de jovens para cada 100 mil jovens do estado, não tem equiparação na história do país. A Organização Mundial da Saúde diz que a partir de dez homicídios por 100 mil, é uma situação epidêmica”, diz o coordenador da pesquisa, Julio Jacobo Waiselfisz.

O estado de Alagoas registrou 138 mortes para cada 100 mil jovens. Lá, morava Éric Ferraz de 24 anos, filho da dona Valdenice. “Tem as camisas aqui que eu deixei de lembrança, os casaquinhos. É muita saudade, minha filha”, conta Valdenice.

Éric era modelo. Decidiu passar o réveillon de dois anos atrás em Viçosa – a 90 quilômetros da capital Maceió.

Éric estava com a namorada e três amigos. Eles jantaram em uma pousada e depois foram para uma praça no centro, para comemorar o primeiro dia do ano de 2012. Ele festejou só três horas daquele primeiro de janeiro. Foi assassinado na praça, com cinco tiros.

Os amigos que estavam com Eric disseram que, no dia, um homem mexeu com a namorada dele.

“O que ele falou pra mim foi assim: ‘eu não quero saber de confusão, eu só quero dizer a ele que ela está acompanhada’”, Carla Aciolo, fotógrafa.

O policial civil Jáysley Leite de Oliveira, que responde em liberdade, e o irmão dele, Judarley Leite de Oliveira, que está preso, foram denunciados pelo crime e devem ir a júri popular, que ainda não tem data marcada.

“Infelizmente, Alagoas tem uma tradição antiga de resolver as disputas na base da violência e tem diminuído isso, mas ainda existe resquício desse passado”, explica Daniel Nunes Pereira – pres. Comissão Direitos Humanos da OAB – Alagoas.

Já em Rondônia, o perigo está sobre rodas. Em 2012, foram 47 mortes em acidentes de trânsito para cada 100 mil jovens. Na sequência, aparecem os estados de Piauí e Paraná.

“Rondônia teve essa expansão, basicamente, devido à expansão da frota de motocicletas”, diz o coordenador da pesquisa, Julio Jacobo Waiselfisz.

No interior do estado, em Ji-Paraná, cidade de pouco mais de 125 mil habitantes, a proporção é de uma moto para cada três pessoas, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas.

Na madrugada de sexta-feira (27), nossa equipe flagrou um caso típico de imprudência. Uma mulher foi atropelada por uma moto que levava três pessoas – o piloto e duas passageiras.

Na mesma madrugada, registramos outro atropelamento. Desta vez, envolvendo um carro. A vítima foi o sobrinho de um homem. “Eu estava andando no acostamento. O carro saiu e bateu nele”, contou o tio da vítima.

Em um acidente, gravado pelas câmeras de segurança de um posto de combustível da cidade (veja no vídeo acima), em maio desse ano, duas motos seguem juntas em direção ao cruzamento. Uma delas reduz a velocidade. A outra passa direto e é atingida por um caminhão. Para o delegado, esse é um desafio feito entre os jovens, conhecido como roleta russa.

“Os jovens, eles se reúnem em bares da região sob a promessa de quem for corajoso e fazer essa roleta-russa, pegando a moto, saindo em alta velocidade, passando em alta velocidade nos sinais, cruzamentos, e conseguindo, vamos dizer, fazendo isso não pagaria a conta”, diz Cristiano Martins de Matos, delegado de Ji-Paraná.

O piloto da moto que não parou no cruzamento era Luís Otávio Montanher, de 18 anos. Ele morreu na hora. O piloto da outra moto, amigo de Luís, sobreviveu. Luan voltou ao local do acidente com a nossa equipe e negou a roleta russa.

“O erro dele foi acelerar, quando estava aqui e confiar que não ia vir ninguém porque eram 5h”, avalia o estudante Luan Ribeiro.

”Eu sabia que ele gostava de aventura, mas racha ele nunca falou para mim. Falta um pedaço, era o nosso centro de vida”, diz Luciane Montanher, mãe de Luís Otávio.

O Departamento Estadual de Trânsito de Rondônia disse, em nota, que vem intensificando suas ações em educação de trânsito, tendo como prioridade motociclistas. Informou também que orienta e fiscaliza condutores em suas operações.

E em Alagoas, qual a solução para diminuir os homicídios, segundo a Secretaria de Defesa Social?

“Nós temos hoje polícia na rua, na periferia, na malha central, nos interiores mais próximos e até mais distantes”, afirma Diógenes Tenório, secretário de estado da Defesa Social de Alagoas.

Mas o próprio secretário admite que é pouco. “Falta uma política em favor do menor? Falta, se essa é a realidade que você quer saber? É isso mesmo, falta. Eu tenho medo que a minha própria família esteja envolvida em um negócio desses de perder um de seus membros, porque os marginais estão soltos por aí afora”, assume o Diógenes Tenório.

“Seja de acidente de trânsito, seja de homicídio, nos falta sobretudo políticas públicas eficientes, que ponham o dedo na ferida, ponha o dedo na questão fundamental, que é a modernização da nossa segurança pública. Isso é uma tragédia que no médio prazo a gente precisa tentar evitar. No curto prazo, a gente só pode lamentar”, diz Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública – FGV.