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RIO – O embate entre um professor e uma estudante de Direito deixou a sala de aula e ganhou notoriedade nas redes sociais, onde ambos trocam acusações que vão de calúnia até perseguição. O epidódio ganhou atenção quando a aluna Maria Bubna acusou o professor Bernardo Santoro, que leciona Economia Política na Uerj, de apresentar postura machista numa publicação no Facebook e com comentários em sala.

As denúncias da estudante levaram a Uerj a instaurar uma sindicância interna e, por conta disso, Santoro chegou a pedir sua exoneração. Depois, porém, ele desistiu da demissão e, portanto, a troca de farpas entre os dois voltou a ser alvo de investigação. Nas redes sociais, a discussão em torno do assunto evidencia o choque entre duas pessoas de ideologias opostas.

Santoro é diretor do Instituto Liberal, cujo presidente é o economista Rodrigo Constantino. O professor se declara “moralmente conservador” e “politicamente liberal”. Já Maria Bubna participa do Coletivo Feminista da Uerj e é militante de esquerda. Em maio deste ano, Santoro postou uma mensagem no Facebook afirmando que as ideologias feministas favorecem o homem, por fornecer “sexo abundante, variado e de qualidade”. Maria criticou a postagem de Santoro, que, segundo ela, também vinha fazendo comentários “derespeitosos” em sala. Ela conta ter se afastado das aulas.

— Minhas sucessivas faltas são explicadas a partir dos comentários desrespeitosos que presenciei. Entendendo que um ambiente saudável e respeitoso não seria construído ali, me ausentei das suas aulas e decidi acompanhar por fora, com materiais impressos, grupo de estudo, ajuda de colegas, etc — afirma Maria. — Tem muita acusação fantasiosa sendo feita. Ele nunca demonstrou “compaixão” por mim, troquei pouquíssimas palavras com ele no decorrer do semestre. O que ocorreu foi a individualização, por parte do professor, das minhas postagens de cunho político onde algumas eram em formato de crítica ao liberalismo ou ao conservadorismo.

O Coletivo Feminista da UFRJ publicou uma nota de repúdio a Santoro, que teria visto ali uma campanha de difamação contra ele. Bubna diz que o professor passou, então, a “persegui-la”. Segundo a aluna, o docente a ameaçou com um processo por calúnia e difamação e pediu para ela deixar a disciplina.Santoro nega. Ele, que se recusou a conversar com O GLOBO nesta quarta-feira, afirma que deu todas as condições para a estudante cumprir o curso.

“Por que diabos eu, um professor substituto de contrato temporário, iria perder meu tempo e pôr minha carreira em risco para perseguir uma garota que nunca vi na vida? Simplesmente não faz sentido. E dado que somente eu fui prejudicado o tempo todo, que raio de poder é esse que eu tenho sobre outros alunos?” escreveu Santoro em uma postagem em uma página pessoal na internet.

Apoio para ambos os lados

A discussão entre professor e aluna chegou às redes sociais e ganhou vozes que defenderam ambos. Coletivos feministas e sites de esquerda denunciaram a postura do professor, enquanto colunistas liberais e um diferentes grupo de alunos da UFRJ, onde Bernardo também leciona, defenderam o docente. O aluno Leonardo Sodré afirmou que a posição do coletivo feminista da UFRJ não passa de uma “piada com a intenção de alfinetar grupos conservadores da sociedade“.

“A descrição feita pelo Coletivo de forma alguma bate com a descrição que qualquer um de nós faria. Bernardo critica, sim, muita coisa. E, algumas vezes, aspectos de certos movimentos sociais também são criticados pelo professor. E por que não deveriam ser? O que os movimentos sociais têm de tão sacrossantos que não podem sofrer críticas? Movimentos sociais são, ou deveriam ser, um reflexo da sociedade em seus mais plurais aspectos, aspectos estes que estão, sim, passíveis de críticas”, questionou o aluno.

“Não sei se tenho mais muito tempo como professor na UERJ e na UFRJ, tanto por conta desse desabafo, quanto porque tenho outros projetos muito grandes nesse semestre e isso me trouxe muitos problemas. Só sinto muito pelos meus alunos, grandes prejudicados por esse ataque virulento de cunho político contra mim. Espero poder recompensá-los um dia”, escreveu