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Eram 18h35 da terça-feira (8) quando a reportagem do G1 observou a estudante de museologia Waldenice Almeida usando a lanterna do celular para iluminar um caminho de chão batido no campus Recife da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O trajeto fica entre o restaurante universitário e o recém-inaugurado Núcleo Integrado de Atividades de Ensino (Niate). Não havia postes por perto. “Esse não é o percurso ‘oficial’, mas é o mais próximo e o mais usado pelos alunos. Sem iluminação fica muito perigoso andar aqui”, disse.

A preocupação não é apenas com uma possível topada ou queda. Em janeiro deste ano, duas estudantes sofreram sequestro relâmpago no estacionamento do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), bem próximo ao Niate. Após os episódios, a UFPE anunciou instalação de refletores, capinação e efetivo de segurança duplicado no CCSA, além da troca de lâmpadas queimadas, varrição e corte da vegetação em várias partes do campus. Os estudantes entrevistados notaram melhorias na segurança, mas ainda cobram mais esforços.

A partir desta sexta-feira (11), a UFPE informou que 98 vigilantes terceirizados — alguns deles armados e outros armados e motorizados — vão reforçar a segurança em todo o campus. Eles não ficarão estabelecidos em pontos de apoio físicos, como guaritas, mas constantemente em movimento. “Se eu construir guaritas, vou prejudicar a mobilidade do meu vigilante. Quero que a comunidade veja não o posto físico, mas o vigilante circulando”, afirma Armando Nascimento, superintendente de segurança da Universidade. Procurada pelo G1 para esclarecer as queixas sobre iluminação, a Prefeitura da Cidade Universitária não retornou as chamadas até a publicação desta reportagem.

Relatos dos alunos
No dia em que a reportagem esteve na UFPE, por volta das 18h, havia uma unidade móvel especial da ronda universitária na entrada do campus e duas no entorno do CCSA. As três estavam com as luzes piscando. “Depois do segundo sequestro, eu notei que essas viaturas estão sempre paradas por aqui. Também notei que capinaram. Mas acho que na área do estacionamento ainda está perigoso, e o foco maior dos bandidos é lá”, opinou o estudante de economia Ivan Cavalcanti.

O estudante de administração Dimas Ferreira concorda que as unidades móveis estão mais presentes no CCSA, mas diz não ter sentido melhoras em relação à iluminação do estacionamento. A presença das viaturas também chamou atenção da estudante de serviço social Josenice Silva, mas ela ainda pede que mais carros circulem em todo o campus, assim como a iluminação seja reforçada.

As estudantes de doutorado em economia Daniela Cavalcanti e Priscila Petrusca acreditam que o número de guardas aumentou, mas ainda sentem-se inseguras ao circular no campus, à noite. “Eu prefiro esperar alguém para ter companhia para andar por aqui”, comentou Daniela.

José Barros é graduado em ciências sociais pela Federal e agora frequenta a universidade para estudar para concursos. “Eu acho que o efetivo de seguranças é insuficiente para o tamanho daqui. Na área onde as pessoas correm, por exemplo, tem alguma iluminação, mas as árvores fazem sombra e você nem percebe se alguém chegar junto”, disse.

O reforço na segurança
A empresa TKS Segurança Privada foi a vencedora da licitação para o contrato que entra em vigor nesta sexta. O novo esquema foi baseado em um estudo iniciado em 2013 e concluído no começo deste ano. “O estudo serviu para analisarmos os pontos de maior vulnerabilidade. A universidade vem crescendo de forma muito rápida, seu número de edificações e de alunos também, e o sistema de segurança não acompanhou esse crescimento. Fizemos uma projeção com base nas obras que estão sendo realizadas e em seus prazos de conclusão. O contrato representa um aumento de 86% em número de postos de vigilância; e de 126% em número de homens em ação”, contabiliza Armando Nascimento.

O que o superintendente chama de ‘posto de vigilância’ não contempla necessariamente uma estrutura física onde os vigilantes ficarão abrigados. “O vigilante é o próprio posto. Queremos que ele seja visto pela comunidade universitária e pelos criminosos que estão no entorno do campus. Além desses, outros 16 motorizados vão se revezar em turnos de 12 horas e darão apoio aos vigilantes que estarão a pé”, diz Nascimento. Ele afirma que, a partir desta sexta, a segurança no campus será feita 24 horas por dia. “Hoje, a partir da 23h, nenhum vigilante circula mais. Agora, das 19h às 7h, a vigilância armada motorizada estará em ação”.

Os vigilantes que atuarão no campus foram capacitados para isso, assegura o superintendente. “Foram feitas reuniões e foi indicado à empresa qual o treinamento e o perfil do vigilante que ela vai colocar dentro da universidade. A empresa contratada tem que comprovar esses treinamentos, o grau de escolaridade desses funcionários. O contrato prevê tudo isso, conforme determina a legislação”, afirma Nascimento.

A fiscalização do trabalho dos vigilantes será feita por servidores da UFPE. Um diretor e um inspetor-geral são os responsáveis imediatos; duas pessoas atuarão como fiscais técnicos, em plantões de 12 horas. Quem tiver queixas ou reclamações a fazer sobre a atuação dos vigilantes pode procurar a Central de Segurança Institucional, perto da entrada do campus, que fica nas imediações do Centro de Ciências da Saúde.

Até o mês de outubro, a UFPE deve ter em funcionamento a central de monitoramento com câmeras, que será integrada ao Centro Integrado de Operações de Defesa Social (Ciods), da Secretaria de Defesa Social.

“Hoje nossa vigilância conta com 32 câmeras, mas com a licitação passaremos a 164. Isso vai nos mostrar tanto áreas que estão dentro do campus quanto o entorno do campus, onde temos relatos de crimes. Serão 12 pessoas de uma empresa terceirizada, trabalhando para cumprir um expediente de 24 horas por dia, mas sob coordenação da equipe de segurança da universidade”, detalha Armando Cavalcanti.

A estudante de economia Rute Alves foi umas das que sofreram sequestro relâmpago em janeiro deste ano. Na volta às aulas, no final de março, a jovem afirma que percebeu mudanças. “Vi que eles podaram árvores, trocaram alguns postes que tinham lâmpada amarela por branca. Vejo viaturas com luzes piscando e mais guardas andando pelo campus. Meus amigos agora se sentem responsáveis e me acompanham até o carro, pegam carona comigo. Acho que melhorou bastante, mas podia ser melhor o controle na entrada das pessoas, pois ainda entra quem quiser, apesar de eu achar que o pessoal na portaria está mais atento”, disse.

O delegado titular da Várzea, Francisco Júnior, é responsável pela investigação dos dois sequestros e informou ao G1 que os suspeitos ainda não foram presos. Quem souber de alguma informação pode ligar para a delegacia do bairro, nos telefones (81) 3183-5411, (81) 3183-5418, (81) 3183-5421 ou (81) 3183-5420.