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MAÍRA RUBIM

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O pesquisador Luciano Cerqueira, da Faculdade Latino América de Ciências Sociais (Flacso Brasil, GEA – ES), explica que o racismo faz parte da sociedade brasileira e está presente no futebol porque o esporte é uma parcela da cultura do país.

“O racismo não fica só nas ruas, ele também vai para os estádios. Durante os jogos, o torcedor acha que está anônimo e que pode fazer o que tiver vontade e gritar os impropérios que quiser, pois ninguém vai saber quem ele é. Assim, ele se sente livre para externalizar sua raiva e aversão aos jogadores”, disse Cerqueira.

Após episódios como do santista Arouca, chamado de macaco por torcedores do Mogi Mirim, a reportagem da Folha foi a campo e ouviu 34 jogadores negros sobre o tema. Entre eles, três reconheceram ter sido ofendidos em partidas de futebol. Já os 31 restantes afirmaram nunca ter sido vítima de racismo durante a prática do esporte.

De acordo com o pesquisador, é normal que ainda exista relutância por parte dos clubes e dos atletas em falar sobre esse assunto.
“O Brasil não se aceita como país racista, o que torna esse tema muito delicado. Nas décadas de 60 e 70, já existia o racismo. O próprio Pelé falava que era chamado de macaquito e que buscava dar o troco em campo porque isso o incomodava. Se ele que poderia falar sobre isso não falou, imagina os outros jogadores” analisa o pesquisador.

O Sul do país é o local onde o pesquisador afirma ocorrer mais casos de racismo no futebol, pois “a formação dessa região é um fator determinante para isso: há muitos descendentes de europeus e localidades onde as pessoas mal falam português porque preferem usar o idioma de seus antepassados”.

Na Europa, onde os movimentos xenófobos crescem cada vez mais, a crise econômica pode ser a explicação.

“A Europa está vivendo uma crise econômica muito aguda e quando isso acontece, é normal que a população ache que estão tirando seus recursos. Com isso, as primeiras vítimas são os estrangeiros. O fascismo também está rondando a Europa. Com a economia em crise e o fascismo em ascensão, se somar, o resultado é xenofobia” afirmou.

Faltando apenas três meses para a Copa do Mundo, a imagem que o Brasil vai passar para o mundo é uma grande preocupação.

“Quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa de 2014, era para se ter começado a pensar sobre isso, já que a nossa imagem está em jogo. Agora, toda a imundice está começando a aparecer em um momento péssimo para o país, onde todos estão olhando para a gente” disse Cerqueira.

O pesquisador ainda questiona o que poderá acontecer se houver casos de racismo durante a Copa do Mundo.

“Não conseguimos punir os nossos torcedores que cometem atos racistas e que moral vamos ter para penalizar os torcedores de outros países? O que a Conmebol vai fazer? Não fez nada no caso do Tinga” contou. Segundo ele, a própria Fifa ainda tem muito o que avançar sobre o racismo.

Para que o cenário do racismo mude no esporte, é preciso que ele seja alterado, primeiramente, na comunidade. É o que diz o pesquisador.

“Se o racismo não for exterminado da sociedade, ele não vai sair dos estádios, a mudança não vai ocorrer de dentro para fora. Racismo é crime inafiançável, mas ninguém fica preso. Primeiramente, temos que punir os casos de racismo fora dos estádios com penas mais severas porque isso inibiria o racismo nos estádios”.