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Eleita a melhor instituição de ensino superior do mundo no top 100 da THE (Times Higher Education) a Universidade de Harvard está sendo alvo de críticas de seus alunos negros, que lançaram uma campanha chamada Eu Também Sou de Harvard esta semana.

A ação traz fotos que foram publicadas nas redes sociais, nas quais os estudantes seguram cartazes que mostram frases consideradas preconceituosas, que eles ouviram de colegas da universidade.

No Brasil, especialistas apontam que apesar dos avanços promovidos por ações afirmativas como a lei de cotas que determina que 20% das vagas das universidades federais devem ser ocupadas por negros, pardos, índios e alunos de escolas públicas, a desigualdade racial ainda persiste.

O último levantamento do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) divulgado em outubro do ano passado mostrou que o número total de estudantes universitários do Brasil passou de 6,739 milhões em 2011 para 7,037 milhões em 2012. Fazendo recorte dos negros de pardos, houve um avanço. O número de universitários passou de 807.199 (11,9% do total) para 933.685 (13,2%).

Para Maria José Menezes, colaboradora do Núcleo de Consciência Negra da USP (Universidade de São Paulo), aumento do ingresso promovido  pela lei de cotas é louvável, mas a diferença do ingresso de negros e brancos nas universidades ainda existe.

“O racismo na universidade segue uma tendência presente na sociedade brasileira, ou seja, acontece de uma forma  ‘velada'”, relata a especialista.

Usando a USP como exemplo, Maria José chama a atenção para a falta de políticas de inclusão racial nas universidades públicas do Estado de São Paulo.

— As três maiores instituições públicas do Estado de São Paulo [USP, Unesp e Unicamp] não seguiram esta tendência. Nenhuma delas tem cotas para negros. A USP, por exemplo, não tem nenhum projeto de inclusão racial nem discute ações reais de inclusão dos negros. Isso é muito grave.

O reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, também defende o progresso conquistado com as cotas para negros nas universidades federais. No entanto, ele lembra que, historicamente, este debate está fora da produção acadêmica.

— A primeira reação que vemos é a resistência em tratar temas negros nas instituições de ensino. As grandes universidades não têm uma discussão real, que formula propostas para transformar a desigualdade racial da sociedade brasileira. Não existe produção de tecnologia [ações reais de intervenção] nas universidades do País.

Ele concluiu argumentando que para diminuir a desigualdade racial  é preciso aumentar a representatividade dos negros nos cargos públicos.

— Precisamos universalizar a perspectiva do negro na sociedade brasileira. Cotas nas universidades são importantes, mas não encerram o problema. É preciso aumentar o número de negros nos cargos de pesquisadores, professores, técnicos e dirigentes de universidades e instituições de ensino.