Sobram vagas em bolsas em países como Austrália, Alemanha, Hungria, Finlândia e Coreia do Sul.
Elogiado por ministros da educação de países de alta qualidade de ensino, o programa de bolsas de estudos em universidades no exterior CsF (Ciência sem Fronteiras), do governo federal, está com sobra de vagas em países como Austrália, Alemanha, Hungria, Finlândia e Coreia do Sul.
Mas apesar dos elogios, ministros de países como Irlanda e Finlândia estiveram no Brasil nas últimas semanas para conversar com o ministro da Educação, Aloísio Mercadante, sobre os obstáculos à chegada de estudantes brasileiros às universidades parceiras do programa no exterior.
Segundo números do programa, das 2.000 vagas ofertadas para a Alemanha, foram preenchidas apenas 896, enquanto apenas 20 das 300 oferecidas em universidades da Finlândia foram ocupadas. Para a Hungria, de 2.300 possibilidades, 1031 foram ocupadas. Para a Austrália, bolsistas preencheram 1.746 das 2.500 disponíveis; para a Coreia do Sul, foram 44 ocupadas, para 292 ofertadas.
O ministro da educação irlandês, Ruairí Quinn, lembra que o domínio do inglês é importante para a que o estudante consiga acompanhar as aulas, e por isso as universidades do país exigem certificação.
— Para absorver o conteúdo em aula das disciplinas na qualidade das universidades (irlandesas), é estipulado um nível mínimo de inglês.
Justamente por ser fundamental ao aproveitamento dos cursos de graduação-sanduíche no CsF lá fora, o idioma tornou-se um obstáculo na hora de tentar uma das 101 mil bolsas disponibilizadas pelo governo até 2015. O diretor da agência que gerencia universidades australianas parceiras do CsF, Vinícius Barreto, do Australian Centre, conta que o nível de proficiência do brasileiro está dificultando o acesso às bolsas oferecidas ao país.
— Na verdade, há um grande interesse pela Austrália. Mas aí tem a questão do inglês. Ele (universitário) não pode ir com um inglês muito básico. O Inglês sem Fronteiras ajuda a melhorar e muito, mas você dificilmente chega a um nível para acompanhar uma aula de graduação.
O Inglês sem Fronteiras é um complemento do CsF, no qual o bolsista pode fazer um curso on line gratuito no site do CsF. Futuramente, o curso oferecido pelo MEC (Ministério da Educação) junto com a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) também poderá ser presencial. Contudo, o pagamento dos exames de certificação já são pagos a quem estiver no CsF.
O objetivo do curso é atender 10.000 estudantes em 2014 com o ensino do inglês. Por meio de parceria entre o MEC (Ministério da Educação) e o grupo + Unidos, ação em conjunto entre a Missão Diplomática dos Estados Unidos (via Agência dos EUA para o Desenvolvimento – USAID) e empresas americanas instaladas no Brasil, o Inglês sem Fronteiras prevê a criação de 59 laboratórios de línguas estrangeiras, instalados em universidades federais, para a realização de aulas presenciais. O primeiro deve ser criado em São Paulo ainda no primeiro semestre do ano que vem.
Idioma local
A ministra da educação da Finlândia, Krista Kiuru, veio ao Brasil recentemente para investigar o que acontece com a adesão de brasileiros ao programa em seu país. Lá, das 300 vagas oferecidas para 2014 no programa, apenas 20 foram preenchidas. Ciente de que a desinformação sobre o estilo de vida finlandês e o inverno rigoroso da região possam afugentar bolsistas, Kiuru especula que ter um idioma oficial que não seja inglês pese negativamente no critério de escolha dos brasileiros a determinados países.
— Pode ser que o idioma seja um obstáculo. Precisamos estar seguros que os estudantes não deixem de buscar a Finlândia por causa do finlandês. Este não é o critério. As aulas dos cursos das universidades onde o Ciência sem Fronteiras está presente são dadas em inglês. A grande maioria da população está apta a se comunicar bem em inglês.
De acordo com os editais dos países parceiros do CsF, há sobra de vagas em países que não têm espanhol, português ou inglês como língua oficial. Das 2 mil bolsas disponibilizadas à universidades da Alemanha, apenas 896 foram preenchidas na última chamada, por exemplo. Há casos piores, como na Hungria, onde 1.031 vagas de 2.300 foram preenchidas para o próximo ano.
Fator qualidade
Barreto conta que, além do idioma, o nível da qualidade de ensino das mais modernas e inovadoras universidades do país é alto e, por isso, elas são exigentes.
— Por isso, é preciso que o candidato tenha boa pontuação no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), já que o exame foi adotado como critério na obtenção de bolsa no último edital do CsF.
Após se inscrever e apresentar a certificação de proficiência superior a 35 pontos no TOEFL IBT ou cinco no IELTS no site do CsF, o candidato tem a pontuação do Enem verificada pela equipe da Capes por meio do RG, detalha Barreto.
Mas apesar da sobra de bolsas em países europeus, o programa não tem problemas em bater metas do preenchimento de vagas, segundo a Capes.
— Existe um crenograma com metas a serem atingidas, levando em consideração o orçamento do programa. Estas metas estão sendo atingidas conforme o previsto.
De acordo com os dados do CsF, até outubro, o total de bolsas chegava a quase 55 mil. O prazo para que estudantes de engenharia, tecnologia e ciências se inscrevam no programa encerra na próxima quinta-feira (29).
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