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Como serão as universidades daqui a 10, 20 e 30 anos? Esse foi um dos principais questionamentos lançados a um grupo de pensadores, investidores e empreendedores norte-americanos que se reuniram recentemente na Universidade de Nova Iorque (NYU, da sigla em inglês) para um debate sobre o futuro do ensino superior. Entre os painelistas do encontro estava o presidente da NYU John Sexton, o professor da Escola de Negócios de Harvard, Clayton Cristensen, e Zach Sims, CEO da Codecademy, plataforma gratuita focada no ensino de programação. Todos receberam a mesma missão: levantar seus pontos de vista à respeito do impacto da tecnologia, especialmente do aprendizado on-line, sobre o ensino tradicional.

Pela diversidade de formação dos palestrantes, as previsões não poderiam ser mais plurais. No entanto, em um ponto, todos os participantes estão de acordo, como bem levantado até mesmo pelo mais conservador do time, o presidente da NYU. “Vivenciamos um momento de radical reestruturação do ensino superior. O status quo não é mais uma opção”, diz Sexton. Confira as principais apostas levantadas pelo portal Inc.:

1. A tecnologia pode ajudar as universidades a descobrirem talentos

Para John Sexton, responsável pela terceira universidade mais cara dos Estados Unidos, no futuro, as faculdades irão passar por um processo de consolidação por conta do impacto da tecnologia. “Mas isso não significa que as universidades tradicionais irão desaparecer”. O grande desafio dessas instituições que “ficarem de pé”, segundo ele, será realizar um forte trabalho na identificação de estudantes talentosos para fazerem parte do seus quadros discentes. “Especialmente aqueles que não tem recurso para financiar os estudos”, diz.

“Atualmente, realizamos um péssimo trabalho nesse mapeamento. Mas se nós soubermos utilizar a tecnologia de forma apropriada, poderemos transformá-la numa identificadora de talentos”, fala Sexton.  Criar plataformas para oferecer orientação acadêmica e capazes de identificar e apoiar bons estudantes de qualquer lugar do mundo, especialmente os mais pobres, é uma das possibilidade levantadas pelo acadêmico. Para tanto, ele cita a parceria feita pela NYU com a organização sem fins lucrativos University of People (Universidade das Pessoas, em inglês). A entidade tem um portal que oferece formação e treinamento on-line para estudantes superdotados. Os mais destacados tornam-se candidatos elegíveis para estudar no campus da NYU em Abu Dabi, capital dos Emirados Árabes Unidos.

2. A tecnologia mais acessível pode tirar os estudantes das universidades

Para o professor da Escola de Negócios de Harvard, Clayton Cristensen, as discussões sobre o futuro do ensino superior têm relação direta com os ciclos naturais dos processos de inovação. “Inicialmente, produtos e serviço são caros e complicados. Apenas os ricos têm acesso a eles”, fala citando o caso dos primeiros computadores e TV’s liberados para parte da população americana durante as décadas de 50 e 60. “Depois, de forma lenta, mas segura, mais pessoas começam a migrar para a nova inovação. Essa mesma lógica pode ser aplicada à educação”, diz.

Para Christensen, o problema ocorre justamente quando há uma demora por parte de muitas instituições de ensino a tornarem seus serviços mais acessíveis. Principalmente, porque seus modelos de negócios não permitem tal democratização. É nesse cenário, que surgem novos possibilidades mais atentas a uma população representativa que não desfruta de determinados serviços até então. “As primeiras pessoas que se aventuraram no ensino on-line eram aquelas que não tinham condições de frequentar instituições de prestígio como a NYU. Para elas, a opção do ensino à distância era melhor do que nada”.

Segundo o professor de Harvard, a tecnologia se tornará cada vez melhor. Mas, para ele, essa não é a questão principal a ser focada pelas instituições. O papel delas nesse processo e como agirão nesse contexto é o principal ponto que deve ser levado em conta.

3. Os estudantes vão exigir treinamento de habilidades práticas

A própria trajetória da fundação da Codecademy, por Zach Sims, ilustra bem essa previsão. A criação da plataforma, há dois anos, só foi possível depois que Sims decidiu abandonar a Universidade de Columbia, onde cursava Ciência Política. Segundo ele, a educação que recebia na instituição – uma das mais renomadas dos EUA –, não preparava o estudante para a vida real. “Na verdade, dois terços dos graduados acabam precisando de mais formação após a conclusão do curso”, fala.

“Nós ainda estamos focados em oferecer um modelo de cursos de dois a quatro anos de duração que não trabalha as habilidades que as pessoas precisam desenvolver para buscar um emprego ”, diz Sims. É por isso que o jovem de 23 anos aposta no modelo de aprendizado descentralizado e autônomo do Codecademy. “Programação é parte das linguagens necessárias no século 21. Nós achamos que programar ajuda a pessoa a ter diferentes pontos de vista e a alcançar seus sonhos”, falou o jovem ementrevista ao Porvir.

4. A universidade se tornará “destrinchada”

Para o investidor Albert Wenger, um dos participantes do debate promovido pela NYU, no futuro, as universidades tendem a serem mais “destrinchadas”. “À princípio, quando as universidades surgiram, quando o estudante queria ouvir alguém falar era preciso estar na mesma sala do interlocutor, quando se queria ter acesso a um livro, era necessário ir até a biblioteca. Mas isso já não faz mais sentido”, Wenger.

De acordo com ele, startups e outras empresas surgirão com o propósito de oferecer soluções que buscam inovar ainda mais a experiência universitária. A Science Exchange é um exemplo que aponta nessa direção. A empresa é uma espécie de mercado comunitário on-line voltado a prestadores de serviços científicos. Lá, tanto fornecedores quanto pesquisadores oferecem suas especialidades além de administrarem os seus projetos.

5. A universidade de amanhã não se parecerá com uma universidade

Clay Shirky, do Instituto de Jornalismo da NYU, que também participou do evento, prevê para o futuro o surgimento de mais instituições especializadas, como a Universidade Rockefeller, focada em pesquisas biomédicas. Para ele, muitas dessas novas instituições “sequer se parecerão com uma universidade”. O projeto Polymath, é um dos exemplos citado por Shirky. Ela se diferencia das demais universidades digitais por “focar em educar os alunos para concluir um projeto, não uma disciplina”.

“Se você pensar na universidade atual, logo vai pensar nas estruturas rígidas que fazem parte da rotina acadêmica: a ideia de classe, de curso, de disciplinas, de crédito, de departamento. No entanto,  nenhuma delas é algo real. O que é real são os alunos. O conhecimento das coisas é real. Ser capaz de fazê-las também é algo real. As pessoas, no futuro, vão encontrar formas alternativas de ensinar essas coisas. É a partir desse processo que o disruptivo aparecerá”, sentencia Shirky.