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Marcado para os dias 26 e 27 deste mês e com cerca de 7,1 milhões de inscritos, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mais uma vez será realizado em meio a uma polêmica sobre as implicações políticas de suas perguntas e os critérios de correção – principalmente o da prova de redação. Nas últimas edições, algumas questões foram formuladas com nítido viés ideológico, avaliando não o conhecimento dos alunos, mas sua opinião com relação a temas como direitos humanos e identidade sexual, por exemplo. No caso da redação, a falta de domínio das normas cultas do idioma não foi levada em conta na definição das notas.

 

Redações com erros grosseiros de ortografia – como “enchergar”, “rasoavel” e “trousse”- e de acentuação, pontuação e concordância obtiveram a nota máxima na prova de 2012. Na época, vários pedagogos afirmaram que a concessão de nota máxima a quem não tem mérito leva os estudantes a se acomodarem e estimula a banalização da língua portuguesa, impedindo a formação de profissionais capazes de se comunicar corretamente. Refutando a crítica, o Ministério da Educação afirmou que a tolerância com erros de português decorreu da “consideração de ser o participante do Enem, por definição, um egresso do ensino médio, ainda em processo de letramento na transição para o nível superior”.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, prometeu mais rigor no Enem de 2013, afirmando que os corretores da prova tolerarão apenas “desvios pontuais” para a concessão de nota máxima. A divulgação do Guia do participante – a redação no Enem de 2013, contudo, mostra que a promessa dificilmente será cumprida. Com relação ao guia do ano passado, por exemplo, as menções a erros “mais graves”, “graves” e “leves” foram suprimidas. Algumas redações a título de ilustração também contêm problemas de acentuação, erros de concordância e uso inadequado de palavras.

Para as autoridades educacionais, por ser mais conciso do que o do ano anterior, o guia de 2013 é “mais objetivo e rigoroso”. Elas também afirmaram que os dois guias não poderiam ser comparados, pois foram formulados com base em editais distintos.

“Quando não sou muito conciso, dou margem a interpretações como as que vocês da imprensa questionaram, e, em alguns pontos, devidamente. Os corretores vão se basear no edital e na objetividade do texto. Se acharem excepcionalidade e não repetição (no erro), muito bem. O guia tem de ser aprimorado ao longo do tempo”, diz Luís Cláudio Costa, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela aplicação do Enem.

Para os pedagogos, o problema não está no aprimoramento do guia, mas na continuidade da leniência do Inep com a falta de domínio da norma-padrão da língua escrita.

“O Inep está dizendo explicitamente aos candidatos que um erro será perdoado. Quando digo que o Inep reforça a impressão de que o objetivo é subir as notas, estou me baseando nos números do Enem e comparando-os com o desempenho desses mesmos alunos em outros exames. Basta examinar os textos dos participantes do Enade para ver que o caos redacional impera”, diz Claudio Henriques, titular de Língua Portuguesa do Instituto de Letras da UERJ, depois de enumerar erros cometidos, como “egnorancia” e “bule” (bullying).

“Não pode haver maior ou menor rigor linguístico. A norma existe e deve ser obedecida. Erro de concordância é gravíssimo. Como posso ter um sujeito no plural e o verbo no singular? Se os candidatos não forem capazes de se fazer entender na língua materna, como terão condições de adquirir outros conhecimentos? Nivelaremos sempre por baixo?”, pergunta o professor Jerônimo de Moraes Neto, da UFRJ.

Infelizmente, essa tem sido a sina do Enem. Em vez de valorizar apenas o conhecimento e o mérito, a avaliação faz concessões a “variantes linguísticas” e outros modismos pedagógicos, comprometendo sua credibilidade.