O crescimento no número de brasileiros que vão fazer graduação ou pós fora do país nos últimos anos está chamando a atenção das universidades estrangeiras, especialmente as de ponta. O aumento é tamanho que as instituições gringas resolveram abrir escritórios locais no Brasil. Só para se ter uma ideia, hoje, segundo a Belta (Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais), são mais de 170 mil alunos brasileiros estudando fora, mais que o dobro do registrado há cinco anos. O objetivo dessas instituições é buscar atrair ainda mais alunos e fortalecer parcerias científicas com grupos de pesquisas nacionais. Somente nos últimos três anos, desembarcaram por aqui representações administrativas de importantes instituições alemães, americanas, britânicas, entre outras nacionalidades.
Esse movimento de atração e envio de professores e alunos coloca o Brasil como participante ativo de uma das tendências que têm se mostrado mais fortes no ensino superior: a internacionalização do ensino. Em conversa com o Porvir, Katie Blot, CIO da empresa Blackboard e uma estudiosa do mercado de educação superior, apontou essa movimentação de universidades em busca de conhecimento em outros países como algo a se ver cada vez mais nos próximos anos. “As pessoas poderão consumir educação de diferentes lugares. E eu não estou falando de Moocs [cursos on-line, normalmente de nível superior, dados de graça]. Estou falando de sistemas de educação tradicionais”, diz Katie.
De fora para dentro
E tal aproximação, ao menos no Brasil, só fez crescer. Excluindo o escritório da Universidade Harvard, instalado em São Paulo há 7 anos, desde 2010 criaram base no país pelo menos outras 12 universidades estrangeiras. São elas: as universidades de Saint Gallen com sede na Suíça e a Livre de Berlim(ambas em 2010), a Universidade Autônoma do México (2011), a Notre Dame dos Estados Unidos e a Nova de Lisboa (as duas em 2012). Neste ano, foi a vez da Universidade do Sul da Califórnia, com escritório inaugurado em fevereiro, e logo em seguida, um mês depois, ocorreu a criação dos escritórios das universidades de Edimburgo e o anúncio da implantação de uma representação da Universidade de Colúmbia no Brasil. Todas as unidades, que são fixadas no Rio de Janeiro ou em São Paulo, funcionam como uma ponte que facilita o intercâmbio discente e docente do país para o exterior, e vice-versa.
Somam-se a essas instituições, a formalização de um convênio de parceria entre o Australian Centre – uma agência de intercâmbio especializada em pacotes de estudos para a Austrália, com sede em São Paulo – e o Grupo ATN (Australian Technology Network Universities, ou Rede de Universidades Australianas de Tecnologia, em português). Com esse acordo, o Australian Centre acabou se transformando no escritório local que representa as cinco instituições que integram o grupo ATN: a Universidade de Curtin, aUniversidade Queensland de Tecnologia, a Universidade do Sul da Austrália, a Universidade Tecnológica de Sidney e a Universidade RMIT.
Para o especialista em educação Claudio de Moura Castro, ex-diretor geral da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), a proliferação desses escritórios se justifica pelo interesse dessas instituições em “abrirem as portas” para os alunos e pesquisadores brasileiros. “Essas universidades de prestígio vêm ao país, basicamente, para estimular bons estudantes brasileiros a estudar no exterior e também para promover a vinda de professores estrangeiros para participar de pesquisas com cientistas brasileiros renomados. Elas não têm pretensão alguma de abrir uma filial para oferecer curso”, fala Castro, que integra o conselho da representação de Harvard em São Paulo.
De dentro para fora
Uma das razões para a implantação dessas representações estrangeiras é o Programa Ciência Sem Fronteiras. Por essa iniciativa do governo federal, está prevista, até 2015, a concessão de 101 mil bolsas de estudos para universitários e pesquisadores realizarem intercâmbio no exterior. Até o momento, mais de 50 mil estudantes já obtiveram o auxílio. A bolsa anual que bancar os estudos lá fora pode ultrapassar R$ 60 mil por aluno.
O Australian Centre percebeu o potencial de troca do programa federal com as universidades australianas e tem dedicado especial atenção aos potenciais beneficiados pelo Ciência Sem Fronteiras. “As universidades do Grupo ATN são opções para universitários que queiram cursar uma graduação sanduíche com mensalidades e todas as despesas relacionadas ao intercâmbio pagas pelo governo brasileiro”, afirma, em nota, a agência de intercâmbio.
Segundo a diretoria de educação do Conselho Britânico, sediada na capital paulista e que abriga, entre outras instituições, o escritório da Universidade de Edimburgo, a criação do programa federal “aproximou” as universidades brasileiras e britânicas, tanto no âmbito de pesquisa conjunta quanto na concessão de intercâmbio de estudantes e professores. “O Conselho Britânico desenvolve um importante papel de aproximação sociocultural entre o Brasil e o Reino Unido desde 1945, e o Ciência sem Fronteiras veio a fortalecer ainda mais os laços acadêmicos entre os dois países. Temos atendido diariamente centenas de jovens estudantes brasileiros interessados em prestar o Ielts [exame de certificação em inglês] para estudar em universidades britânicas. A implantação deste programa já é um marco na história dos dois países”, diz, em nota, Claudio Anjos, diretor de exames do Conselho Britânico no Brasil.
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