As mídias sociais não são nenhuma novidade. Os ancestrais tribais da maioria das antigas sociedades partilhavam informações e conhecimentos com as novas gerações por meio, por exemplo, do uso de pinturas rupestres, situação na qual as informações eram reunidas socialmente (ou seja, não por apenas um indivíduo), e a tinta, os corantes e as gravuras rupestres eram usados como meio.
Depois de milênios compartilhando informações dessa maneira, a chegada da Internet desencadeou uma grande revolução ao reinjetar na sociedade o poder das mídias sociais. De uma hora para outra, todos os tipos de informações puderam ser partilhadas quase que instantaneamente em grandes distâncias.
De maneira lenta, mas firme, essa revolução também está entrando no ensino. A Web 2.0 (a “Web participativa”) chegou ao nosso conhecimento no ensino por volta de 2007, quando sites como Facebook e YouTube começaram a entrar na consciência do público. Como a computação móvel foi adicionada a essa mistura, de repente a vida de todos no plano da educação e em outros pode ser partilhada – desde modelos de aprendizagem a receitas culinárias.
Porém, o uso das mídias sociais no ensino superior está levando mais tempo para se difundir do que, digamos, o ato de tuitar sobre uma nova receita para o jantar. Talvez não seja surpreendente o fato de que, até agora, o emprego das mídias sociais para ensinar e aprender (incluindo ferramentas como Facebook, Twitter, LinkedIn, blogs, wikis e podcasts) aumentou cerca de 20% em 2010 para 40% em 2011 e para quase 50% em 2012.
As ferramentas de mídia social estão em uso entre os docentes do ensino superior, e esse uso cresce continuamente a cada ano. No entanto, ainda falta muito para que tenha aceitação geral.
Como podemos fazer isso? Em primeiro lugar, vamos observar a questão a partir de um ângulo diferente. Ouvimos falar muito, na literatura profissional e de pesquisa atual, sobre a “sala de aula invertida”, na qual, para descrever de maneira bem simples, os alunos fazem o dever de casa antes dos professores darem a aula sobre o assunto. Com a orientação do professor, os estudantes focam a atenção primeiramente em lições interativas, leituras, vídeos, podcasts, etc. Depois, os professores avaliam o que os alunos aprenderam e preenchem as lacunas com uma instrução dirigida e, em grande parte, personalizada.
O uso de ferramentas de mídia social – tanto na Internet como no mundo real – é semelhante a esse método de aprendizagem, em que os alunos se tornam produtores de conhecimento, ao invés de apenas consumidores.
Aqui vão algumas ideias, modestamente simples, que os professores podem experimentar para começar a levar essa participação às suas turmas:
Backchannels do Twitter: Um backchannel é simplesmente uma maneira de usar hashtags (#) do Twitter para identificar algo que é relevante para outras pessoas, fazendo uma busca no assunto em questão. Por exemplo, nas minhas próprias aulas, peço aos meus alunos para tuitarem qualquer coisa que possa ter relevância para nossa matéria de Sociologia da Educação, adicionando #socy3050 (o número da matéria) aos tweets deles. Então, posso ir ao Twitter ou usar de ferramentas relacionadas para buscar essa hashtag e ver o que se passa na cabeça dos meus alunos.
Grupos do Facebook: Há três tipos de grupo: Abertos, Fechados e Secretos. (Aqui há descrições das características de cada tipo: https://www.facebook.com/help/220336891328465). Um grupo “Secreto” permite que professores e alunos partilhem informações de aula entre si, mas impede que pessoas de fora do grupo vejam o que está sendo postado. É quase como ter um “clube secreto” dentro do Facebook e é algo que pode ser divertido, além de educativo.
Quadros do Pinterest: No momento, o Pinterest é a ferramenta de mídia social que mais cresce na Internet. Ela permite que os membros criem versões virtuais do antigo conceito de “quadro de avisos”. Posso não somente colar fotos, receitas, ideias e histórias do meu interesse, como também compartilhar isso com outras pessoas e ver o que elas estão compartilhando. Um professor poderia criar um quadro no Pinterest para sua turma compartilhar todos os tipos de informações, e os alunos podem “seguir” o professor, assim como poderiam seguir as colagens uns dos outros.
Dois fatores são vitais para o uso bem-sucedido dessas ferramentas no ensino. O primeiro se refere à pesquisa feita por Lev Vygostsky, no início do século XX, sobre a aprendizagem social, no sentido de que ela pode ter êxito quando há o que ele chama de “outro mais experiente” participando do grupo. Esse é geralmente o papel do professor: servir de modelo para o uso de ferramentas sociais de aprendizagem de uma maneira que impulsione os alunos em direção aos seus objetivos coletivos. Não basta simplesmente criar um grupo para a turma no Facebook. O professor deve explicar aos alunos a utilidade do grupo, como por exemplo: postar fotos de projetos de classe, vídeos relacionados ao conteúdo da matéria e tópicos de discussão sobre eventos atuais.
O segundo fator, especialmente importante para muitos professores, é a confiança. Assim como no caso da sala de aula invertida, os professores devem assumir o risco de que seus alunos farão o dever e o farão da maneira correta. Dar pequenos passos e experimentar só um pouco de aprendizagem social pode ajudar professores e alunos a aprender a desenvolver esse laço de confiança.
Em função desses elementos e do fato de estarmos nos aproximando da massa crítica no uso das mídias sociais para o ensino e a aprendizagem, não tenho dúvida de que uma revolução no ensino superior está próxima. Assim como as mídias sociais pintadas em cavernas tiveram o poder de influenciar o entendimento, por parte de uma sociedade, de sua história, as mídias sociais baseadas na Web têm o poder de alterar nossos fundamentos pedagógicos, mudar o paradigma e revolucionar as maneiras pelas quais nós – professores e estudantes – partilhamos conteúdos e ideias.
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