fbpx

São Paulo – Quando o assunto é produtividade, a palavra mais repetida é só uma:educação. Parece unanimidade entre os empresários do setor industrial e economistas que, embora tenhamos grandes problemas de infraestrutura, tecnologia e insegurança jurídica, a falta de preparo da mão-de-obra brasileira é o grande entrave que impede que nosso nível de produtividade alcance os padrões internacionais.

Em debate realizado no EXAME Fórum, que ocorre nesta segunda-feira na capital paulista, Besaliel Soares Botelho (presidente da Robert Bosch América Latina), Cledorvino Belini (presidente da Fiat), Pedro Passos (Membro do Conselho de Administração e Cofundador da Natura) e Gustavo Franco (ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos) discutiram sobre as razões que impedem as empresas brasileiras de melhorar sua produtividade.

Contrariando a tese do professor Dani Rodrik, do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, que em fala mais cedo afirmou que nem infraestrutura, nem educação ou mesmo a gestão macroeconômica das últimas décadas são os maiores entraves que o Brasil enfrenta para vencer a corrida por uma maior produtividade, os quatro brasileiros bateram na mesma tecla: sem educação não dá. 

O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, usou como exemplo a comparação entre a produtividade de um empregado de uma empresa brasileira e o de uma empresa com pelo menos 10% de capital estrangeiro.

Segundo ele, o funcionário de uma empresa multinacional é 25% mais produtivo. “Isso acontece porque ele traz pra dentro da empresa as melhores práticas de gestão do mundo, sobretudo no setor de serviços”, afirmou.

Besaliel Soares Botelho, presidente da Bosch, apresentou um número ainda mais impressionante: “nós gastamos quase R$6 bilhões por não-qualidade do setor”. Isto é, foram R$ 6 bilhões desperdiçados no processo produtivo na tentativa de evitar quedas de qualidade. Segundo ele, esse montante está relacionado à educação, treinamento e à capacidade tecnológica da indústria como um todo. 

“Nós como empresa multinacional estamos tentando trazer boas práticas para melhorar a produtividade. Nós entendemos que os temas de produtividade estão dentro dos nossos portões, mas eles passam também pelo que o nosso maior sócio, o governo, pode nos ajudar”, afirmou Botelho. 

Para Cledorvino Belini, presidente da Fiat, o problema da mão-de-obra atinge diretamente o setor de inovação das empresas.

“Há 60 anos, Brasil e Coreia do Sul tinham o mesmo nível de educação, com 35% de analfabetismo. Hoje, eles erradicaram e nós continuamos com 13% de analfabetos. Eles têm 88% dos jovens na universidade e nós só temos 18%. Isso nos afeta muito, porque a produtividade avança junto com a inovação. Não podemos fazer só a inovação incremental, precisamos fazer a disruptiva para poder dar saltos de produtividade”, explicou.

Estado menor

Outra questão unânime entre os debatedores foi a necessidade de um estado menor. 

“O Brasil é grande demais para que a gente espere que o governo faça as coisas acontecerem. Na maior parte do tempo as coisas acontecem sem as que as autoridades possam interferir”, disse Gustavo Franco.

“O problema é que as autoridades erram e acertam quando têm que fazer escolhas e os erros tendem a ser mais lembrados. Por isso, em muitos casos, é melhor deixar o mercado funcionar porque os problemas costumam ser menores que os erros das autoridades quando resolvem se meter”, completou.

Ele comentou ainda a polêmica capa da revista britânica The Economist, que mostra o Cristo Redentor caindo, uma atualização da capa de 2009 que afirmava que o Brasil decolava, junto com a pergunta: “o Brasil estragou tudo?”.

“Há quem diga que a The Economist errou nas duas capas”, disse. “Quando veio a primeira capa, ninguém se manifestou pedindo mais moderação na euforia. A segunda capa foi feita com o cuidado de quem precisa preservar os mais de 100 anos de reputação, mas o texto me pareceu mais moderado que a capa”, afirmou Franco. 

País fechado

Pedro Passos, da Natura, trouxe ainda a questão de sermos um país fechado para a globalização. Segundo ele, o Brasil é um dos países mais fechados do mundo e esse é um dos fatores que seguram a produtividade. “Somos um país fechado, bastante protegido e que deixou de avançar na agenda internacional de comércio há alguns anos.” Ele afirma que ficamos presos ao acordo de comércio do Mercosul e não nos integramos às cadeias globais, o que nos afastou dos níveis de produtividade internacionais.