A crescente presença do ensino privado no País tem ganhado destaque nos últimos tempos. O ensino superior é um dos maiores filões, com aproximadamente 2 milhões de alunos concentrados em cerca de dez grupos.
Programas de incentivo por parte do poder público, como o ProUni (Programa Universidade para Todos) ou o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), favoreceram o acesso ao ensino nas instituições particulares em uma escala até então nunca vista.
Por mais extenso que possa ser o debate sobre o papel entre ensino público contra o ensino privado, o ex-ministro da Educação e senador Cristovam Buarque (PDT-DF) não vê com maus olhos o investimento nesse tipo de empresa.
— Não sou contra o investimento em educação. Eu prefiro o investimento em educação do que em uma indústria automobilística, em uma indústria poluidora, em uma indústria de bens de consumo para ricos.
O senador, porém, destaca que o maior problema não é o investimento na educação privada, mas a ausência do poder público na área.
— O que eu vejo com preocupação é que o Estado não está preenchendo o seu papel para fazer com que não seja necessária a educação privada. Mas, se o governo não está fazendo, pelo menos o setor privado está preenchendo o espaço.
Questionado sobre como fica a qualidade do ensino, uma vez que o objetivo das empresas de educação é obter lucro, Cristovam foi enfático.
— A tendência, para dar lucro, é aumentar o número de alunos por sala e diminuir o salário do professor. Com isso, a qualidade vai lá para o buraco. O reflexo disso com o tempo é o diploma ser o produto, e não o conhecimento. As pessoas pagam para ter um diploma, e não para adquirir conhecimento, já que a qualidade das faculdades não dão (sic) o conhecimento que o diploma deveria refletir.
Para exemplificar, o político cita o carro que foi comprado para ficar parado.
— É como se você comprasse um carro para ficar na garagem. O carro não tem motor. A pessoa não tem capacidade de colocar o conhecimento em prática, pois este não está de acordo com as exigências do mercado.
A forte presença das empresas no mercado de ações também é outro ponto que preocupa Cristovam.
— Por enquanto, o que está havendo, a meu ver, é a especulação na Bolsa. Hoje, essas empresas estão na Bolsa para especular. Aí é um problema mais do mercado do que da educação. Pode até melhorar a qualidade [do ensino] com esse dinheiro, mas creio que o objetivo central seja um negócio como outro qualquer. E o pior, um negócio especulativo, e não um negócio que tenha base no produto que gera.
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