Os anos da faculdade já são marcantes na vida de qualquer estudante. Mas como tornar essa experiência ainda mais memorável para o jovem que acabou de sair do ensino médio? E mais: como fazer para que nesse momento, o estudante consiga desenvolver todas as suas potencialidades por meio de um ensino inovador e de excelência? Essas foram algumas das inquietações que motivaram a criação do Projeto Minerva, uma audaciosa proposta de ensino superior que pretende reunir jovens talentosos de todo o mundo para estudarem juntos e de forma itinerante em várias cidades do globo (já falamos do Minerva por aqui). Com previsão para iniciar a primeira turma no segundo semestre de 2014, o projeto abriu mundialmente, nesta quarta-feira (18), as inscrições para seleção de 19 candidatos interessados em fazer parte da sua primeira turma. O prazo para o cadastramento das aplicações vai até o dia 31 de dezembro deste ano.
Com a intenção de promover um ensino de excelência comparável ao das universidades top dos EUA, como Harvard e Stanford, um dos principais apelos do Minerva – um projeto apoiado pelo ex-reitor de Harvard, Larry Summers – é mesmo o seu modelo itinerante de aulas. Nele, os alunos selecionados terão a possibilidade de estudar durante os quatros anos da graduação em algumas das principais metrópoles o mundo, como São Franscisco – onde está a sede do Minerva – e Shangai. Além delas, outras cinco cidades localizadas em outros continentes, mas que ainda não foram escolhidas em definitivo, também farão parte do roteiro. O Brasil figura entre os países que receberão a universidade, a dúvida está entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Durante toda a jornada, os alunos “cidadãos do mundo” irão dividir os mesmos dormitórios.
crédito jeanette dietl / Fotolia.com
E este não é apenas o único ponto que diferencia o projeto – que tem o nome inspirado na deusa da sabedoria –, das outras instituições de ponta que formam os principais líderes globais. A estratégia de aprendizado da universidade inclui o uso de uma plataforma adaptativa e aulas em tempo real ministradas por professores de prestígio, via streaming, a turma de estudantes reunidos fisicamente em qualquer lugar do mundo. A proposta é que, por meio da plataforma, seja feita uma avaliação contínua sobre o desempenho de cada um dos estudantes a partir da análise dos trabalhos, exercícios e estudos realizados durante o curso.
O projeto pretende expandir o número de alunos para 750 a partir de 2015. No entanto, não está entre suas estratégias tornar-se uma instituição de massa. Assim todas as suas turmas terão menos de 25 alunos. “A nossa ideia é competir contra as Ivy League (organização que reúne as universidades norte-americanas de elite). E temos uma grande chance de ganharmos essa competição. Possuímos uma pedagogia diferente tendo como suporte a tecnologia. Além disso, temos um foco global. O estudante que sair da Minerva terá desenvolvido uma ampla capacidade de pensamento crítico e inovação. Serão pessoas muito especiais,” afirmou ao Porvir o diretor do Projeto Minerva para América Latina, o uruguaio Alex Aberg Cobo. Segundo ele, há “grandes” chances de alunos brasileiros e latinoamericanos participarem do primeiro grupo.
Seleção
Utilizando a mesma lógica das aplicações para universidades estrangeiras, o candidato interessado em participar da seleção precisa, antes de tudo, dominar bem o inglês. Durante o cadastramento da aplicação – que dura em torno de 20 minutos –, ele terá que preencher informações sobre testes de certificação de fluência na língua, além de dados sobre seu histórico escolar. Também terá que detalhar experiências profissionais e pessoais ligadas ao desenvolvimento de atividades criativas, de liderança e até menção à trabalhos voluntários realizados previamente. Na sequência, também serão feitas entrevistas via Skype com diretores baseados nos EUA, além de visitas aos candidatos feitas por representantes do projeto espalhados por todo o mundo.
E se a intenção do Projeto Minerva é promover um ensino de excelência comparável ao das Ivy League, uma diferença, no entanto, poderá ser sentida no bolso: como a plataforma é on-line, os fundadores esperam conseguir que as taxas anuais (em torno de US$ 28 mil) sejam um pouco menos que a metade dos quase US$ 60 mil cobrados, em média, pelas outras instituições de ponta. A proposta do time é criar uma instituição que entenda a internet como um meio legítimo de acesso a conhecimento de alta qualidade. “O papel pedagógico da Minerva é preparar os alunos para prosperar no mundo real”, diz o site da iniciativa ao definir os seus pilares.
E mais, para atrair mais candidatos – não apenas o público regular de instituições de elite –, todos os selecionados para a primeira turma terão os seus custos com anuidade (em torno de US$ 10 mil) subsidiados pela universidade. Ou seja, os alunos precisariam desembolsar, aproximadamente, US$ 18 mil ao ano, para cobrir os gastos de seguro saúde, alojamento, alimentação, material didático e outros custos adicionais. Não foram computadas as despesas com passagens aéreas, que ficam à cargo do estudante. “Sempre foi nossa intenção oferecer uma educação extraordinária e acessível a estudantes talentosos de todo o mundo. Experiência acadêmica de alta qualidade e mensalidades acessíveis não são mutuamente excludentes”, afirma, em nota, o CEO do Projeto Minerva Ben Nelson.
O resultado dos candidatos selecionados no processo seletivo será divulgado até o dia 15 de fevereiro de 2014.
Fotos do site que mostram a expectativa do que seria o dia a dia dos alunos
Metodologia
Depois de selecionados, os estudantes cobaias da primeira turma da Minerva trabalharão sempre em grupos, dentro de um lógica baseada em seminários e com um currículo focado nos estudos de inovação humana. O processo de aprendizagem vai trabalhar habilidades de lógica, raciocínio crítico, teoria da complexidade e da retórica, sempre interligadas com a realidade que circundam os estudantes. Atividades de análises empíricas e debates entre os participantes terão destaque dentro do curso.
Além disso, seguindo a ideia da sala de aula invertida, a todo o momento, os estudantes serão incentivados a assistir videoaulas sobre os assuntos a serem discutidos com o grupo ou com o professor “digital”. “Quase todos os aspectos do Projeto Minerva são inovadores. O mais importante é que o currículo da universidade é centrado em um orientação analítica, que ensina os estudantes a pensarem criticamente em qualquer circunstância”,disse a assessoria do projeto ao Porvir.
Para trabalhar com toda essa metodologia, os estudantes terão à disposição cursos voltados às áreas de arte, humanidades, ciências sociais, naturais, ciência da computação e negócios. Todo o currículo será interdisciplinar e cada aula pretende se basear em informações e habilidade aprendidas nos encontros anteriores.
Com tantas inovações em relação ao modelo tradicional de ensino, a Minerva precisou se associar a uma instituição formal, KGI (Keck Graduate Institute), que diferentemente da Minerva, possui um câmpus físico, tudo isso para que futuramente nenhuma empresa questione o diploma de um aluno da instituição recém criada. “O convencimento [futuro] dos empregadores é a mais fácil de todas as nossas tarefas. Atualmente, eles já não estão tão satisfeitos com os profissionais que saem das melhores universidades. Então quando nós explicarmos nossa metodologia, conseguiremos vender nossos alunos muito bem”, disse ao site Inc.com, o CEO do Minerva.
Para mais informações, confira a entrevista, em inglês, do CEO Ben Nelson à Bloomberg.
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