fbpx

Quase metade das matrículas de Pedagogia estão, hoje, em cursos à distância no país. De acordo com o Censo da Educação Superior 2010, o mais recente, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC (Inep), 47,87% dos estudantes cursam graduação não presencial (EAD) para se tornarem Professores.A pesquisa Educação à Distância: Oferta, Características e Tendências dos Cursos de Licenciatura em Pedagogia, feita pela Fundação Victor Civita (FCV), em parceria com a Professora Maria Elizabeth de Almeida, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), buscou entender a modalidade de Ensino e traçar um perfil dos Alunos.

O levantamento foi feito entre 2011 e 2012, por meio de pesquisa em oito instituições, sendo cinco públicas e três privadas, localizadas em Manaus (AM), Recife (PE), Goiânia (GO), São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS); e com base em dados oficiais do Ministério da Educação (MEC).

A responsável pelo estudo acredita que o alto índice de estudantes que já atuam na área é reflexo da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e que a má impressão de que os cursos em EAD são menos difíceis é uma questão inerente a essa modalidade de Ensino. “Para fazer um curso à distância, em EAD, você está muito mais provocado a trabalhar com leitura e escrita do que em um curso presencial, onde as relações se fazem por meio da oralidade”, assinala Maria Elizabeth.

Angela Dannemann, diretora-executiva da FCV, lembra que a crescente busca pela modalidade foi estimulada por políticas governamentais. “Houve um grande incentivo para que surgissem cursos de EAD no Brasil. Além da Universidade Aberta (do Brasil, a UAB), um programa do governo federal, estimulou-se que a iniciativa privada criasse também esse tipo de curso”, afirma. Para Angela, o maior acesso de Docentes a cursos de EAD permitiu que muitos profissionais sem diploma conquistassem formação.

PESQUISA
Mais de 273 mil Alunos estão matriculados em cursos de EAD.

Apenas 12,29% desses Alunos estão em instituições públicas.

Dos Alunos que cursam Pedagogia à distância, 67% já trabalham na área da Educação.

Entre os Alunos, 44% acreditavam que o curso seria mais fácil.

 

Formação apenas virtual é perigosa
Os dados da pesquisa “Educação à Distância: Oferta, Características e Tendências dos Cursos de Licenciatura em Pedagogia” são, no mínimo, preocupantes para a pedagoga Helena Sporleder Cortes, Professora da Faculdade de Educação da PUCRS, de Porto Alegre. “Eu não posso preparar pessoas, que irão preparar outras pessoas, apenas virtualmente, sob o risco de descaracterizar a formação do pedagogo, essencialmente humana, e que precisa do olhar, do toque e do ouvir o outro”, avalia Helena.

Destacando a importância do uso das tecnologias, a Educadora defende a modalidade semipresencial, com 20% de atividades virtuais, para reforço do conteúdo de sala de aula e com articulação entre teoria e prática. “Na formação do Professor existem disciplinas que exigem a presença, o olho no olho”, ressalta, citando o estágio, como exemplo. “Eu, Professora em Porto Alegre, e o Aluno em Cascavel. Como vou saber o que ele está fazendo na Escola?”, adverte.

Pelo estudo da FVC, alguns dos problemas enfrentados na Educação à Distância (EAD) são os mesmos dos cursos presenciais. “O maior desafio, especificamente em Pedagogia à distância, é que, lamentavelmente, reproduz os mesmos problemas do presencial”, analisa Angela Dannemann, da FVC. “Ele é muito teórico, não aborda dificuldades práticas de sala de aula e, na realidade, está buscando formar muito mais um futuro universitário pesquisador do que um Professor aplicado na rede Escolar da Educação básica”, considera.

Para Helena Cortes, o problema é que a legislação permitiu proliferação de cursos, nem sempre qualificados, que prometem uma formação rápida (de cerca de dois anos e meio) e são muito procurados para quem quer resolver rápido o problema de obter um diploma. Mas como a pesquisa mostrou, engana-se quem pensa que é um curso fácil. “Os cursos à distância exigem muito mais autonomia e disciplina do que um curso presencial”, assinala Helena, especialista em Tecnologia Educacional.