Neste dia 16 de setembro, completam-se 33 anos da morte de Jean Piaget. E ainda há educadores que interpretam mal seus conceitos – e assim o aplicam em sala de aula. O protagonismo dado à criança pelo construtivismo acaba muitas vezes relegando o professor a um mero figurante, o que não era o objetivo do pensador.
Ainda que não fosse pedagogo de formação – era biólogo –, os conceitos criados pelo suíço influenciam fortemente a educação, mas a área nunca foi o seu foco. O estudioso trouxe à luz algo que hoje nos parece óbvio: o funcionamento do pensamento das crianças não é como o dos adultos, e isso modificou a forma de ensino da educação infantil.
Se anteriormente acreditava-se que a pessoa ou nascia inteligente ou seria incapaz de aprender por toda a vida, Piaget demonstrou que, na verdade, trata-se de uma capacidade de se adaptar. Assim, as crianças desenvolvem sua inteligência a partir da interação com o meio em que vivem: são ativas na sua aprendizagem, e não um mero agente receptor. “O grande lance dele é dizer: a criança é inteligente (capaz de aprender) desde que nasce. Então, vamos olhar pra ela dessa forma, vamos atribuir capacidades para uma inteligência que começa pela ação do corpo e gradativamente vai virando pensamento”, comenta a professora de Psicologia da Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Gláucia Grohs.
Contudo, essa ideia não foi inicialmente bem compreendida pelos educadores em meados dos anos 70. “O construtivismo é a ideia de que a criança é ativa na sua aprendizagem; daí a dizer que ela é a única (agente ativa) é errado”, afirma Zena Eisenberg, professora de Psicologia do Departamento de Educação da PUC-Rio. Segundo ela, quem deve organizar o processo pedagógico para que a assimilação de novas informações aconteça é o professor, mas as primeiras tentativas construtivistas (mescla dos conceitos de Piaget com os de Lev Vygotsky) foram mal adaptadas.
Segundo a especialista em Psicologia da Educação, Sandra Freire, Piaget estudou as crianças nos seus cotidianos, sem problematizar a questão do ensino, o que levou a essa má interpretação dos seus conceitos: quando traduzidos pelos educadores na prática em sala de aula, pensou-se em atribuir à criança a autonomia completa na sua aprendizagem, tornando o professor um mero figurante; um erro, na ótica das entrevistadas. Observar o que é construído pela criança e oferecer a ela mais subsídios para que possa continuar desenvolvendo é, por exemplo, a base do método de alfabetização desenvolvido pela pesquisadora argentina Emilia Ferreiro, a partir das teorias piagetianas. Nele, procura-se identificar como a criança começa a reconhecer os símbolos e com que meios se vai alimentando esse processo para que ela desenvolva a escrita.
Apesar de criticarem a má aplicação dos conceitos de Piaget, especialistas reconhecem que há uma revisitação aos seus princípios desde o final dos anos 1990. Para Zena, é preciso falar da sua contribuição para a educação e para a psicologia, e mostrar, a partir daí, que não se trata de um método, mas de uma forma de auxiliar na construção de práticas pedagógicas.
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