As seis manifestações realizadas até agora em São Paulo, e que se espalharam pelo Brasil, revelam uma retomada dos estudantes às movimentações sociais, na opinião de especialistas. Iniciados a partir da decisão da Prefeitura de São Paulo de aumentar a tarifa do ônibus de R$ 3 para R$ 3,20, inicialmente impulsionados pelo MPL (Movimento Passe Livre), e disseminados pelo País com solicitações contra o valor das passagens praticado no transporte público, movimentos estudantis estão nas ruas, mais uma vez no papel de protagonistas de grandes mobilizações.
A coordenadora de ciências sociais da Universidade Metodista, Luci Praun, afirma não ter dúvida que as manifestações representam uma retomada da liderança estudantil aos movimentos sociais, além de contar ainda com o apoio de boa parte da sociedade.
— É uma retomada [do movimento estudantil na liderança das manifestações populares]. Eu não tenho a menor dúvida disso.
Para ela, ainda que a luta iniciada pelos estudantes nas manifestações recentes bastante difusa, a reivindicação contra o aumento da passagem de ônibus é, na visão de Luci, um pretexto, “algo que catalisou um descontentamento muito profundo” e não representa um descontentamento apenas da juventude pelo fato de encontrar apoio de boa parte da sociedade.
— A luta do Movimento Passe Livre trouxe outras questões. Os protestos pela redução da passagem de ônibus foram um “pretexto” e catalisaram um descontentamento profundo que estava vivo na sociedade e se espalhou rapidamente no País.
De acordo com o professor de ciências políticas da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Antônio Carlos Mazzeo, o movimento estudantil sempre esteve presente, mas há “uma nova qualidade” nas manifestações atuais em comparação ao período da ditadura no Brasil.
— No atual contexto das movimentações, os estudantes possuem um núcleo forte e também são trabalhadores que expressam uma insatisfação existente na sociedade brasileira. Isso é comprovado pelos cartazes usados. Na ditadura, os estudantes iam às ruas e não sabiam se voltavam para a casa.
Segundo Mazzeo, a participação dos estudantes expressa uma vontade de não aceitar mais passivamente o que lhe parecer imposto de cima para baixo, e toma as ruas como um recado ao governo.
— O que pessoas querem dizer nas ruas aos governantes: Vocês podem fazer o que quiserem, mas nós vamos aceitar ou não. Se não aceitarmos, nós vamos para as ruas fazer manifestação contra o que vocês estão impondo.
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