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Na sala de aula, o professor fala em inglês, e os alunos respondem no mesmo idioma. Na bibliografia, de novo a língua estrangeira. A cena é cada vez mais comum dentro de faculdades brasileiras, mas não se tratam de aulas de idiomas: o inglês é usado para ensinar desde estratégia empresarial até conteúdos que soam difíceis em português, como fraseologia aeronáutica e os temidos cálculos. Em busca de internacionalização, as instituições brasileiras, a exemplo do que é feito em nações como França e Alemanha, oferecem disciplinas ministradas em inglês, o que as torna mais atraentes para estrangeiros e favorece as parcerias com outras faculdades do Exterior.

 

Na Universidade de São Paulo (USP), a Faculdade de Economia e Administração de Ribeirão Preto (Fearp) oferece aulas do tipo desde 2010. Presidente da Comissão de Relações Internacionais, a professora Luciana Morilas, que também ministra disciplinas no idioma estrangeiro, destaca que o objetivo é a internacionalização da instituição. “Esse tipo de ação, somada às aulas de português para estrangeiros e de um aumento na produção acadêmica em língua inglesa, nos ajuda a estabelecer relações com outras universidades de excelência, que, muitas vezes, colocam isso como um pré-requisito para firmar parcerias”, afirma.

 

No início, obstáculos como a Constituição e o regimento interno da universidade, que impõem o português como língua oficial, tiveram que ser superados. Hoje, porém, os estudantes procuram essas disciplinas, oferecidas por professores da instituição com fluência na língua, para exercitar o idioma. A universidade sempre disponibiliza turmas espelhadas, ou seja, com o mesmo conteúdo em português. “A ideia é que a USP se torne internacional, mas não deixe de ser brasileira. Seguimos valorizando nossa língua materna, inclusive estimulamos os intercambistas a aprenderem o português”, lembra Luciana.

 

Exemplos também no Nordeste e no Sul
Uma das pioneiras, a Universidade de Fortaleza (Unifor) oferece aulas em inglês desde 2009. Atualmente, 22 disciplinas dos cursos de Administração de Empresas, Comércio Exterior e Economia são oferecidas na modalidade, e uma totalmente em língua hispânica passou a ser ministrada neste semestre.

 

Na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), um projeto piloto disponibiliza aos estudantes de graduação e pós-graduação disciplinas em inglês em cursos como Ciências Aeronáuticas, Letras, Direito, Administração, Ciências da Computação, entre outros. Assim como na USP, no caso gaúcho, a motivação é auxiliar a instituição no processo de internacionalização, mas também existem as opções das mesmas turmas ministradas em português, segundo a diretora de graduação, Valderez Lima. “O inglês é uma escolha do aluno, sempre garantimos a aula na língua materna para todos, até porque alguns não dominam outro idioma”, esclarece.

 

Estudante de Ciências Aeronáuticas da PUCRS, Braidon Gorziza, de 24 anos, aprova a iniciativa. Aluno de um curso que exige um vasto conhecimento do idioma, em função dos manuais de aeronaves, comunicação e bibliografia, ele sabe que, na sua área, o inglês é fundamental. “No nosso curso, devemos ser cidadãos do mundo, já que a profissão é toda voltada para isso”, declara. Entre seus colegas, ele não percebeu muita dificuldade em lidar com o idioma, pois quase todos já sabiam da necessidade e haviam se preparado anteriormente. Sobre a adoção do inglês em outros cursos, Braidon faz um alerta: “Se não há demanda pela língua na área, acho um pouco forçado. A gente deve preservar e aprender o nosso idioma”.