A prisão do ex-aluno da Universidade de São Paulo (USP), na quarta-feira (11), queefetuou disparos no alojamento em São Carlos (SP), no dia 28 de agosto, tranquilizou os estudantes. O atentado deixou clara a fragilidade da segurança na universidade. Com a detenção temporária de Alexandre José Coutinho da Rocha Lima, a rotina na universidade começa, aparentemente, voltar ao normal.
“O pessoal ficou mais tranquilo e agora não tem mais aquele receio de andar aqui à noite, passar perto do alojamento”, disse o estudante Leonardo Cantolini. “É bom saber que não vai mais precisar se esconder nos quartos, se preocupar se tem ou não segurança aqui dentro”, completou o também estudante Normando José dos Santos Junior.
Em frente ao alojamento já não há mais o carro da segurança 24 horas. Alguns estudantes, entretanto, acham que ainda é cedo para diminuir a vigilância, uma vez que o atirador deve ficar preso por apenas cinco dias. “O ideal seria deixar ele lá o tempo necessário para que ele não seja solto e volte a ameaçar a gente aqui de novo”, ressaltou Santos Junior.
O delegado Aldo Donisete Del Santo adiantou que o ex-aluno da USP não responderá por tentativa de homicídio, mas por disparo por arma de fogo e ameaça. A prisão temporária não será prorrogada porque o delegado considera que o caso está praticamente esclarecido.
Prisão
O ex-aluno de ciências exatas compareceu ao 3º Distrito Policial, que investiga o caso, acompanhado de um advogado, na tarde de quarta-feira (11). Ele entregou um revólver calibre 38, usado para efetuar os disparos, que na ocasião não atingiram ninguém. A arma estava com duas munições intactas e outras três deflagradas. A quarta bala deflagrada ele disse que perdeu. Ao G1, o rapaz afirmou que o bullying que sofria na universidade motivou o ataque.
Após prestar depoimento, ele foi levado para o Centro de Triagem de São Carlos. Segundo a Polícia Civil, o ex-aluno disse que depois dos disparos foi para Araraquara e seguiu para São Paulo, onde permaneceu nos últimos 14 dias.
Em uma das entrevistas que concedeu ao G1no início deste mês, o ex-aluno já havia manifestado a intenção de se entregar. Ele disse ter conversado com algumas pessoas e até com o próprio advogado, que apontaram essa como a melhor alternativa. “Disseram que é melhor do que eu ficar foragido. Eu quero voltar à minha vida normal e acho que se me entregar e pagar pelo que fiz que vai ficar mais fácil recomeçar. Pretendo colaborar com a polícia”, disse na ocasião.
Prisão e inquérito
O advogado de Lima não foi encontrado para comentar o caso. “Ele fica preso para facilitar a investigação, tirar as dúvidas e para esclarecer os fatos de forma concreta. Ele pode prestar novas declarações toda a vez que for necessário”, afirmou o delegado seccional de São Carlos, Rogério Fakhany Vita.
O delegado Donizete Del Santo, que investiga o caso, informou que o inquérito está praticamente concluído e faltam apenas os resultados das perícias no alojamento e na arma. A previsão é que eles fiquem prontos na próxima semana.
O caso
No dia 28 de agosto, o ex-aluno invadiu o alojamento do campus com uma arma, agrediu um estudante com coronhadas e fez vários disparos. Ninguém foi atingido pelos tiros. O suspeito é o rapaz que denunciou ter sido vítima de um suposto abuso sexual durante um trote com veteranos, em março.
Segundo testemunhas, o ex-aluno ainda fez disparos que acertaram as paredes e as janelas do alojamento. Alguns alunos disseram que ele dizia que queria vingança. Em entrevista exclusiva ao G1 no dia 29 de agosto, o ex-aluno do curso de Ciências Exatas disse que sofre bullying dos estudantes na universidade e na internet há pelo menos seis meses, desde que denunciou o abuso no trote. Ele afirmou que foi armado à universidade porque estava com raiva. “Eu estava totalmente desequilibrado”, disse na ocasião.
As aulas da graduação foram suspensas no dia seguinte ao ocorrido e a ação do ex-calouro deixou muitos estudantes com medo. “Pensei que fosse morrer, porque ele estava armado e era fácil pegar a gente”, disse um dos estudantes que estava no alojamento e não quis se identificar.
Os estudantes retornaram ao campus na sexta-feira (30), mas relataram que a sensação ainda era de insegurança. Desde o ataque, uma viatura da guarda universitária fica de plantão em frente ao alojamento onde tudo aconteceu. A universidade reforçou a segurança com a ajuda da Polícia Militar.
Depressão
O ex-aluno do curso de ciências exatas trancou a matrícula alegando que sofre bullying, desde a denúncia do assédio, supostamente ocorrido em março. Ele disse que estava depressivo pelo fato de ter abandonado a faculdade. “Praticamente, eu me entreguei mesmo. Eu não fazia mais nada, absolutamente nada. Acordava, dormia e não saía da cama Ficava ali o dia inteiro. Pedi ajuda várias vezes para a universidade. Pedi para passar com um médico. Pedi para trocar a minha receita, porque a médica da outra vez receitou antidepressivo e tudo. Eu pedi para que eu tivesse esse tipo de suporte, mas eles negaram. Eu estava totalmente abalado e descontrolado, acabei entrando e fazendo aquilo”, contou.
Universidade
O estudante acusa a USP de ter sido negligente na apuração do suposto abuso sexual. “A universidade deveria ter tomado alguma providência, afastado essas pessoas pelo menos enquanto ocorria a sindicância. E não foi feito absolutamente nada”, declarou.
A assessoria da USP informou que a universidade ofereceu ao ex-aluno atendimento psicológico e também os auxílios que dispõe para garantir a permanência dele no curso, mas, mesmo assim, ele optou por sair da USP.
Ainda de acordo com a assessoria, a sindicância aberta para apurar o caso da suposta agressão sexual foi concluída e deu origem a um processo administrativo que está em trâmite na universidade.
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