Referência na rede pública de ensino e berço do aprendizado de renomados mineiros, como o sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho (1935-1997), e prestes a completar 88 anos dedicados à prática escolar, o colégio Pedro II, no bairro Santa Efigênia, região Centro-Sul de Belo Horizonte, tem motivos de sobra para ser um dos mais cobiçados da cidade. Por dia, pelo menos um pai cujo filho cursa uma instituição particular tenta uma transferência para a escola gratuita.
A tentativa de migração no ensino médio, no entanto, não se deve só ao respeitado modelo de educação adotado no imóvel tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). O recente fenômeno de troca da escola paga para a rede estadual não é exclusivo da Pedro II. A entrada em vigor da Lei das Cotas, que acaba de completar um ano de vigência, obrigando a reserva de vagas nas universidades federais, tem contribuído diretamente, admitem diretores de escolas e famílias de estudantes.
Levantamento feito pelo Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) aponta que, desde o ano passado, quando foi sancionada a lei das cotas nas instituições de nível superior, cerca de 4 mil alunos da capital e da região metropolitana optaram pela troca. O grupo ainda é tímido, representa cerca de 2% do total de matriculados na rede particular (187 mil). Porém, seria suficiente para lotar cem salas de aula.
Vagas limitadas
Mas conseguir a troca para uma escola de referência ainda no 1° ano do ensino médio não é tarefa fácil. Na maioria das escolas não há vagas. Quem teve sorte comemora, como a professora Marcelle Triginelli, de 35 anos. Mãe de uma estudante que pretende disputar uma vaga em universidade federal pela reserva de cotas, ela transferiu a filha para a escola Pedro II no início deste ano.
A decisão foi tomada em conjunto com a família, que já traça outros objetivos na educação da menina. Antes, Marcelle pagava R$ 980 de mensalidade na rede particular. A economia, ao longo dos anos, permitirá o investimento em outras fontes de formação educacional, como um intercâmbio.
Quem também conseguiu a migração foi a estudante Beatriz Rezende, de 15 anos. A jovem sempre estudou na rede particular e hoje está matriculada na Escola Estadual Maurício Murgel, no bairro Nova Suíça, região Oeste de BH.
Feliz com a mudança, a aluna conta que foi surpreendia pela qualidade do ensino oferecido. “O material didático não perde em nada para o que é oferecido nas escolas particulares. A biblioteca é ótima, temos bons professores e fiz novas amizades”, conta a menina, que ainda busca uma vaga no Cefet.
Filha de uma professora de escola pública, Beatriz conta que a decisão foi bastante incentivada pela mãe, Sancha Livia Resende. “Foi uma maneira de nos readequarmos à nova realidade do ensino a partir da lei de cotas”, afirma Sancha. “Mais do que simplesmente ter mais chances de conseguir uma vaga em uma universidade federal no futuro, nós acreditamos na força da escola pública. Acho que todos deveriam ter direito a uma educação gratuita de qualidade”, acrescenta.
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