São Paulo – A Universidade Virtual de São Paulo (Univesp) deverá oferecer, a partir de 2014, novos cursos de graduação nas áreas de Biologia, Física, Química, Pedagogia, Matemática, Engenharia da Computação e de Produção. Com a ampliação, o governo estadual pretende criar 5 mil vagas e transformá-la na quarta universidade estadual paulista. No entanto, não estão previstos investimentos na infraestrutura, como a construção de prédios e laboratórios.
De acordo com o presidente da Fundação Univesp e ex-reitor da Unicamp, o linguista Carlos Vogt, os novos cursos a serem mantidos pela instituição, seja de maneira autônoma ou em parceria com USP, Unicamp e Unesp, a princípio vão utilizar as estruturas presentes nessas três universidades e em unidades do Centro Paula Souza, que reúne as Fatecs (faculdades de tecnologia), “otimizando, desta forma, os recursos e a estrutura do sistema de ensino superior público paulista”.
A primeira turma de graduação em Pedagogia formou-se em 28 de julho passado, em cerimônia no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo. Na ocasião, segundo a Agência Fapesp, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse ser aquele um dia histórico para o ensino superior no estado de São Paulo. E acrescentou: “Estamos avançando e inovando. A Univesp é a universidade da linguagem do século 21”.
Um dia antes, o governador criou 137 cargos, sendo 29 de livre provimento e 108 permanentes. Desse total, 35 para professores com título de doutorado e cinco para professores titulares. Segundo Vogt, o quadro de pessoal aprovado contempla as necessidades previstas para a ampliação da Univesp, que ganhou autonomia didático-pedagógica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial em 20 de julho de 2012, quando foi promulgada a Lei 14.836, que a criou. Até então, era um programa de formação superior à distância que contava com a parceria das três universidades paulistas, do Centro Paula Souza e da Fundação Padre Anchieta.
“Os cargos para docentes recentemente aprovados por decreto são referentes à primeira contratação de professores próprios da Univesp, ou seja, aqueles que atuarão na concepção, elaboração, acompanhamento e avaliação dos cursos oferecidos, a partir de agora, de forma autônoma pela Univesp, bem como aqueles em parceria com outras instituições”, disse.
Críticas
Desde a criação da Univesp, em outubro de 2008, como programa voltado “à expansão do ensino público, gratuito e de qualidade”, professores das universidades ditas parceiras da Univesp e estudantes não poupam críticas ao modelo dirigido sobretudo à formação de profissionais para a rede pública de educação básica.
O diretor da Associação dos Docentes da USP (Adusp) e professor do Instituto de Física da mesma universidade, Otaviano Helene, defende o ensino presencial como o mais adequado. “Esse modelo possibilita a interação entre estudantes, deles com os professores, bem como o contato sistemático de ambos com os objetos do conhecimento, como o acesso a bibliotecas, laboratórios e seminários, além de perspectivas de iniciação científica e de pós-graduação – o que não existe na educação à distância”, disse. “Não sei como vai ser o curso de engenharia, mas pelo que tudo indica será de segunda ou terceira qualidade.”
Já o Ensino à Distância (EaD), mesmo que com programa semipresencial, além de inadequado, é ainda excludente ao não permitir formação de qualidade para estudantes que em sua ampla maioria foram excluídos do ensino presencial e sobretudo das melhores universidades. “Além disso, esses estudantes não contam com espaço e ambiente adequados para estudar em casa, o que prejudica ainda mais a sua formação.”
O dirigente entende a EaD como instrumento complementar no processo educacional, sem jamais substituir o ensino presencial. “Usualmente, a EaD é voltada para aqueles que, de fato, não podem se deslocar até o local de estudo. Por exemplo, a maioria dos estudantes da Open
, do Reino Unido, é formada por pessoas com problemas de locomoção, encarceradas ou morando em regiões muito distantes. Mas o país continua investindo pesado na educação presencial.”
Conforme Helene, se a modalidade trouxesse reais benefícios para a formação, para os profissionais e para a sociedade, seria adotada em massa pelos países mais avançados. Pelo contrário. Diversos deles, como Espanha, Austrália e Nova Zelândia, por exemplo, que chegaram a adotá-la, acabaram voltando atrás e as empresas educacionais à distância não prosperaram.
Segundo ele, há o temor de que o formato de ensino da Univesp venha a substituir o de outras universidades e até o do ensino médio público. Além disso, entende que a grande carência de professores no país não será facilmente sanada com essa modalidade de formação independente das tecnologias envolvidas, e sim na modalidade presencial. “Há milhares de mestres e doutores que podem contribuir em cursos presenciais de formação de professores para a educação básica: só faltam políticas para tanto”, disse, ressaltando que esse modelo proposto pelo governo por meio da Univesp é interessante apenas para as grandes empresas de equipamentos e programas de informática.
Para o presidente da Associação dos Professores da Unesp (Adunesp), Antonio Luis de Andrade, o Tato, também há a preocupação de os cursos da Univesp, aos poucos, virem a substituir cursos presenciais nas demais universidades estaduais. “E então passará a existir universidades de primeira e de segunda classe”, disse.
Tato lamenta o fato de o governo Alckmin, em vez de aumentar os investimentos na educação, com melhores salários para os professores, preferir economizar com o setor e oferecer educação à distância.
Por e-mail
Os estudantes endossam as críticas. Para a presidenta da União Estadual dos Estudantes (UEE) de São Paulo, Carina Vitral, o estado de São Paulo convive com dois modelos antagônicos. De um lado, universidades de excelência, como a USP, Unicamp e Unesp, e de outro a exclusão e a segregação simbolizadas por esse conceito de EaD da Univesp, destinada aos estudantes que não foram incluídos nas melhores instituições.
“Não condenamos a educação à distância quando é oferecida com qualidade, de maneira a complementar a formação. O que não aceitamos é um modelo supostamente inclusivo porém sem qualidade, sem laboratórios, sem interlocução com professores, uma educação por e-mail”, disse Carina.
Segundo Carlos Vogt, da Univesp, os cursos são semipresenciais. Todos têm carga horária de atividades presenciais, que varia de acordo com as necessidades, a natureza, a organização e a concepção de cada curso. São atividades desenvolvidas nos polos de apoio presencial. Consistem em atividades pedagógicas nas quais os alunos se reúnem para seminários, aulas práticas em laboratórios e avaliações, com acompanhamento dos professores mediadores.
O número de alunos por professor varia de curso para curso. Em Pedagogia, por exemplo, cada turma de 50 alunos contava com dois professores orientadores de turma e dois professores orientadores de disciplina. No curso de licenciatura em Ciências, a relação é de um professor mediador para cada 45 alunos, além dos professores tutores, responsáveis pela interação com os alunos no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Dúvidas são esclarecidas nesse ambiente, pela internet e nas atividades presenciais desenvolvidas nos polos. “Há uma interação aberta e constante com os professores para garantir o acompanhamento, o desempenho e a avaliação contínua.”
Segundo Vogt, as atividades práticas são feitas nos encontros presenciais, em laboratórios “reais” existentes nos polos, onde os alunos têm acesso a uma gama de atividades interativas no AVA, possibilitadas pelo uso das tecnologias de informação e comunicação nas quais podem ser feitos exercícios, simulações e jogos para colocar em prática os conceitos aprendidos em aula. Como exemplo, confira aqui alguns tipos de recursos e atividades disponíveis no AVA do curso de Licenciatura em Ciências, desenvolvido em parceria pela Univesp e a USP.
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