Enquanto em países como Chile, Argentina, Estados Unidos e Reino Unido mais de 30% dos jovens frequentam a universidade, esse número cai para aproximadamente 15% no Brasil. “Como vamos competir com esses concorrentes no cenário global?”, pergunta-se o professor Fredric Litto. E ele mesmo responde: “educação a distância é a única forma de correr atrás do prejuízo”.
Em palestra apresentada no dia 27 de agosto, o presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) e professor aposentado da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP apresentou e questionou os diversos mitos que cercam a educação a distância (EAD) no Brasil e entravam o desenvolvimento dessa modalidade. Sua fala trouxe à tona questões que envolvem não apenas a discussão sobre a qualidade da EAD, mas também ideias do senso comum que aumentam a resistência à modalidade.
Uma delas baseia-se na noção de que o ensino a distância é uma novidade. Litto lembra que a Universidade de Londres trabalha com essa abordagem desde 1858, com cursos por correspondência, e que foi a partir de cursos como esse que Mahatma Gandhi e Nelson Mandela concluíram seus estudos superiores. Litto ressalta também que a EAD não é composta apenas de conhecimentos estruturados em forma de curso, mas incluem ainda os acervos digitais, a realidade virtual, entre outros formatos que envolvem a mediação virtual, sem caracterizar-se como um curso.
Outro mito é o de que a aprendizagem a distância acontece sempre integralmente a distância. Esse processo pode ser misto, como é o caso da Licenciatura em Ciências da USP, o primeiro curso semipresencial oferecido pela instituição. Foi a convite do professor Gil da Costa Marques, professor do Departamento de Física Experimental e coordenador geral da Licenciatura em Ciências, que Litto veio apresentar a palestra, como parte de um esforço em trazer o tema à Universidade. Marques acredita que a superação dos mitos abordados por Litto já está acontecendo na USP. “Nós já começamos esse processo mediante o oferecimento do curso e estamos demonstrando, na prática, que esse é um modelo que pode funcionar muito bem”, afirma o professor, que ressalta que o desempenho desses alunos é o mesmo dos alunos dos cursos presenciais. “Acho que a primeira coisa que deveríamos fazer, já fizemos, que é experimentar. E a partir dessa experiência, vamos procurar avançar”, completa.
Pesquisa na área precisa amadurecer
O avanço necessário em relação ao ensino a distância envolve, além da superação dos mitos, o desenvolvimento de pesquisas na área que explorem as possibilidades da modalidade. “Continuamos, infelizmente, presos a questões políticas, normas, legislação. Precisamos de muito mais alternativas pedagógicas, alternativas tecnológicas”, afirma Litto. Nesse sentido, o professor Gil da Costa Marques observa o momento oportuno para a universidade avançar nas pesquisas sobre ensino a distância. “Precisamos pesquisar novas modalidades, fazer análises comparativas de desempenho, de eficácia. De, outra forma, a universidade vai ser atropelada. Esse é um momento que não tem mais volta, então ou a universidade entende isso e participa ativamente ou então estamos fadados ao insucesso”, alerta.
O ambiente multidisciplinar que envolve o aprendizado a distância pode colaborar com esse avanço e superar o “atraso lastimável” que nossa herança histórica trouxe à educação. “Eu noto nesses últimos anos que quase todo mundo que trabalha com EAD aqui no Brasil, assim como no exterior, não foi preparado para ser um profissional de educação a distância. São profissionais de diversas áreas, o que é muito bom, pois traz uma riqueza de experiências acadêmicas”, pondera Fredric Litto.
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