Foi em busca da carreira acadêmica e de oportunidades em empresas de consultoria que o economista Felipe Augusto de Araújo, 26 anos, procurou o mestrado na Universidade Federal de Belo Horizonte (UFBH). Mestre desde outubro de 2012, ele se uniu ao grupo que cresce aceleradamente de profissionais com títulos de mestrado. De 1996 a 2009, a média de crescimento foi de 11% ao ano no Brasil. O aumento, segundo especialistas, é reflexo de uma política de incentivo à expansão de cursos de pós-graduação adotada pelo Ministério da Educação (MEC), e de uma demanda do mercado por capacitação de alto nível.
Os dados são do estudo Mestres 2012, publicação inédita divulgada recentemente pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Entre 1996 e 2009, o número de novos mestres passou de 10.389 para 38.800, o que representa um crescimento de 273%. A busca por cursos de mestrado e doutorado está se disseminando pelo Brasil além do eixo entre Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Enquanto a média nacional de crescimento dos títulos de mestrado foi de 126%, o aumento foi de 82% no Sudeste. Nas demais regiões o índice foi maior: Norte, 341%; Centro-Oeste, 233%; Sul, 184%; e Nordeste, 179%.
A demanda por profissionais com titulação gerou um crescimento da oferta de programas de pós-graduação stricto sensu, que incluem mestrado acadêmico, mestrado profissionalizante e doutorado. Segundo dados do MEC, de 1996 para 2011, o número total de programas em universidades públicas e privadas passou de 1.209 para 3.096, um aumento de 156%. O salto maior foi entre as instituições privadas, de 103 para 568 programas. As universidades públicas, no entanto, ainda detêm a principal oferta de mestrados e doutorados, com registro de 2.528 programas em 2011.
A abertura de novos programas depende da aprovação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) junto ao MEC. “A expansão de cursos é fruto de uma política de incentivo à pós-graduação nas últimas décadas, que tem sido acompanhada pela procura por títulos”, diz Rodrigo Capelato, diretor executivo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Senesp).
Docência
Para Gustavo Fagundes, consultor jurídico da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), o rigor no processo de seleção das instituições de ensino superior e de seus cursos também é responsável por favorecer a formação de mestres. Desde 1996, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, pelo menos um terço do corpo docente das universidades federais e privadas deveria ter titulação de mestrado ou doutorado. No entanto, um dos critérios que o MEC utiliza para avaliar cursos superiores é a porcentagem de professores com mestrado e doutorado, o que levou universidades federais e privadas a exigirem titulação de seus docentes.
Em março de 2012, o MEC dispensou a exigência de mestrado e doutorado para os professores que prestassem concurso para ministrar em universidades federais, equiparando a contratação de professores à das demais carreiras de servidores públicos. Neste mês de maio, no entanto, o MEC recuou, alegando um erro na lei, e publicou no Diário Oficial da Uniãouma medida provisória que determina a necessidade de doutorado para concorrer a novas vagas para docente nas universidades federais.
Atualmente, 44% dos mestres e 59% dos doutores brasileiros atuam em instituições de ensino superior. “A adoção de programas de estímulo à qualificação e à profissionalização dos docentes vem contribuindo para essa expansão, embora estejamos longe de uma adequada profissionalização da carreira docente”, diz Fagundes.
Durante o mestrado, Felipe era bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e, por isso, chegou a dar aulas na disciplina de Introdução à Economia em turmas de graduação em engenharia. Hoje, Felipe é professor no Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte. Tornar-se professor acadêmico foi um dos motivos que o levou a procurar o mestrado, mas não foi o único. Como é tendência do mercado, principalmente na área industrial, ele procurou o curso em busca de qualificação profissional e de melhores salários. Os brasileiros cujo nível de instrução mais elevado é o mestrado recebem remuneração média 84% superior aos que apenas concluíram o curso superior.
Mestrados profissionais
A área do conhecimento em que mais cresceram os programas de mestrado de 1996 a 2009 é a multidisciplinar, com taxa de crescimento excepcional de 794%. Como explica a coordenadora do estudo Sofia Deher, a área multidisciplinar é uma classificação da Capes criada em 2008, que combina subáreas convergentes como Ensino de Ciências e Matemática; Materiais e Biotecnologia; Meio Ambiente e Agrárias; Engenharia, Tecnologia e Gestão; Saúde e Biológicas; e Sociais e Humanidades.
Boa parte do crescimento dessa grande área se deveu aos cursos de mestrado profissional, que começaram a existir em 1999. Em 2009, 28% dos programas de mestrado da grande área multidisciplinar eram de programas de mestrado profissional, recomendado para quem está em busca de conhecimento para aplicação prática no mercado de trabalho. Em 2009, 8% do total de titulados formaram-se nesse tipo de programa, o que equivale a 3.102 mestres. Cursos de mestrado nas áreas de Sociais Aplicadas cresceram 244%, e nas engenharias 142%. Ambas as áreas também estão proporcionalmente relacionadas ao crescimento dos mestrados profissionais.
O salário dos mestres profissionais, em média, é 37% mais alto do que o dos mestres acadêmicos. Ou seja, o mercado de trabalho vem acolhendo bem os novos mestres. Fagundes comemora a maior procura pelo título com foco profissional e deseja que a mudança se intensifique. “É fundamental que exista uma articulação mais efetiva do ambiente acadêmico com o ambiente de trabalho”, ressalta Fagundes.
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