Lacunas deixadas pelo poder público se tornam negócios de futuro nas mãos de empreendedores
O Brasil precisa investir em educação para crescer. Mas o caminho óbvio tem por aqui um processo lento. São lacunas históricas, que nos últimos anos se tornaram ainda maiores diante dos avanços tecnológicos e da massificação da internet.
O cenário pouco animador, no entanto, está mudando. Justamente nos espaços não preenchidos pelo sistema de ensino público, brotam oportunidades para empresas de pequeno e médio portes. E a carência de soluções para o setor atrai um grupo de investidores disposto a financiar esse tipo de negócio.
“O Brasil tem hoje o maior grupo de ensino do mundo (resultado da fusão entre Anhanguera e Kroton). Isso causa estranhamento no exterior. Mas é um processo meio óbvio. Nos últimos anos, com a economia em ascensão, ficou fácil perceber a carência de mão de obra técnica qualificada”, analisa Carlos Souza, sócio-fundador do Veduca, plataforma online que oferece sem custo aulas em vídeo com professores de grandes universidades.
A percepção de que o mercado tende a crescer foi encarada como oportunidade para Souza, que deixou seu emprego de nove anos na Procter & Gamble para montar o site. “Participei de uma feira nos Estados Unidos onde eram apresentados e premiados os trabalhos mais inovadores do mundo. Um dos vencedores tinha desenvolvido uma lixeira que minimizava os impactos ambientais da cidade. Quando vi como ela funcionava, pensei na inviabilidade do negócio no Brasil. As pessoas não saberiam como usá-la. Vi que a gente não tinha educação para lidar com esse tipo de novidade”, conta o empresário.
A constatação o impulsionou a criar, com ajuda de quatro sócios, um site para distribuir conhecimento. Em um ano e meio, o projeto já conta com mais de 5 mil aulas gratuitas. O próximo passo da empresa é apostar em certificados de educação à distância (EAD) – o usuário só paga caso queira um certificado e, para conseguí-lo, passará por provas online. Pioneiro, o projeto chamou a atenção de grandes universidades do mundo como Harvard, Yale e Stamford, hoje fornecedoras da principal matéria-prima do negócio.
“As grandes universidades já estão avançadas nesse sentido e possuem um grande número de aulas digitalizadas. Fizemos um trabalho de curadoria e escolhemos as melhores”, explica o empresário, que agora pretende incluir material produzido por instituições nacionais no programa. “No final de 2012 começamos a ficar mais conhecidos e, desde então, aceleramos muito o processo de parcerias com universidades brasileiras.”
Para transformar a ideia em negócio, Carlos e os sócios tiveram de ser realistas. “Investimos um capital nosso para iniciar e prospectar investidores. Sabíamos que o negócio só começaria a dar retorno dentro de um prazo mais longo”, explica. Poucos meses após a fundação, ainda em 2012, a empresa recebeu R$ 1,5 milhão de investimento. Com a venda de certificações das aulas, neste ano, existe a expectativa de que o faturamento seja de R$ 1,3 milhão.
A história de Souza e seus sócios lembra muito o avanço recente obtido pelos amigos Claudio Sassaki e Eduardo Bontempo no segmento. Em janeiro do ano passado, a dupla iniciou a operação da Geekie. A startup vende uma espécie de simulado de preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e, agora, prepara para o segundo semestre o lançamento de uma plataforma virtual de plano de estudo personalizada.
Em pouco mais de um ano, a dupla atraiu investidores, conta com cerca de 40 escolas entre os clientes e, neste ano, planeja impactar 1 milhão de estudantes. “Qualquer área onde você tenha uma carência muito grande do setor público, você tem oportunidades. Acho que a educação é uma delas. A grande diferença é que, por meio da tecnologia, você consegue escala, sobretudo nessa geração que é plugada no computador”, destaca Sassaki.
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