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O Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca Emaús), em articulação com o Unicef e o governo do Pará, promove esta semana em Belém dois eventos sobre os direitos de jovens. Começa, hoje, o Encontro Amazônico de Adolescentes, que transcorre até a próxima quarta-feira. Na quinta-feira, será a vez do Colóquio Amazônico de Adolescentes.

O colóquio pretende reunir 200 adolescentes dos nove estados da Amazônia Legal, que, ao final da programação, vão entregar a Carta de Princípios dos Adolescentes da Amazônia Legal aos representantes dos governos dos estados envolvidos.

Eles vão pedir que sejam tomadas providências para reduzir os alarmantes índices de morte de adolescentes na região. Desde 2002, 6.662 adolescentes e jovens foram mortos só no Pará, estado campeão em mortes na Amazônia. Destes, 3.212 eram negros.

Os eventos também esperam incluir o direito dos adolescentes nas agendas dos governos estaduais e municipais.

Hoje à tarde, e como parte da programação, serão lançados a campanha contra a letalidade (“Adolescentes e jovens – Viver sem nada. Morrer por nada”) e o selo de 30 anos de existência do Cedeca Emaús. A campanha é uma realização do Cedeca Emaús, Movimento de Emaús e Unicef.

 

Encontro – Com abertura hoje, às 14 horas, o Encontro Amazônico de Adolescentes, no auditório da Cidade de Emaús (rua Yamada, 17, Bengui). No dia 11, dia da realização do Colóquio, a Carta dos Adolescentes será entregue às autoridades, no Centro de Memória da Amazônia, na travessa Rui Barbosa, 491 (esquina com a rua Ó de Almeida), no Reduto.

Em 2010, mais de 3 mil menores de 21 anos morreram no Pará

O Mapa da Violência mostra que, somente em 2010, 3.471 adolescentes e jovens com idades entre 12 e 21 anos de idade foram assassinados no Pará. Já o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) aponta uma projeção de mais de três mil adolescentes mortos de forma violenta na região Norte até 2015 se nada for mudado.

De acordo com os organizadores do evento, as causas da alta incidência de morte de adolescentes estão relacionadas à educação de baixa qualidade, à discriminação e aos impactos negativos de grandes obras e projetos.

Coordenadora do Cedeca Emaús, Celina Hamoy diz que os debates em Belém terão dois momentos. Um é o de discussão com jovens e, o segundo, com autoridades e convidados considerados estratégicos. “Vimos a necessidade de fazer com que os adolescentes passassem a discutir o importante papel que possuem na mudança da realidade atual”, afirma Celina. “O principal objetivo é proporcionar um momento de reflexão com a juventude sobre todos os fatos que hoje interferem na vida de todas as pessoas e, principalmente, na dos meninos e meninas”.

Serão abordados temas como a criminalização da juventude, a importância de valorização da cultura amazônica, o orçamento público e as políticas para a infância, além do tema direito à imagem e outras questões atuais da Amazônia, como a implantação dos grandes projetos na região. “Essas programações serão norteadas principalmente pelos indicadores sociais que temos hoje. Não se pode esquecer que vivemos momentos importantes dentro da Amazônia, com obras de grande impacto social, como também por um processo de criminalização da juventude que precisa ser melhor refletido pela sociedade dentro de um âmbito de aliança na busca de uma vida com melhores condições para todos e todas”, afirma Celina Hamoy.

Atraso na escola atinge 90% do alunado

Os organizadores da programação informam, ainda, que os índices de educação dos jovens na região Norte só se igualam no Brasil aos do Nordeste. O índice de crianças e adolescentes que estão atrasados na escola é de 89% na região Norte, contra 76% do índice nacional. Participar da vida política, opinar sobre políticas públicas e serem ouvidos em suas reivindicações são direitos já consagrados de crianças, adolescentes e jovens, porém essa é outra área em que os jovens estão invisíveis, acrescentam. Entre os nove estados da Amazônia Legal, nem todos têm conselhos da juventude, e os que têm enfrentam problemas como falta de interesse, recursos escassos e falta de estrutura para funcionamento.

O acesso à informação é outro problema que compromete a participação. Segundo dados do IBGE, enquanto nas demais regiões brasileiras cerca de 50% da população acessa a internet, na região Norte esse número é de apenas 34%. Com educação precária, falta de acesso à informação e participação nula, sobram problemas típicos da ausência de desenvolvimento. Ainda conforme os organizadores do evento, isso pode ser visto nos índices de gestação: na região Norte, quase 10% das adolescentes entre 15 e 17 anos já têm pelo menos um filho. A taxa nacional é de 6% e algumas regiões registram 5%.