“Tudo isso não seria possível sem um comitê gestor competente e voltado para práticas pedagógicas e didáticas”
Hoje escrevo feliz. Eu vi! Eu vi quatro escolas públicas de ensino médio de qualidade. Eu vi, eu visitei essas escolas com um professor e mestrando em sociologia na UFC, Márcio Pessoa. Nós vimos; contrariando todas as certezas acumuladas, escolas públicas de qualidade existem. Conversamos com membros do núcleo gestor, professores, alunos, pais e funcionários. Futricamos o máximo descobrir defeitos, contradições e fraquezas. Nada encontramos que ofuscasse nossos incrédulos olhos e mentes!
O que ocorreu foi o seguinte: O POVO publicou a relação das dez escolas estaduais, públicas portanto, com os melhores resultados no Enem de 2011. A relação e a matéria a ela acoplada nos interessaram sobremaneira e decidimos pesquisar cinco dessas 10 escolas. Encontramos o que não esperávamos encontrar de tanto ouvir falar da má qualidade da escola pública brasileira.
O que vimos? Vimos um ambiente escolar totalmente voltado para a aprendizagem e a formação integral dos alunos, tudo com uma dedicação total de todos que fazem essas escolas. São escolas de tempo integral, das 7 horas da manhã até às 16h40min da tarde, 9 aulas diariamente, portanto, com direito a dever de casa a ser resolvido à noite. Três delas são profissionalizantes. Os professores acreditam na capacidade de aprender dos alunos que, por sua vez, têm certeza de que lograrão entrar em cursos superiores ou seguir uma profissão e encontrar um emprego terminando o terceiro ano de ensino médio.
É entusiasmante a convicção dos alunos na certeza de que demonstram em conseguir passar nos vestibulares da vida, mesmo nas universidades públicas. E as estatísticas estão aí justificando suas convicções. São alunos provenientes de famílias de baixa renda, embora esteja aumentando de ano em ano o número de alunos transferidos de escolas particulares, provocando um salutar encontro de adolescentes de classes sociais diferentes. Se os alunos querem estudar, os professores, por sua vez, querem ensinar e vibram com seu trabalho pedagógico em tempo integral na mesma escola, orgulhosos de “fazer parte desta história”, como disse um professor.
Conjuntamente, os professores planejam seu ensino quatro horas por semana. “Na escola”, disse outro professor, “tudo é pactuado”. Singularidades que fazem diferença: professores e alunos raramente faltam (faltando, avisam ou justificam) e raramente atrasam. As aulas são rigorosamente de 50 minutos. Não há violência nas escolas nem greves nem folgas ou feriados “arranjados”. O estudo é levado a sério e o tempo letivo não é desperdiçado. E, variável importante, essas escolas funcionam de forma disciplinada e organizada, num clima de serenidade logo sentido pelo visitante.
Tudo isso não seria possível sem um comitê gestor eleito competente, presente e totalmente voltado para práticas pedagógicas e didáticas, até na hora do almoço, e, evidentemente, contando com o apoio dos pais. Se há biblioteca e laboratórios, eles são mínimos e deveriam ser ampliados e receber da Secretaria de Educação do Estado um “up grade”, assim como os prédios. Essas escolas indicam um caminho a ser seguido e lançam esperança e fé numa educação pública de qualidade.
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