Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
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“Aboli a palavra gasto para a educação. Cuidar de pobre e da educação não é gasto, é investimento”, afirmou Lula em seu discurso
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, nesta sexta-feira (17), oito títulos de doutor honoris causa, na Argentina. As universidades de Cuyo, San Juan, Córdoba, La Plata, Tres de Febrero, Lanús, San Martín e a Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais homenagearam o ex-presidente em uma cerimônia que aconteceu no Senado argentino.
Em seu discurso, Lula lembrou que o primeiro diploma que desejou foi o de torneiro mecânico, do qual sua mãe tinha muito orgulho. “A emoção ao receber este primeiro diploma foi a mesma ao receber meu segundo diploma, o de Presidente da República”, lembrou ele. Para Lula, os oito títulos recebidos hoje reviveram aquela emoção.
“Esses títulos não são um reconhecimento [apenas] ao Lula, mas a uma década de transformações democráticas que viveu o Brasil, a Argentina e toda América Latina”, disse. Ele lembrou também o papel crucial do “companheiro Néstor Kirchner” neste processo e dedicou a homenagem ao ex-presidente argentino. “Néstor, esses títulos também são para você”.
O ex-presidente Lula falou também da importância da integração latino-americana, um dos focos de trabalho do Instituto que fundou. “Temos que trabalhar juntos, destruindo as barreiras que nos separam e construindo pontes que nos unam”, afirmou. Ele incentivou maior cooperação entre as universidades brasileiras e argentinas e homenageou os professores e alunos das universidades argentinas que lutaram contra a ditadura militar. Lula falou do papel crucial das relações entre Brasil e Argentina para a integração e brincou dizendo que a Argentina só não pode fazer na Copa do Mundo o que o Boca Juniors fez com o Corinthians na última quarta-feira, ou haverá um grande problema para a integração.
Lula terminou seu discurso falando da crise internacional. “Os que hoje estão em crise, sabiam resolver todos os problemas do meu país”, declarou. Ele falou da falta de peso das decisões dos organismos multilaterais e afirmou que “um dos grandes problemas que vivemos hoje é a falta de decisão política, porque faltam líderes políticos”. E terminou apontando uma saída para a crise: “Deem menos dinheiro para salvar os bancos e mais para salvar vidas humanas”.
O senador Daniel Filmus, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Culto do Senado argentino, fez o discurso inicial em que declarou que os títulos estavam sendo entregues a “um homem que lutou contra a adversidade”. Ele também lembrou que é a primeira vez que a Argentina tem 30 anos ininterruptos de democracia. Filmus reconheceu que os argentinos sempre foram ensinados a ter medo do Brasil e que Lula teve um importante papel em desfazer essa imagem. “Hoje, tirando no futebol, não temos grandes disputas”, brincou.
O senador terminou seu discurso falando da importância das lutas pontuais e constantes dos homens e afirmou que Lula é “um homem imprescindível ao Brasil, para os mais humildes, para os que lutam pela paz no mundo, para Argentina e para toda a América Latina”.
Os oito reitores entregaram os certificados dos títulos a Lula e o vice-presidente argentino, Amado Boudou, homenageou Lula com a Menção Honrosa Domingo Faustino Sarmiento. Boudou destacou a importância do desenvolvimento de um corpo de pensamento próprio da América Latina e lembrou a histórica decisão de Lula e Néstor Kirchner de dizer não à Alca e optar por uma integração regional.
Reunião com reitores
Antes da cerimônia, Lula se reuniu brevemente com os reitores das universidades que propuseram os títulos. Lula abriu a reunião falando da honra de receber a homenagem, mas também da responsabilidade que vem com isso. Cada um dos dirigentes universitários falou de suas realidades locais e dos motivos para a escolha do ex-presidente brasileiro. Carlos Ruta, reitor da Universidade de San Martín, disse que Lula é um “símbolo para nossos jovens, que precisam de exemplos de dignidade”. O vice-presidente Amado Boudou falou da importância do ato para a “Luta contra o colonialismo intelectual, que talvez seja o mais profundo colonialismo”. Lula citou duas revoluções da educação brasileira: o Prouni e a aprovação da política de cotas, que permitiram um acesso muito mais democrático à educação.
A Iniciativa América Latina
O governo Lula (2003-2010) promoveu uma remodelação na política externa brasileira, ampliando as trocas comerciais com parceiros diversificados, em todos os continentes. Nesse processo, os países da América Latina e do Caribe desempenharam, desde cedo, papel importante. Enquanto presidente, Lula fez 114 viagens aos países da região, que resultaram num aumento de quatro vezes no saldo comercial com a região, que saltou de cerca de dois bilhões, em 2002, para oito, em 2010. Tanto as importações quanto as exportações aumentaram durante o período de governo Lula.
O Instituto Lula se propõe a trabalhar em prol de uma maior integração latino-americana,uma integração que não se restrinja apenas ao plano comercial e que não seja assimétrica, mas que possa tornar a América Latina e o Caribe um polo de poder, condizente com a nova geopolítica mundial, num planeta que não é mais bipolarizado. Os desafios são inúmeros, e vão desde entraves burocráticos a dificuldades logísticas com a infraestrutura de transportes do continente.
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