Após a divulgação de que os três cursos mais concorridos da USP não têm alunos pretos, os movimentos sociais voltaram a defender a adoção de cotas pela universidade.
“A USP adota a meritocracia injusta. Ela não quer nem saber a história da pessoa do nascimento até o vestibular, se um teve acesso a tudo e se o outro estudou a vida inteira em escola pública com falta de professores e baixa qualidade de ensino. Esse fato só confirma que precisamos de cotas”, afirmou o presidente da ONG Educafro (Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes), frei David.
“É preciso ocorrer a discriminação reversa, que é a política afirmativa. O principal objetivo é incluir uma parcela da população brasileira que está excluída do acesso aos bens de consumo, aos bens educacionais”, assevera Humberto Adami, diretor do Iara (Instituto de Advocacia Racial e Ambiental).
Frei David afirma apoiar a proposta de inclusão do governo estadual, o Pimesp (Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Público Paulista), que tem como meta aumentar para 50% o índice de alunos de escola pública dentro de cada curso das universidades estaduais paulistas, 35% deles pretos, pardos e indígenas, até 2016.
“Nós somos a favor do Pimesp se for mantida a meta de três anos”, explicou.
O projeto tem sido alvo de críticas por prever que o estudante que não for aprovado pelo vestibular faça um curso de até dois anos de duração, inspirado nos “colleges” norte-americanos e ministrado parcialmente a distância, para só então ter direito a uma vaga nas estaduais paulistas.
Para frei David, isso não é um problema. “Tem estudante de escola particular que fica três anos no cursinho para conseguir passar em medicina. Estudar por dois anos para ter sua vaga garantida não é um problema”, considera.
O programa precisa ser aprovado pelo conselho universitário da USP e da Unicamp para passar a valer, a Unesp já aprovou as metas.
Negro ou preto
Sobre a polêmica entre o uso dos termos preto ou negro na classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os movimentos sociais afirmam que a categoria técnica preto não é discriminatória.
“Essa discussão é periférica diante do objetivo de mudar a cor da universidade. O que ocorre é a exclusão da população preta; afrodescendente; preto e parda; ou negra”, afirma Adami, do Iara.
Há divergência entre diferentes grupos sobre a nomenclatura ideal: negro, preto ou afrodescendente.
“A nomenclatura é um assunto em aberto. Estamos de acordo com a classificação técnica do IBGE e para negros, usamos a soma de pretos e pardos”, afirma frei David.
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